Colômbia corre o risco de repetir os custosos erros fiscais do Brasil

Diante da necessidade de equilibrar seus orçamentos, tanto Petro quanto Lula revelaram planos para aumentar a receita do governo sem cortar gastos

Bloomberg

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião restrita com o Presidente da República da Colômbia, Gustavo Petro, na Casa de Nariño – Bogotá, Colômbia. (Ricardo Stuckert / PR)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião restrita com o Presidente da República da Colômbia, Gustavo Petro, na Casa de Nariño – Bogotá, Colômbia. (Ricardo Stuckert / PR)

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(Bloomberg) — Colômbia e Brasil são ambos governados por presidentes de esquerda com agendas sociais ambiciosas. Agora, as nações vizinhas da América Latina têm algo mais em comum: crescentes temores dos investidores sobre as finanças governamentais.


Nos dois primeiros anos de seus mandatos, Gustavo Petro e Luiz Inácio Lula da Silva adotaram táticas semelhantes para impulsionar suas economias. Cada um deles confiou em gastos deficitários para cumprir promessas de campanha no momento em que a inflação se tornou um problema global. E cada um deles atacou seus bancos centrais independentes por aumentarem as taxas de juros, alimentando a preocupação sobre a interferência do governo na política monetária.

Diante da necessidade de equilibrar seus orçamentos, tanto Petro quanto Lula revelaram planos para aumentar a receita do governo sem cortar gastos. Nenhum deles anunciou medidas de austeridade até que todo o resto falhasse — e, no caso do Brasil, era tarde demais.

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Enquanto o peso e o real enfraqueceram conforme as preocupações fiscais aumentaram este ano, a moeda colombiana até agora evitou a venda de pânico vista nos mercados brasileiros nas últimas semanas. Em uma tentativa de evitar isso, o banco central da Colômbia surpreendeu os economistas na sexta-feira ao desacelerar sua campanha de corte de juros.

O Brasil, a maior economia da região, agora está servindo como um conto de advertência para outros países que lutam para controlar as cargas de dívida que aumentaram durante a pandemia de Covid.

Com o governo de Petro emitindo um orçamento por decreto após não conseguir a aprovação do Congresso para seus planos, o presidente colombiano corre o risco de seguir o mesmo caminho de Lula.

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“Está claro que a Colômbia precisa fazer cortes de gastos mais agressivos”, disse Andres Pardo, estrategista da XP Investimentos, em entrevista. “Os anunciados pelo governo também serão insuficientes, como no Brasil.”

O orçamento decretado está subfinanciado em 12 trilhões de pesos (US$ 2,7 bilhões), ou a receita que a Petro esperava arrecadar por meio de aumentos de impostos direcionados que os legisladores rejeitaram. Mas isso é 40 trilhões de pesos a menos do ajuste fiscal que um órgão fiscalizador independente do orçamento diz ser necessário para que a Colômbia alcance sua meta de déficit equivalente a 4,7% do produto interno bruto.

Com o governo agora na segunda metade de seu mandato de quatro anos e buscando mercados de títulos para financiar suas ambições, a gestão das finanças públicas de Petro está sob crescente escrutínio. Embora a receita tributária tenha consistentemente ficado aquém das expectativas, o Ministro das Finanças Diego Guevara insiste que a administração tomará as medidas necessárias para garantir a sustentabilidade fiscal e manter a confiança do mercado. 

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“Os pagamentos do serviço da dívida serão muito maiores do que os investimentos orçamentários e isso é sinônimo de responsabilidade fiscal”, disse Guevara aos repórteres na sexta-feira após a decisão do banco central. “É por isso que os mercados continuam acreditando em nós e esse será o sinal que continuaremos enviando.”

No entanto, os investidores podem exigir mais do que promessas de sustentar as contas públicas. Lula desencadeou uma debandada do mercado que durou semanas no Brasil após anunciar um plano para cortar 70 bilhões de reais (US$ 11,3 bilhões) em gastos públicos, juntamente com incentivos fiscais para famílias de baixa renda. Mesmo com o Ministro da Fazenda Fernando Haddad prometendo contenção, isso pareceu confirmar os temores de que seu governo estava disposto a continuar gastando para sustentar as famílias, mesmo que isso alimentasse ainda mais a inflação e a dívida pública.