Publicidade
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que vai tomar posse para seu segundo mandato à frente da Casa Branca no dia 20 de janeiro, tem aproveitado as últimas semanas para externar desejos imperialistas que causam preocupações nas relações com alguns países.
Ele já sugeriu anexar o Canadá, que passaria a ser o 51º estado americano, falou em comprar a Groenlândia por questões se segurança nacional e até opinou sobre retomar o controle do Canal do Panamá.
Groenlândia pode se tornar independente, mas não será estado dos EUA, diz Dinamarca
Trump disse que não descartaria o uso de ações militares ou econômicas para tornar a ilha governada pela Dinamarca parte dos Estados Unidos
Trump posta mapas com Canadá anexado aos EUA
Presidente eleito dos EUA propôs a transformação do Canadá no 51º estado norte-americano utilizando a “força econômica”
Além da pergunta de onde vêm essas ideias, estão surgindo questionamentos sobre se isso seria possível – dadas as negativas das outras partes envolvidas – e sobre quais os impactos tanto internos como externos dessas desejadas ampliações do território dos EUA.
O InfoMoney compilou algumas das possíveis respostas. Veja:
Canadá
Falando na terça-feira (7) a repórteres em sua residência na Flórida, Trump sugeriu novamente transformar o Canadá no 51º estado norte-americano por meio da “força econômica”, reforçando que a união entre Canadá e Estados Unidos seria “algo muito grande”. Trump também afirmou que a fronteira entre os dois países é “artificialmente traçada”.
Segundo o site The Hill, especializada na política americana, a ideia de uma união entre os EUA e o Canadá remonta a séculos, quando os primeiros líderes americanos invadiram Quebec durante a Revolução Americana. Algumas décadas depois, os EUA invadiram o Canadá sem sucesso durante a Guerra de 1812, em meio à frustração com os movimentos da Marinha Real para trazer marinheiros americanos para seus próprios navios.
Continua depois da publicidade
Depois desse conflito, os temores de anexação e invasão continuaram durante a Guerra Civil (1861-1865) e em meio à pressão dos EUA por expansão e da doutrina “Destino Manifesto”, que motivou a expansão para o Oeste. A ideia de incluir os territórios ao Norte era que os EUA estavam destinados a controlar o continente.
Mas esses temores terminaram quando as duas nações se tornaram aliadas no século XX, explicou ao site Duane Bratt, professor de ciência política da Mount Royal University. Tanto que os países são parceiros no Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD) e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Uma pesquisa recente da Leger, citada pelo The Canadian Press, descobriu que 82% dos canadenses se opõem à ideia de ingressar nos EUA como o próximo estado. Outra pesquisa, feita em outubro, descobriu que cerca de dois terços dos canadenses apoiavam a vice-presidente democrata Kamala Harris na última eleição e que apenas 21% tinham simpatia por Trump.
Continua depois da publicidade
O site Político destaca que uma união desse tipo seria ironicamente benéfica para o Partido Democrata, uma vez que a maior chance é que o Canadá se tornasse um estado “azul” na política americana, com mudanças até no Colégio Eleitoral.
No Senado, Canadá teria dois representantes, com pouca dúvida de que eles seriam democratas. Na Câmara, caso fosse mantido o número atual de 435 cadeiras, o Canadá teria direito a 45 assentos, apenas um a menos que a Califórnia, com 46 cadeiras. Esses número, é preciso explicar, pouco influiriam na última eleição, dada a vantagem obtida por Trump sobre Harris.
Mas, numa anexação, antes de tudo seria preciso resolver uma difícil condição interna do vizinho do Norte: o Canadá é uma monarquia constitucional e está dividido em 10 províncias.
Continua depois da publicidade
“Pode parecer que o Canadá e os Estados Unidos têm muito em comum, mas um quarto do Canadá fala francês, e a província de Quebec ainda não faz parte da Constituição canadense. Eles não querem fazer parte da Constituição americana”, lembra Matthew Lebo, professor de ciência política da Universidade de Western Ontario e professor visitante da Universidade McGill.
Groenlândia
Sobre a anexação da Groenlândia, a CNN destaca que há muito tempo a região é vista como fundamental para a segurança dos EUA, especialmente para repelir um possível ataque vindo da Rússia, conforme relata Ulrik Pram Gad, pesquisador sênior do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais.
O acadêmico destaca que a rota marítima da Passagem do Noroeste corre ao longo de sua costa e a ilha faz parte da lacuna Groenlândia-Islândia-Reino Unido, uma região marítima estratégica.
