Reconstrução do RS: como reerguer a própria vida depois da tragédia?

Além do Auxílio Reconstrução, as vítimas das enchentes podem contar com o apoio de iniciativas da sociedade civil

Carla Carvalho

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Com o recuo do nível dos rios, o número de famílias que estão deixando os abrigos no RS tem aumentado a cada dia. Segundo informações da Defesa Civil regional, de um total de quase 38 mil acolhidos, cerca de 2 mil pessoas partiram dos abrigos nos primeiros dias de junho. 

Mas, em muitos casos, é impossível retomar a normalidade da vida, seja pela destruição da casa, pela perda do emprego ou mesmo pelo trauma da catástrofe que voltou a atingir o estado em menos de seis meses da última enchente.

No dia 4 de junho, a Caixa Econômica Federal começou a pagar o segundo lote do Auxílio Reconstrução, benefício de R$ 5,1 mil dado pelo governo federal às vítimas das chuvas no estado. Nessa fase, o programa deverá alcançar cerca de 47 mil famílias.

Para receber o Auxílio Reconstrução, é preciso acessar o site do programa e clicar na opção “Sou Cidadão”, à direita da tela. Os depósitos ocorrerão conforme o envio dos dados pelas prefeituras e confirmação por parte das famílias. A expectativa do governo é de que os pagamentos comecem a ser feitos ainda em junho.

Embora muito importante, o Auxílio Reconstrução está longe de ser suficiente para amparar quem perdeu tudo. Segundo Danielle Calazans, Secretária de Planejamento, Governança e Gestão do RS, o estado já mapeou o estrago causado pelas chuvas. Em entrevista à CNN, declarou que, além da população diretamente atingida, foram identificados 116 mil CNPJs que não têm condições de abrir as portas novamente.

Enquanto isso, voluntários da sociedade civil organizam iniciativas focadas em diferentes segmentos. A seguir, confira alguns dos projetos mais importantes que estão ajudando quem ainda não sabe por onde recomeçar.

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Alimentação

O coletivo Cozinheiros do Bem, criado em 2015 pelo chef Júlio Ritta, fornece refeições gratuitas à população de rua de Porto Alegre.

Inicialmente, os voluntários montavam as cozinhas móveis em pontos e dias fixos na capital, onde distribuíam cerca de 3 mil refeições. Desde 2022, o projeto conta com uma sede fixa no Centro Vida, na zona norte de Porto Alegre, que fica aberta 24 horas e na qual são servidas quatro refeições diárias atualmente, para atender as vítimas da enchente. E também continua com o atendimento móvel em pontos críticos da capital.

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“Nosso atendimento começa sempre fornecendo alimentação no Centro Vida. Depois disso, seguimos para o Viaduto da Conceição, Voluntários da Pátria e Vila dos Papeleiros. À tardinha, retornamos à sede para fazer o jantar e depois saímos novamente para fazer várias rotas, pois a população de rua está dispersa por conta do alagamento nos bairros”, explica Patricia Stein, coordenadora do projeto.

O Cozinheiros do Bem não tem patrocinadores institucionais, conta somente com doações de pessoas físicas. Atualmente, possui cerca de 300 voluntários que se revezam no atendimento à população.

Saúde mental

A Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPDEPA) criou uma ação emergencial online para dar suporte psicológico aos atingidos pela tragédia.

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Atualmente, o projeto conta com 174 voluntários de todo Brasil, entre médicos, psicanalistas e psicólogos, que atendem por telefone ou vídeo. Segundo Vera Hartmann, psicanalista e participante do projeto, são realizadas de quatro a oito sessões gratuitas, dependendo do caso, e o agendamento do atendimento é feito diretamente pelo seu celular (51 99113 5950).

“A saúde mental não pode esperar neste momento crítico. Por isso, fiz questão de disponibilizar meu número pessoal, para não vincular os atendimentos ao horário comercial da SBPDEPA. Estou à disposição, inclusive nos fins de semana, para agendamentos”, diz a psicanalista.

