Novas tecnologias colocam moedas digitais e Bets na agenda da gestão monetária

Diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo participou do Finance of Tomorrow, que acontece no Rio

Renata de Carvalho

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Real Digital como possibilidade para reduzir a taxa de juros com soluções de crédito colateralizado e competição por dinheiro para consumo e poupança com as BETs são dois exemplos da realidade mais complexa com a transformação digital que precisa ser entendida pela autoridade monetária.

A avaliação é do diretor do Banco Central Gabriel Galípolo, para quem a nova realidade, em alguns momentos, parece uma anedota.

“Parece anedótico. Mas com a evolução que tivemos nas despesas com as chamadas Bets de aposta pode explicar o fato de não estarmos vendo na poupança o crescimento da renda observado nos últimos meses”, disse Galípolo, em um pout-pourri de impressões sobre os impactos monetários das vertiginosas transformações do mercado financeiro.  

As declarações ocorreram durante participação de Galípolo no Finance of Tomorrow, que acontece no Rio.

Brasil e as crises

Para ele, o Brasil foi eficiente em lidar com as crises dos últimos 15 anos por meio de instrumentos de intermediação financeira, controlando a liquidez.

As novas tecnologias do setor financeiro, porém, geram dados que precisarão ser estudados e entendidos.

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“Essa questão das inovações está produzindo uma quantidade enorme de dados para o BC. A gente vai ter um desafio de aprender a trabalhar isso para incorporar os dados que subsidiam a tomada de decisões de política monetária”, disse.

O provável futuro presidente do Banco Central mostrou estar atento às discussões levantadas em todo o mundo em relação a criptomoedas e outras inovações.

Citou estudos de “alguns bancos grandes internacionais” que mostram como o câmbio tem se comportado de maneira diferente, descolando muitas vezes dos fundamentos. Mas não cravou se a volatilidade está ou não ligada às inovações.

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“Eu acho que a redução na captação de poupança não é só conjuntural, mas também estrutural, por ter novas alternativas de investimento” afirmou.  

Nesse cenário, ele considera que a instituição terá uma agenda importante nos próximos anos para entender os novos mecanismos.

Ele quer usá-los para endereçar questões críticas e históricas, como a evolução do crédito rotativo nos últimos anos e os altos spreads bancários, a começar pelo Drex, que o BC apresenta como “o Real em forma digital”.

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“A infraestrutura que está sendo pensada a partir do DREX pode criar um avanço, uma permissão para que a gente possa avançar com o crédito colateralizado. A gente tem a redução de percepção de risco, que pode reduzir os spreads da maneira correta, a partir da redução de percepção de risco de quem vai conceder o crédito”, disse.

Pix

Galípolo comentou ainda que, mesmo após perder entre 20% e 30% dos seus colaboradores, o Banco Central conseguiu aumentar a produtividade e manter a agenda de Inovação, criando soluções como o Pix.

“Às vezes, queremos resolver problemas da forma tradicional, com investimentos em infraestrutura, como o que precisamos fazer para resolver problemas como o saneamento, que é uma questão do século XIX”, disse.

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“Mas, simultaneamente, vemos que o Banco Central consegue fazer coisas como o Pix, que é um caso de excelência em inovação”, acrescentou, reforçando os ganhos trazidos à população com essa tecnologia.