Cabe a governo da Venezuela provar que Maduro venceu eleição, diz Celso Amorim

"Nós estamos decepcionados com a demora do Comitê Nacional Eleitoral em publicar os dados", disse Amorim em entrevista

Reuters

Venezuelanos protestam em Brasília contra resultado da eleição presidencial no país 01/08/2024. REUTERS/Adriano Machado
Venezuelanos protestam em Brasília contra resultado da eleição presidencial no país 01/08/2024. REUTERS/Adriano Machado

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(Reuters) – O embaixador Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse em entrevista que foi ao ar na noite de quinta-feira que cabe ao governo da Venezuela provar que o atual presidente do país, Nicolás Maduro, venceu a eleição presidencial realizada no último domingo.

Em entrevista à RedeTV!, Amorim, que já foi ministro das Relações Exteriores e acompanhou in loco a eleição venezuelana por determinação de Lula, disse que o governo brasileiro está “decepcionado” com a demora na publicação das atas das seções eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela e afirmou que as autoridades venezuelanas precisam divulgar esses documentos.

“Nós estamos decepcionados com a demora do Comitê Nacional Eleitoral em publicar os dados”, disse Amorim na entrevista.

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A oposição venezuelana, liderada pelo candidato Edmundo González, contesta os resultados oficiais anunciados pelo CNE, segundo os quais Maduro venceu com 51% dos votos, ao mesmo tempo que afirma que foi González o candidato mais votado no pleito.

O conselho eleitoral da Venezuela proclamou Maduro, que está no poder desde 2013, como vencedor da eleição. Mas a oposição afirma que sua contagem de cerca de 90% dos votos mostra González com mais do que o dobro do apoio em relação ao atual mandatário, patamar similar ao de pesquisas independentes que foram conduzidas antes da eleição.

A oposição divulgou atas detalhadas em um website, mas o governo até agora não compartilhou informação alguma além de uma contagem total e nacional dos votos de cada candidato.

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O governo brasileiro não reconheceu nem a alegação de vitória de Maduro nem a posição da oposição de que foi a vencedora e tem insistido na necessidade da publicação das atas eleitorais, adotando por ora uma postura neutra ao lado de México e Colômbia. Os presidentes desses três países são tradicionalmente amigáveis a Maduro.

Os Estados Unidos, críticos do atual governo venezuelano, por sua vez afirmam que Maduro deve reconhecer que González venceu.

“Em qualquer país o ônus da prova está em quem acusa, mas no caso da Venezuela, o ônus da prova está em quem é acusado ou em quem é objeto de suspeição. E eu acho que, de fato, em função de tudo o que já aconteceu, de todo o quadro político, há uma expectativa de que a Venezuela possa provar, o governo venezuelano possa provar a votação que ele alega ter tido”, disse Amorim na entrevista.

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“A dúvida é se a contagem realmente corresponde às atas, então eles têm que mostrar as atas. Eu perguntei isso ao presidente Maduro na presença do presidente da Assembleia, e ele disse que era uma questão de dois ou três dias”, acrescentou o ex-chanceler.

Em resposta às críticas sobre o processo eleitoral, a Venezuela expulsou diplomatas de Argentina e outros cinco países: Chile, Costa Rica, Panamá, República Dominicana e Uruguai.

Caracas e Lima também expulsaram os respectivos diplomatas do outro país após o Peru reconhecer González como presidente-eleito da Venezuela.

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A polêmica eleição levou a protestos mortais. Maduro e seus aliados nas forças armadas denunciam uma suposta tentativa de golpe.

A Human Rights Watch afirmou na quarta-feira que recebeu a informação de 20 mortes ocorridas em manifestações após as eleições. Houve mais de 1.200 detenções de manifestantes, disse Maduro nesta quinta-feira, e o governo tenta efetivar outras mil.