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Precisa do ‘celular do bandido’? Seguradoras têm proteção para aparelhos e Pix a partir de R$ 1

Agenda profissional, cartão de crédito, histórico de conversas, álbum de fotos: tudo está no celular e na nuvem; Entenda como protegê-los

Mariana Amaro

Pix no celular (Leo Albertino)
Pix no celular (Leo Albertino)

Já há seguros que protegem empresas de ataques cibernéticos, e pessoas, de roubo e uso indevido de suas identidades digitais. A mais nova modalidade nesta área, que não tem nem um ano de operação, vem sendo apelidada de “seguro Pix”.

Nela, o segurado tem a garantia de ser ressarcido em casos de transferências em dinheiro sob coação, roubo ou furto de aparelhos celulares que contenham dados bancários.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) entende que os bancos são responsáveis por reparar os danos causados em golpes financeiros. A Súmula 479 da corte informa que “as instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”.

Assim, os bancos teriam o dever de ressarcir eventuais prejuízos. Para isso, no entanto, o consumidor precisa provar que foi vítima de uma série de crimes. E isso pode levar tempo.

Diante da insegurança e dessa falta de agilidade, as seguradoras encontraram um filão de oportunidades. Novas modalidades, como o “seguro Pix”, que não existiam até seis meses atrás, já estão entre as mais buscadas no varejo.

Segundo Luis Reis, diretor executivo de parcerias da Seguradora Zurich, o setor de seguros precisou ser ágil para perceber o problema. “Estruturamos o seguro de transferência eletrônica no fim do ano passado e lançamos, em fevereiro, em parceria com bancos”, afirma.

Entre fevereiro e a primeira quinzena de maio, mais de 50 mil apólices já haviam sido comercializadas. “O público ainda está tomando consciência desse tipo de produto, mas acreditamos que este deve se tornar um dos mais populares do varejo”, completa Reis.

Como são os seguros disponíveis?

C6

O Banco C6 oferece, em parceria com a Zurich, modalidades de seguros para contas com mensalidades que começam em R$ 1.

O produto cobre prejuízos decorrentes de transações via Pix, compras no crédito e débito, saques feitos sob coação, ameaça ou sequestro e oferece atendimento psicológico para vítimas de furto ou roubo qualificado.

Itaú

O custo pode variar, mas começa em R$ 2,90, no seguro Transação Protegida, oferecido pelo Itaú aos seus correntistas. O limite de cobertura vai de R$ 10 mil a R$ 50 mil, dependendo do segmento do cliente, e também cobre sequelas permanentes e falecimento como consequência do crime.

Contudo, o seguro Transação Protegida do Itaú não oferece cobertura para casos de furto e assaltos a celulares.

Bradesco

A Bradesco Seguros foi a primeira a oferecer cobertura para aplicativo bancário, em outubro de 2021. Desde a sua criação, já foram vendidas mais de 11 mil apólices. “A criação do produto aconteceu em um momento oportuno e necessário, em que capitais brasileiras registram aumento no número de roubos de celulares e sequestros-relâmpagos para roubo com PIX”, afirmou Ney Dias, diretor-presidente da Bradesco Seguros.

A modalidade do banco é segmentada de acordo com o perfil correntista e varia entre R$ 8,99 e 15,99 ao mês, e sua cobertura pode ser acionada até duas vezes em um período de 12 meses. Para acionar o seguro, é preciso ter um Boletim de Ocorrência.

Santander

Oferecido pelo Banco Santander, o Seguro Transações tem uma cobertura que garante o reembolso de valores movimentados digitalmente sob coação e é válido para transferências via Pix, DOC, TED e TEF. A proteção também prevê o ressarcimento de itens comprados via Pix Santander e roubados em até sete dias após o recebimento.

São três diferentes planos, ofertados de acordo com o segmento do cliente, com mensalidades de R$ 9,99, R$ 18,99 ou R$ 24,99, e cobertura anual de R$ 3,5 mil, R$ 8 mil ou R$ 20 mil, respectivamente, e o cliente contará com a proteção do seguro quando ele for coagido a realizar um Pix ou uma transferência a partir de sua conta corrente no Santander, respeitando um período de carência.

Banco do Brasil

O Banco do Brasil oferece o Seguro de Itens Pessoais, com cobertura contra roubos em caixas eletrônicos, compras e saques bancários sob coação, além da cobertura Bolsa Protegida que, em caso de roubo, ressarce até R$ 3 mil com itens pessoais como telefone celular, perfume, óculos e até R$ 1.000 de compras, transferências ou pix realizados sob coação.

MercadoPago

Criado em parceria com a BNP Paribas Cardif, o seguro da Conta Mercado Pago está disponível em dois planos. O primeiro, no valor de R$ 3,49 mensais, com cobertura de R$ 5 mil; e o segundo de R$ 4,99 por mês, que traz coberturas de até R$ 10 mil.

Além de reembolso de valores gastos indevidamente pelo cartão físico ou de perdas relacionadas a saques e compras sob coação, o seguro garante indenização por invalidez permanente ou total em decorrência do crime, “além de beneficiar os segurados com participação em sorteios de capitalização no valor de R$ 10.000,00”, informa Michelle Brito, Head da área de Insurtech do Mercado Pago.

