App que usa blockchain libera empréstimo para pessoas sem conta bancária

Airfox, empresa de serviços financeiros móveis, tem sede em Boston, nos EUA     

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO –  O Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do mundo e, além disso, quase 50% dos brasileiros com menos de 24 anos não possuem contas bancárias, de acordo com o Banco Central. Essas pessoas desbancarizadas pertencem, em geral, as classes menos favorecidas da sociedade.  

Para quem não tem acesso a uma conta bancária ter a possibilidade de fazer um empréstimo e pegar as contas sem ter que usar dinheiro vivo é um avanço. A Airfox, empresa de serviços financeiros móveis com sede em Boston, EUA, considerou esse nicho de mercado para lançar um aplicativo no Brasil que permite transações financeiras, como pagamentos de contas, fazer transferências e empréstimos, sem precisar ter conexão alguma com bancos. 

Disponível apenas para sistema operacional Android, o aplicativo gratuito tem como objetivo servir como a instituição financeira às áreas desatendidas de bancos do país. “A Airfox é um banco para os desbancarizados”, sintetiza Victor Santos, brasileiro de 26 anos, CEO da Airfox, em entrevista ao InfoMoney.

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Produtos

Empréstimo pessoal 

Embora a Airfox não seja um banco, a empresa oferece a possibilidade de fazer pelo aplicativo a solicitação de um empréstimo pessoal. Esse é um dos diferenciais da empresa, sem gerir capital ela apenas faz a intermediação entre o credor e devedor.

“O app tem um algoritmo que analisa o comportamento do usuário – quando o mesmo cria a conta há uma aba pedindo a autorização de análise – e dependendo dos resultados libera uma quantia para o usuário usar, caso ele precise de dinheiro em algum momento de dívida”, explica o CEO de 26 anos.

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O juro do empréstimo varia entre os usuários. Dependendo da análise de comportamento feita na própria plataforma é liberado um nível de taxa de juros. Os valores dessas taxas ainda não foram definidos, mas a empresa garante que serão “bem competitivas com mercado”.

Esse empréstimo é baseado na tecnologia de blockchain, conhecida por estar por trás de transações de moedas digitais como o bitcoin e o etherium. “Para o empréstimo temos dois tipos de usuários: o brasileiro que quer dinheiro emprestado e a outra pessoa que pode ser de qualquer lugar do mundo que empresta o dinheiro. A Airfox só é o meio de intermediar essa transação e fazemos isso com a nossa própria moeda digital, o Airtoken. É por meio dela que as pessoas emprestam dinheiro”, explica Santos.

Na prática, o brasileiro que precisar do empréstimo recebe o dinheiro em real, mas a pessoa que atua como credor empresta a quantia em Airtokens que são convertidos pela Airfox em real. Santos explica que o valor do AirToken é baseado no preço das trocas, “então quanto a moeda vale é determinado pelo mercado livre”. 

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Além disso, qualquer usuário tem pode ter acesso a moeda digital da marca, o AirToken. É possível ganhar as moedas vendo anúncios no próprio aplicativo, por exemplo.  

Pagamento de contas 

A outra opção de serviço é fazer pagamentos. Para ter dinheiro no aplicativo o usuário precisa gerar um boleto bancário dentro do próprio app e pagar o mesmo em casas lotéricas em mais de 40 mil locais em todo o país. Ou ainda, gerar o boleto e dar para alguém pagá-lo em qualquer outro banco. Após o pagamento ter sido executado o dinheiro cai direto na conta do usuário no aplicativo. 

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A ideia da empresa é integrar a pessoa que não tem conta bancária, geralmente classes D e E, no sistema, por isso essa possibilidade de trabalhar com outros bancos. O usuário da Airfox não tem conta bancária, mas as pessoas em volta dele tem. Por exemplo, uma cabelereira que não tem uma conta no banco, poderá receber seu dinheiro por meio do app e seus clientes podem pagá-la em seus respectivos bancos por meio do boleto que é gerado pela Airfox. “O aplicativo dará acesso aos serviços financeiros para um número enorme de brasileiros atualmente excluídos do sistema”, afirmou Santos.

Com o dinheiro depositado o app vira uma espécie de carteira digital e o usuário pode pagar boletos de diversas contas como luz, água, celular.  “É uma conta virtual que o usuário pode aderir para conseguir pagar suas contas sem ter a assistência de um banco tradicional”, explica Santos. É possível também fazer transferências de dinheiro para outra pessoas desde que a mesma tenha o aplicativo da Airfox também. Em um futuro próximo, o usuário poderá carregar o bilhete único e o celular pré-pago no próprio aplicativo. 

Embora o objetivo da empresa seja auxiliar as pessoas que não têm acesso aos bancos, qualquer um pode baixar o aplicativo e se cadastrar.

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Operações

A empresa fundada em 2016 e que tem sede em Boston, nos EUA, hoje tem 20 funcionários, sendo que 2 engenheiros estão trabalhando por aqui. “A ideia é ter operações no Brasil também”, revela Santos. O jovem é brasileiro, mas mora nos EUA desde os 12 anos.

O mercado nacional é o primeiro em que a Airfox está atuando nesse formato de “banco para os desbancarizados”. Segundo o CEO, a ideia é expandir para outros países na América Latina mais para frente. Embora a empresa já opere nos EUA, ela funciona por meio de outro nicho de negócios ligado à operadoras móveis de smartphones. 

Santos afirma que como a plataforma da empresa é construída sobre o blockchain, “a empresa pode oferecer tarifas acessíveis, taxas de transferência reduzidas e termos de empréstimo transparentes”. 

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Giovanna Sutto

Jornalista com mais de 6 anos de experiência na cobertura de finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.