Compras fracionadas e ameaças de apagão; conheça a Feira do Livro em Cuba

Com exceção dos livros da Biblioteca do Povo, exemplares são cotados em dólar e sua aquisição é proibitiva para a maioria da população; edição de 2025 tem livro proscrito por Fidel Castro

Roberto de Lira

Havana, Cuba (Foto: REUTERS/Alexandre Meneghini)
Havana, Cuba (Foto: REUTERS/Alexandre Meneghini)

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Poucos lançamentos, preços dolarizados que afugentam clientes, vendas fracionadas e a “estreia” de um livro outrora proibido por Fidel Castro. Essa é a fotografia da 33ª Feira do Livro de Havana, que já foi considerada o grande evento cultural de Cuba. O encontro, que se estende até o dia 25, ainda sofre neste ano pelas constantes ameaças de apagões (alguns durando 24 horas), fruto da extrema crise de desabastecimento pela qual o país passa.

Segundo informações do site 14yMedio, criado pela ativista Yoani Sánchez, as centenas de pessoas que se dispuseram a comparecer à Feira neste sábado pegaram grandes filas no transporte público e também nas tendas com os itens a disposição.

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O evento acontece, principalmente, no complexo Morro-Cabaña, que reúne duas fortalezas coloniais, cujas muralhas foram usadas por três séculos como muro de fuzilamento e prisão. Dezenas de militares uniformizados faziam a segurança do local ontem.

Segundo o site, as diretrizes da Feira eram claras: para encher os pavilhões, os depósitos do Instituto Cubano do Livro tinham que ser “raspados” em busca de exemplares impressos há décadas. Novidades, somente aquelas que são vendidas por particulares, com a ajuda das “mulas” que atuam nos mercados paralelos.

Curiosamente, a estrela da feira é o livro Contos Negros de Cuba, da etnóloga Lydia Cabrera, que foi censurado pelo regime de Fidel Castro durante décadas. A obra é uma antologia de lendas afro-cubanas publicada pela primeira vez na ilha em 1940. Como passou a fazer parte da “Biblioteca do Povo”, um exemplar do livro pode ser comprado por 50 pesos (quase R$ 12,00).

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Há outro livros que não trazem interesse, como as “cópias modelo” com memórias de generais ou antologias de Fidel Castro.

Mas muita gente aproveita para adquirir material escolar para as crianças. Este ano, é possível comprar 10 cadernos por 250 pesos (quase R$ 60), desde que a pessoa aguente ficar em filas de cerca de uma hora.

No pavilhão de best-sellers, no entanto, a língua falada é a do dólar. Um romance do autor americano Stephen King ou um volume de Harry Potter – assim como inúmeros exemplares de autoajuda – podem custar quase US$ 40. O detalhe é que não são lançamentos – alguns dos livros já foram lançados há décadas.

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(Com 14yMedio)