Cofundador do Ethereum diz que pessoas cobravam para facilitar reunião com Milei

O bilionário Charles Hoskinson diz ter ido a Buenos Aires para ter uma conversa com o presidente argentino, mas descobriu que a reunião só aconteceria se pagasse

Estadão Conteúdo

Publicidade

O bilionário norte-americano Charles Hoskinson, cofundador das criptomoedas Ethereum (ETH) e Cardano (ADA), afirmou que pessoas em um evento em Buenos Aires pediram dinheiro para facilitar um encontro dele com o presidente da Argentina, Javier Milei, em outubro do ano passado. As declarações foram feitas por Hoskinson em uma transmissão ao vivo no seu perfil no X, antigo Twitter, na noite deste sábado (15).

Milei está no centro de uma polêmica, após promover a recém-criada criptomoeda $LIBRA nos seus perfis do Instagram e do X. Em um post, que foi apagado após a repercussão, o presidente argentino afirmou que a $LIBRA seria dedicada a financiar pequenas e médias empresas na Argentina. Poucas horas após a publicação, a criptomoeda teve uma valorização e desvalorização repentina.

Hoskinson disse que foi abordado por pessoas que conheceu “ao longo do caminho” no Tech Forum, evento que reúne empreendedores do setor tecnológico e contou com a participação de Milei. O bilionário foi a Buenos Aires motivado por uma promessa de que teria uma conversa a sós com o presidente argentino, contudo, ao chegar no Tech Forum, descobriu que a reunião só aconteceria se pagasse por ela.

“Conhecemos muitas pessoas ao longo do caminho e elas nos dizem: “você sabe, você nos dá algo e podemos marcar uma reunião. Coisas mágicas podem acontecer”, declarou o empresário no vídeo, enquanto fazia um gesto de dinheiro com os dedos.

Hoskinson afirmou que rejeitou a proposta, porque seria uma violação da Foreign Corrupt Practices Act (Lei de Práticas de Corrupção no Exterior na tradução do inglês). “E, de repente, eles pararam de falar conosco”, destacou.

Ao longo da transmissão, que durou cerca de 14 minutos, o norte-americano defendeu a inocência de Milei. Ele acredita que pessoas próximas ao presidente argentino tenham se aproveitado da falta de conhecimento dele em relação ao mercado das criptomoedas para “ganhar muito dinheiro”.

Continua depois da publicidade

“Eles basicamente o deixaram para limpar a bagunça depois que fugiram”, disse. “Fico muito triste que esse seja o resultado, e apenas um evento causará muitos danos políticos a ele”, completou o empresário.

Fundador da $LIBRA também estava no evento citado por Hoskinson

O singapurense Julian Peh, CEO da Kip Network, uma das empresas por trás da criação da $LIBRA, também esteve no Tech Forum, de acordo com o jornal argentino La Nacion.

Na época, Peh chegou a postar uma foto com Milei e disse que teve “a honra de conversar em profundidade” com o presidente argentino. “Temos algo grande sendo preparado para a Argentina e a América Latina, portanto, fique atento a este espaço”, comentou o empresário na legenda da foto.

Continua depois da publicidade

Milei disse que não sabia dos detalhes sobre a $LIBRA

Após a postagem de Milei, a $LIBRA começou a se valorizar de forma muito rápida e atingiu valor próximo a US$ 5 mil (quase R$ 28,5 mil de acordo com a última cotação) em poucas horas. Segundo o La Nacion, cerca de 80% dos ativos da criptomoeda estavam nas mãos dos desenvolvedores.

Com a disparada motivada pelo alto volume de investimento na $LIBRA, os desenvolvedores passaram a vender seus ativos, o que fez com que a moeda perdesse praticamente todo seu valor. Ainda de acordo com o “La Nacion”, o volume de recursos movimentados pelas compras e vendas chegou a US$ 4,5 bilhões no intervalo de duas horas.

Após a repercussão, Milei apagou a sua publicação sobre a $LIBRA. No início, defensores chegaram a acreditar que o perfil dele tivesse sido alvo de fraude ou ação de algum hacker, mas a assessoria do presidente afirmou que ele, de fato, tinha feito a publicação.

Continua depois da publicidade

No X, Milei disse que não estava por dentro dos detalhes do projeto, e que, depois de entender melhor, decidiu não divulgá-lo mais. “Para os ratos imundos da casta política que querem se aproveitar dessa situação para causar danos, gostaria de dizer que cada dia confirma o quão baixos são os políticos e aumenta nossa convicção de expulsá-los”, completou.

Oposição pede investigação e já fala em impeachment

A oposição não demorou a pressionar por investigação e já cogita até mesmo um impeachment do presidente argentino. Deputados do bloco União pela Pátria, liderado pelo peronismo, começaram a preparar o pedido para derrubar o presidente, chamando o caso de “escândalo sem precedentes” e “fraude em criptomoedas”.

Mesmo o ex-presidente Mauricio Macri, aliado ao governo, compartilhou nas redes um documento do partido que fundou, o PRO, que expressa preocupação com o escândalo, enfatizando que o caso “afeta a credibilidade do País” e deve ser investigado minuciosamente. Contudo, o comunicado ressalta que o movimento não é favorável a um julgamento político no caso.

Continua depois da publicidade

Em meio às pressões da oposição e à repercussão do caso na imprensa argentina, o governo argentino anunciou, na noite do sábado, que instalaria uma “investigação urgente” sobre o caso. A presidência argentina anunciou que, “à luz dos acontecimentos, Milei decidiu encaminhar imediatamente o assunto ao Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente”.

O comunicado divulgado pelo governo também anunciou a criação de uma “Força-Tarefa Investigativa” na órbita do presidente, encarregada de “iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou pessoas envolvidas nesta operação”.