Continua depois da publicidade
A Groenlândia é a maior ilha do mundo e abriga mais de 56.000 pessoas. A Dinamarca é dona da ilha há alguns séculos, mas gradualmente concedeu maior autonomia ao poder local.
A Groenlândia votou pelo autogoverno em 2008, recebendo o controle dos assuntos domésticos, enquanto a Dinamarca mantém a responsabilidade pelos assuntos externos, incluindo sua defesa.
Como curiosidade, sua capital, Nuuk, fica mais perto de Nova York do que da capital da Dinamarca, Copenhague.
Continua depois da publicidade
A CNN destaca que Trump não foi o primeiro presidente dos EUA a lançar a ideia de comprar a Groenlândia. Em 1867, quando o presidente Andrew Johnson comprou o Alasca, ele também considerou adquirir a Groenlândia.
Já no final da Segunda Guerra Mundial, a ideia permanecia viva e o governo de Harry Truman ofereceu à Dinamarca US$ 100 milhões pela ilha, de acordo com documentos relatados pela mídia dinamarquesa.
Nenhuma das ofertas se concretizou, mas sob um tratado de defesa de 1951, os EUA conseguiram instalar uma base aérea, chamada de Base Espacial Pituffik, no noroeste da ilha. A meio caminho entre Moscou e Nova York, esse é o posto avançado mais ao norte das forças armadas dos EUA e está equipado com um sistema de alerta de mísseis.
Em 2019, no primeiro mandato, Trump mencionou o tema pela primeira vez como uma possibilidade, supostamente propondo que a Dinamarca aceitasse trocar a Groelândia por Porto Rico.
Nesta semana, Trump comentou que a ilha é crucial para os esforços militares para rastrear navios chineses e russos, que ele disse estarem “em todo lugar”.
Outro interesse envolvido, destaca a britânica BBC, é que a ilha possui alguns dos maiores depósitos de minerais de terras raras, que são cruciais na fabricação de baterias e dispositivos de alta tecnologia.
Mas nesta quarta-feira (8) ministro dinamarquês das Relações Exteriores, Lars Lokke Rasmussen, disse que a Groenlândia pode até se tornar independente se seus moradores quiserem, mas que não se tornará um estado dos Estados Unidos.
Panamá
A outra proposta polêmica de Donald Trump é retomar o controle do Canal do Panamá. Primeiro, o futuro presidente americano acusou o Panamá de cobrar tarifas demasiadamente altas dos navios dos EUA para usar a hidrovia, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. Depois, destacou que o canal, que é vital para seu país, que “está sendo operado pela China”.
Na verdade, uma empresa com sede em Hong Kong, a CK Hutchison Holdings, administra dois portos nas entradas do canal. O presidente panamenho, José Raúl Mulino, rejeitou as alegações de Trump e disse que não há “absolutamente nenhuma interferência chinesa” no canal.
O canal foi construído no início de 1900 e os EUA mantiveram o controle sobre o local até 1977, quando tratados negociados pelo presidente Jimmy Carter gradualmente cederam a terra de volta ao Panamá.
O site The Hill destaca que, os presidentes americanos desde Dwight D. Eisenhower se preocupavam com a segurança da hidrovia e que o canal tornou-se um alvo à medida que as forças revolucionárias na América Central ameaçavam cada vez mais os interesses vitais dos americanos.
Mas um especialista disse ao site que, tanto o governo como Congresso dos EUA cederam à realidade pragmática de que o canal poderia ser fechado se forças nacionalistas extremas decidissem sabotar suas operações. O canal e suas muitas eclusas seriam presas fáceis para terroristas ou para um governo hostil.
Assim, hoje o Canal do Panamá é uma via navegável internacional utilizada por navios de todas as nações. Uma mostra de sua importância é que, se companhias de navegação não quiserem pagar a taxa estabelecida, a opção é fazer uma rota muito mais longa e cara ao redor do Cabo Horn.
Portanto, os preços de trânsito são definidos por esse cálculo tradicional de oferta e demanda embora, como em outras transações de capital, a manipulação de preços seja possível. Mas essas disputas podem ser resolvidas apelando para a Autoridade do Canal do Panamá.
Um dado relevante é que a região tem sofrido muito com as mudanças climáticas, com os lagos que ajudam a controlar os níveis das águas sofrendo secas frequentes, lembra o G1, o que obrigou o governo do Panamá a limitar o trânsito de navios. Isso para equilibrar as necessidades de abastecimento de água da população.