Cerco à embaixada da Argentina foi plano para que opositor saísse da Venezuela

Jornal argentino Clarín ouviu fonte da diplomacia brasileira que comentou sobre a pressão que o governo fez sobre o oposicionista para enfraquecer resistência ao regime

Roberto de Lira

O ex-candidato da oposição, Edmundo González, segura registros eleitorais durante protesto em Caracas, na Venezuela 30/07/2024 (Foto: Gaby Oraa/Reuters)
O ex-candidato da oposição, Edmundo González, segura registros eleitorais durante protesto em Caracas, na Venezuela 30/07/2024 (Foto: Gaby Oraa/Reuters)

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O cerco da embaixada argentina na Venezuela e a ameaça do regime de Nicolás Maduro de revogar a autorização dada ao Brasil para representar os interesses argentinos no país fez parte de uma estratégia do governo local para pressionar o oposicionista Edmundo González Urrutia a aceitar o exílio na Espanha. A informação é do jornal argentino Clarín, citando uma “alta fonte da diplomacia brasileira”.

Segundo a reportagem, o plano teve uma participação decisiva do ex-presidente espanhol José Luís Rodríguez Zapatero, muito próximo do chavismo. “Usaram a embaixada argentina sob a proteção do Brasil como parte de uma enorme pressão sobre González Urrutia para convencê-lo a abandonar o país”, disse à fonte ao jornal.

O ex-candidato à presidência da Venezuela estava refugiado em segredo e protegido na embaixada da Holanda. Ele se manteve na clandestinidade e ignorou publicamente convocações da Justiça para prestar esclarecimentos. Por isso, o governo teria decidido aumentar a pressão e usar a ameaça de invadir a embaixada argentina.

Para fonte brasileira, a operação foi de uma audácia notável, embora sem nenhuma ética,  armada para que o resultado buscado fosse um triunfo para o regime.

A fonte disse que o Brasil ficou surpreso com o fato que Zapatero tenha conseguido envolver o governo da Espanha na manobra, que teve todas as marcas do ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, que considerou um triunfo político do regime a expulsão do principal desafiante ao suposto triunfo eleitoral de Nicolás Maduro na eleição presidencial de 28 de julho..

A intenção do regime seria debilitar a liderança da oposição e gerar uma frustração nas bases da dissidência para reduzir os protestos.

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Um indício de que a operação foi coordenada foi que o assédio à embaixada argentina foi reduzido após a saída de González Urrutia. A energia foi reconectada à noite, por exemplo.

Segundo a fonte, em nenhum momento o Brasil descartou a possibilidade de que a sede diplomática argentina fosse invadida e que os seis políticos asilados que se encontraram ali fossem presos. “Houve uma reação diplomática firme de nossa parte” e “tudo terminou quando González Urrutia aceitou partir”.

Segundo o jornal espanhol El País, a operação diplomática que levou ao asilo de Edmundo González estava em andamento há duas semanas.

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Na sexta-feira, o presidente espanhol Pedro Sánchez chamou Edmundo de “herói” numa reunião interna de seu partido, o PSOE, e disse  que a justiça chavista o estava perseguindo por cinco crimes inconsistentes, garantindo que a Espanha não iria abandoná-lo.

Naquela época, o governo espanhol já sabia o opositor de Maduro estava perto de tomar uma decisão. No último sábado, enquanto os salvo-condutos estavam sendo preparados para que ele pudesse chegar ao aeroporto e deixar o país sem ser detido pelas autoridades, um avião militar espanhol estava esperando na República Dominicana para transferi-lo o mais rápido possível para Madri.