Ela explica também que, se houver necessidade de alguma medicação, a pessoa é encaminhada a um psiquiatra para obter a receita médica. “A Secretaria da Saúde do RS está fornecendo alguns medicamentos, mas nem todos. E tem muita gente que perdeu receitas na enchente e, por isso, não consegue comprar os remédios. Estamos auxiliando nisso também”, reforça.

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Reconstrução das casas

O instituto Mulher em Construção organiza o Projeto Regenera, para auxiliar mulheres a reconstruírem as suas casas.

Fundado em 2006 por Bia Kern, na cidade de Canoas (uma das mais atingidas pela atual enchente), o instituto capacita mulheres para atuação em diferentes áreas da construção civil, oferecendo cursos gratuitos. Segundo Bia, o Regenera deve começar no início de julho.

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“Na fase inicial de captação, tivemos um excelente apoio da Nathalia Arcuri (Me Poupe), que ajudou a levantar quase R$ 500 mil. O Luciano Huck e outros nomes também colaboraram, mas precisamos de mais recursos para atender a todos que estão nos procurando para fazer o curso”, diz Bia.

As aulas ocorrerão na Universidade La Salle, em Canoas. Inicialmente, serão oferecidas 200 vagas para quatro módulos: alvenaria com pintura predial, piso, elétrica e hidráulica. Cada módulo terá 40 horas, e a equipe de professores está sendo organizada.

“Trabalharemos para que as mulheres possam arrumar as suas casas e consigam ir para o mercado de trabalho. Estamos finalizando os critérios de seleção, mas já adianto que daremos prioridade a quem perdeu tudo” diz Bia.

Segundo ela, o link para inscrição no curso deverá ser disponibilizado em breve no site do Mulher em Construção.

Busca por emprego

O programa PUCRS Carreiras, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do RS e a Fundação Irmão José Otão criaram o EmpregarTCHÊ, iniciativa que busca conectar pessoas que perderam os empregos em decorrência das enchentes a empresas que oferecem estágios ou trabalhos efetivos.

Em entrevista à Agência Brasil, Katia Almeida, coordenadora do PUCRS Carreiras, explicou que o programa é voltado a toda a comunidade, e não só aos alunos da universidade. Atualmente, há mais de 200 mil currículos cadastrados no portal, que podem ser acessados por diversas empresas para as quais o PUCRS Carreiras presta serviços.

“Muita gente perdeu não só a casa, mas também o emprego, porque tudo foi alagado. Por isso, criamos o EmpregarTCHÊ dentro do portal, para que as pessoas cadastrem seu interesse e para que as empresas também possam participar. Inclusive, empresas de Santa Catarina já estão abrindo vagas para quem quiser mudar do RS para lá”, disse a coordenadora à Agência Brasil.

O cadastramento é feito no portal PUCRS Carreiras, onde o candidato deverá preencher dados pessoais e profissionais. Depois disso, o passo seguinte é registrar o interesse na página da EmpregarTCHÊ, para que se possa agendar as entrevistas.

As empresas que desejam participar da iniciativa também devem preencher um formulário na mesma página do EmpregarTCHÊ. Após criado o perfil e confirmado o cadastro, as empresas receberão um acesso para cadastrar as vagas disponíveis e acessar os currículos da página.

Auxílio a professores

Com o programa Professor Solidário, criado na pandemia, o Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS (Sinpro/RS) está auxiliando professores que tiveram perdas nas enchentes.

“No início, nossa prioridade era distribuir cestas básicas e alimentação pronta. Agora que a água está baixando, estamos doando produtos de limpeza e ajudando na compra de itens básicos como fogão, geladeira e outros eletrodomésticos”, explica Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS.

Em maio, cerca de 200 professores receberam auxílio financeiro de R$ 1.000, em média, e já existem mais 100 pedidos em análise, sempre priorizando quem perdeu tudo, segundo Cecilia.

Para obter o auxílio financeiro, os professores devem fazer a solicitação pelo e-mail professoressolidarios@sinpro.org.br, informando nome completo, CPF, local atingido e relato da situação. No site do Sinpro/RS há mais informações sobre o Projeto Professores Solidários.