Sob hiperinflação, Argentina prepara plano para ‘congelar’ preços dos alimentos

Medida deverá atingir outros produtos como bebidas, itens de higiene e limpeza

Dhiego Maia

Bandeira da Argentina (Shutterstock)
Bandeira da Argentina (Shutterstock)

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A Argentina prepara um plano de estabilização de preços, que deverá “congelar” os valores de produtos mais consumidos pela população. As regras estão sendo estudadas pelo ministério da Economia, chefiado por Sergio Massa.

A medida deverá atingir produtos como alimentos, bebidas, itens de higiene e limpeza. Massa informou à imprensa local que o “congelamento” de preços começaria em dezembro e seguiria até março de 2023.

Os argentinos que constatarem aumento de preço, assim que a medida passar a valer, terão à disposição um aplicativo que será criado pelo governo para informar, de forma ampla e oficial, o preço “congelado” dos produtos.

Nesse mesmo canal, a população poderá denunciar as empresas que descumprirem a norma e até digitalizar o código de barras do item que desrespeitar a nova regra.

O valor de diferentes produtos no país está subindo num ritmo mais rápido, desde a década de 90, devido a problemas causados pela impressão de dinheiro e ciclos viciosos de aumento de preços por empresas, agravados por aumentos globais nos custos de fertilizantes para agricultura e importação de gás.

O “congelamento” de preços não é uma novidade na Argentina. Ele foi usado por governos anteriores, inclusive, do ex-presidente liberal Mauricio Macri (2015-2019).

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População vasculha lixões

Argentinos estão enfrentando taxa de inflação superior a 100% este ano. Para sobreviver, é recorrente a presença de pessoas vasculhando lixões em busca de reciclados ou fazendo fila para trocar pertences em clubes de troca.

O país deve registrar o maior aumento nos preços este ano, desde um período de hiperinflação por volta de 1990, um caso extremo que vem sendo impulsionado pela invasão russa à Ucrânia.

“Minha renda não é mais suficiente”, disse Sergio Omar, que passa 12 horas por dia vasculhando montanhas de lixo de um aterro sanitário em Lujan, a 65 quilômetros da capital Buenos Aires, em busca de papelão, plástico e metal para vender.

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Omar, de 41 anos, afirmou que os custos dos alimentos aumentaram tanto nos últimos meses que ficou difícil alimentar sua família de cinco filhos. Ele disse que um número crescente de trabalhadores informais vai ao depósito de lixo para encontrar qualquer item que possa vender na luta pela sobrevivência.

“O dobro de pessoas está vindo aqui porque há muita crise”, disse ele, explicando que pode ganhar entre 2 mil e 6 mil pesos (US$ 13 a US$ 40) por dia vendendo lixo reciclável.

Há um século, a Argentina era um dos países mais ricos do mundo. Mas, nos últimos anos, passou de uma crise econômica para outra e tem lutado para manter a inflação sob controle.

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Os níveis de pobreza foram superiores a 36% no primeiro semestre de 2022 e a pobreza extrema subiu para 8,8%, cerca de 2,6 milhões de pessoas. Os programas de bem-estar do governo ajudaram a evitar que ela subisse mais, mas ainda há alguns pedidos de mais gastos sociais, apesar dos fundos estatais limitados.

Em 2001, durante uma das piores crises econômicas da Argentina, Sandra Contreras criou o “Lujan Barter Club”. A entidade está decolando novamente, pois os argentinos, incapazes de acompanhar os preços, procuram trocar itens como roupas velhas por um saco de farinha ou macarrão.

“As pessoas chegam muito desesperadas, seus salários não são suficientes, as coisas estão piorando a cada dia”, disse Contreras, acrescentando que elas começam a fazer fila duas horas antes da abertura do clube de trocas, todas as manhãs.

(Com informações da Reuters)

Dhiego Maia

Subeditor de Finanças do InfoMoney. Escreve e edita matérias sobre carreira, economia, empreendedorismo, inovação, investimentos, negócios, startups e tecnologia.