O seguro pode ser contratado pela conta digital e sua validação leva em torno de 30 segundos. “Atualmente, a média de tempo para a conclusão do processo oscila entre 10 e 15 dias”, afirma Brito.

Porto Seguro

A Conta Digital Porto Seguro tem o Seguro Conta Protegida, com cobertura de até R$ 1 mil para transações em casos como perda ou roubo do celular ou no cartão e Pix indevidos.

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Uma questão de segurança pública

Esses novos produtos do setor de seguros surgiram da importância que o meio digital ganhou na vida das pessoas e, claro, do contexto de segurança pública.

Nos cerca de oito minutos estimados para a leitura desta reportagem, ao menos dois celulares terão sido subtraídos de seus proprietários na cidade de São Paulo. Apenas na capital paulista, 12 aparelhos são roubados por hora. O dado é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e foi divulgado no começo de maio.

Mas quem vive no interior, litoral ou outros estados também não está livre desse tipo de crime: 35% dos brasileiros já tiveram o celular roubado ou furtado ao menos uma vez, de acordo com levantamento da consultoria em telecomunicações Mobile Time/Opinion Box.

Fazer parte dessas estatísticas nunca é agradável, ainda mais quando o prejuízo pode ir muito além do valor desembolsado pelo equipamento, com transações financeiras, roubos de dados e estelionato.

Novos delitos X novos seguros

Em 2020, as transações financeiras realizadas pelo mobile banking representaram, pela primeira vez, mais da metade — ou 51% — do total de operações feitas no país, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), e nunca mais caíram abaixo desse patamar.

A chegada do Pix representou mais um passo na evolução no sistema financeiro, permitindo a transferência instantânea de dinheiro entre pessoas e transformou o celular em uma espécie de caixa eletrônico.

Desde então, sua popularidade só aumentou: até abril, havia 419 milhões de chaves Pix de pessoas físicas ativas — quase duas para cada brasileiro — e o volume financeiro de transações via Pix bateu o recorde de R$ 784 bilhões no mesmo mês.

A facilidade nas transações trouxe de volta um fantasma da segurança pública: o sequestro-relâmpago. Quadrilhas especializadas chegaram a fazer a modalidade de crime crescer 100% em São Paulo em 12 meses, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do estado.

“O Pix é atraente para os bandidos por causa da velocidade. Depois que o roubo [do aparelho] é concluído, eles rapidamente pulverizam o valor para várias contas”, diz Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil.

Diante do efeito adverso, o Banco Central passou a limitar em R$ 1.000 os pagamentos feitos por pessoas físicas entre as 20h e 6h. A medida passou a valer em novembro do ano passado, mas teve pouco impacto na redução de furtos.

Isso porque o roubo de um aparelho costuma render 10 vezes mais o preço de um celular. Foi esse o caso do agente de talentos de São Paulo, Bruno de Paula, 36, que teve o telefone, um modelo de última geração, furtado em um táxi e acabou com um prejuízo de mais de R$ 140 mil.

Os altos lucros obtidos por quadrilhas que fazem roubos por meio do Pix, atraiu até o crime organizado. Segundo uma investigação da Polícia Civil de São Paulo, a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) atua no controle de crimes de transferência de dinheiro com celulares roubados em bairros de classe média alta da capital.

Segundo a investigação, a quadrilha tem uma célula na região central da capital paulista, para desbloquear aparelhos roubados em áreas próximas e transferir valores antes que os donos tomem providências de bloqueio de senhas e comunicação do crime.

Segundo Assolini, as instituições financeiras pouco podiam fazer para prevenir as fraudes, já que o Pix é regulado pelo Banco Central. “Quem determina seu funcionamento e todas as cláusulas é o BC. As equipes dos bancos mantêm um monitoramento comportamental, mas não podem impedir as transações”, afirma o analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil.

Outras proteções

Além do serviço de proteção à transações financeiras, existem outras modalidades de seguros para smartphones: 1) cobertura de danos do equipamento, como quebra de tela; 2) reembolso por furto ou roubo do aparelho; e 3) garantia estendida, oferecida durante a compra do aparelho. As três também tiveram aumento expressivo em buscas recentemente.

A pedagoga recém-formada Flavia Lima, 25, foi uma dessas novas clientes. “Até encontrar um trabalho na minha área, estou trabalhando com bicos, como manicure, motorista particular. Se perder o celular, perco toda a fonte de renda e os contatos”, afirma.

Segundo levantamento da Mobile Ecosystem Forum (MEF), 66% das pessoas no Brasil utilizam o telefone celular para trabalhar. “Um motorista de aplicativos, por exemplo, se ficar sem celular, fica sem renda”, afirma Luis Reis. E complementa: “Hoje, as pessoas preferem ter um seguro de celular do que do carro”.

Lima não precisou (ainda bem) acionar o seguro, mas tomou a providência depois que sua colega de quarto foi assaltada na região da Avenida Paulista. “Ela ficou até feliz porque o prejuízo foi só do aparelho, não conseguiram acessar a conta bancária. Como tinha seguro, recebeu um reembolso e preferiu comprar um aparelho usado, para o caso de ser assaltada novamente”, afirma.

