A procura por seguro rural no Brasil triplicou nos últimos cinco anos, segundo levantamento da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), impulsionado pelo subsídio dos governos e com produtores buscando maior proteção devido às adversidades climáticas que afetaram as safras em temporadas recentes.
A arrecadação do seguro rural atingiu R$ 12,6 bilhões entre janeiro a novembro de 2022, uma alta de 40% na comparação com 2021 e de 194% contra mo mesmo período de 2018 (quando o setor arrecadou R$ 4,28 bilhões).
O subsídio do governo ao seguro rural aumentou nos últimos anos e permitiu que o mercado crescesse, o que estimulou a contratação pelos produtores.
“É evidente que a subvenção é o alicerce do mercado de seguros, e uma maior procura dos segurados faz também com que a subvenção venha a diluir o custo financeiro deles — seja subvenção federal, concedida pelo governo federal, seja subvenções estaduais”, disse o vice-presidente da comissão de seguro rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Daniel Nascimento.
Outro fator que aumentou a arrecadação do seguro rural foram as quebras de safra dos últimos anos, que elevaram os gastos com indenizações — o que resulta em prêmios mais caros nos anos seguintes (veja mais abaixo). O mesmo fenômeno tem sido registrado nos seguros de automóveis, por exemplo, com a falta de peças e o aumento nos preços dos carros novos.
“O que a gente percebe no mercado é que a percepção de risco do produtor está maior, principalmente pelas perdas ocorridas no último ano”, afirma Nascimento. Ele diz que, além da quebra da safra de soja no ano passado, os produtores também tiveram perdas por geadas em 2021, como foi o caso de quem planta milho ou cultiva café nas regiões Sul e Sudeste.
Subsídios ao seguro rural
O governo federal concedeu pouco mais de R$ 1 bilhão em 2022 para subsidiar o seguro rural (contra R$ 1,15 bilhão em 2021), o que mostra um interesse do produtor em segurar sua safra apesar de uma queda no subsídio dado pelo governo.
O vice-presidente da comissão de seguro rural da FenSeg diz que a demanda do mercado pela subvenção no ano passado era ainda maior, de algo próximo a R$ 1,7 bilhão. Em 2018, o subsídio foi de “apenas” R$ 370 milhões.
O novo ministro da Agricultura, Cárlos Fávaro (PSD), afirmou nesta semana à agência de notícias Reuters que o seguro rural será uma das prioridades de sua gestão. A Fenseg, por sua vez, diz que está atenta às iniciativas governamentais, inclusive nos estados, para manter o crescimento no segmento.
Apesar do aumento do seguro nos últimos anos, a proporção entre a área plantada e a segurada é de 15% no Brasil, índice baixo quando comparado ao de outros importantes produtores agrícolas, como Estados Unidos (cerca de 90%) e China (perto de 65%), segundo dados citados por Nascimento.
RS e PR lideram procura
Isso mostra o potencial do mercado brasileiro para as seguradoras, mas também indica riscos elevados para o setor de seguros, pois o clima tem castigado safras de soja, milho, cana e café nos últimos anos.
A região Sul do Brasil foi a que liderou a procura pelo seguro rural em 2022, no acumulado até novembro. No ranking da proporção entre a área plantada e a segurada, os líderes são Rio Grande do Sul (19,1%) e Paraná (17,7%), seguidos por São Paulo (15,7%), Goiás (9,3%) e Mato Grosso do Sul (8,7%). Juntos, esses estados representaram 70,5% da arrecadação nacional no período.
O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, afirma que o seguro rural é fundamental para a agricultura brasileira e que os produtos estão disponíveis para agricultores que seguem as boas práticas de manejo, como zoneamento agrícola, além da adequada correção de solo, adubação e controles fitossanitários.
Indenizações também disparam
Se mais produtores têm buscado se proteger das intempéries, as quebras recentes de safras resultaram em um forte aumento nos pagamentos das indenizações: elas subiram de R$ 1,95 bilhão em 2018 para R$ 10,3 bilhões em 2022, Na comparação com 2021, a alta é de 78,6%.
Com isso, pela primeira vez na história as indenizações do seguro rural superaram os R$ 10 bilhões.
Diante das quebras de safra, a Brasilseg (líder em seguros do agronegócio, com cerca de 60% do mercado), planeja dividir o risco de suas apólices com mais resseguradoras. A declaração foi dada pelo CEO da Brasilseg, Rogério Idino, no começo do mês.
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