De olho nesse mercado, a Pier Seguradora, criada em 2018, surgiu em 2021 e teve um crescimento de 300% com relação ao ano anterior. Este ano, segue batendo recordes. “Nossa base de entrada de novos membros aumentou ainda mais nos últimos dois meses. Na semana passada, batemos um novo recorde”, diz Flávia Molina, CMO da Pier Seguradora.

Com mais de 75 mil celulares protegidos em sua base em todo o Brasil, a companhia foi uma das patrocinadoras do MITA (Music is The Answer), um festival que aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro este mês. Na ação, a companhia transformou o evento no primeiro festival de música do mundo assegurado contra roubos e furtos de celular e ofereceu um mês de seguro grátis para todos os participantes.

Com um contrato mensal, no modelo de assinatura, os clientes passam a ser protegidos a partir da autorização do primeiro pagamento. “A tecnologia está enraizada em todos os nossos processos. Por isso, fazemos reembolso de sinistro em segundos”, explica Molina.

Porta de entrada

A popularização do seguro de celular está levando a uma mudança na cultura de seguros do Brasil. De acordo com um estudo elaborado pela Universidade de Oxford, apenas 19% dos brasileiros possuíam uma apólice de seguro de vida até 2018, muito abaixo da média mundial, de 32%. Depois dos últimos anos, contudo, 35% das pessoas buscou fazer um seguro ou previdência, segundo informações do FenaPrevi.

“O brasileiro não tinha a cultura seguros. Isso mudou, sim, com a pandemia, mas tem mudado também com o seguro celular e de transações bancárias, que é mais acessível e fácil de entender por parte da população”, afirma Reis.

De acordo com o executivo, contratar um seguro de celular é uma forma de começar um planejamento financeiro, o que era, tradicionalmente, mais buscado por pessoas com mais idade (e dinheiro). Hoje, essa modalidade é o segundo maior produto da empresa, perdendo apenas para a garantia estendida.

Nos Estados Unidos, por exemplo, já existe um seguro contra cyberbullying, que cobre despesas legais e custos de terapia para vítimas de perseguição virtual. “Embora ainda não haja previsão de trazer esse tipo de cobertura para o Brasil, vamos acompanhar a demanda”, afirma Reis.

Para os casos de crimes que usam engenharia social, empresas interessadas encontrarão em companhias como AIG, Allianz, Zurich apólices que cubram, entre outras, despesas de substituição de ativo digital, pagamentos de custos com investigação forense, reembolso de pagamento de resgates de extorsão por criptografia de dados e cobertura de publicação, transmissão ou divulgação de informações de terceiros nos canais digitais da empresa

Ainda não há produtos ou serviços disponíveis no Brasil, voltados para a pessoa física; no varejo, contudo, a seguradora Sura oferece um serviço de proteção digital que cobre proteção da reputação contra vazamento de informações, recuperação de identidade e informações digitais, reembolso de despesas judiciais e responsabilidade civil de perdas e danos causados por eventuais vazamentos.

“O mundo digital evolui muito rápido, então é natural — e essencial — que o setor de seguros busque a mesma velocidade”, afirma Reis. Até 2024, por exemplo, 33% dos prêmios de seguros virão de novas propostas de produtos e serviços. A estimativa é da consultoria Deloitte e mostra como o setor de seguros precisará de agilidade para se adaptar aos novos tempos.

Como se proteger

Para Willian Rochadel, doutorando do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina, é natural que alguém que teve o aparelho subtraído sinta que sua privacidade foi invadida. “Nossas fotos, conversas, documentos, contatos pessoais e profissionais, tudo está dentro do aparelho”, diz.

Desta forma, explica Rochadel, é natural que surjam ideias como a de ter um segundo aparelho para ser o “celular do bandido”. “Mas esse não é um plano viável para muitas pessoas. Além de ser caro, seria preciso criar um outro personagem digital, com e-mail diferente, aplicativos”, afirma Rochadel.

Uma das soluções, segundo o especialista, é criptografar os backups do aparelho e incluir camadas de segurança. Mas, mais uma vez, essa atitude esbarra em outro problema: “A interface com o usuário dessas camadas de segurança não é simples. Não é qualquer pessoa que consegue habilitar”, diz. Sua sugestão é que os consumidores ativem, ao menos, o bloqueio do SIM card.

Para Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil, os consumidores pouco podem fazer para proteger seus dados e Pix depois de um roubo. “Especialistas em segurança recomendam o uso de um segundo aparelho na rua, mas, para isso funcionar, o usuário precisa ter a disciplina de não levar o outro aparelho para rua. Na prática, isso não acontece”, afirma.

Por, isso, segundo o analista de segurança, os consumidores precisam se preparar, com bloqueios no aparelho e uso de softwares específicos para proteção, já que os bandidos sabem como passar pela segurança nativa dos aparelhos, além de seguros para transações e para o próprio dispositivo. “O importante é se prevenir”, resume.

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Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.