O verdadeiro motivo que mantém mulheres longe dos investimentos, segundo profissionais da área

Menos acesso a renda significa menos disponibilidade para aplicar; mas existem outras nuances

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Fayga Czerniakowski Delbem é gestora de investimento, tirou o certificado CFA, entre os mais difíceis da categoria mundialmente, diretamente após se formar na faculdade e completou um mestrado em Economia e Finanças pela FGV que a garantiu o prêmio Prêmio CFA society Brazil de Inovação Financeira pela monografia “Impacto do benefício fiscal no apreçamento das debêntures de infraestrutura”. Isabela Guarino é economista-chefe da XP Gestão, parte do grupo XP, detentor da maior corretora de investimentos do Brasil. Graduada e mestre pela PUC, trabalha desde cedo na área que mais a encanta: economia pura.

Em comum, ambas têm o que pouquíssimas mulheres, no Brasil e no mundo, dividem: uma carreira dentro do universo dos investimentos e, até mesmo, uma carteira de investimentos para chamar de “minha”. As duas também sabem os motivos que as mantêm como exceções – e as potenciais soluções.

Dados mais recentes do Tesouro brasileiro mostram que apenas 25,2% das pessoas que investem em Tesouro Direto atualmente são mulheres. Na bolsa de valores, a B3, o número é ainda menor: 11,08%. Segundo o IBGE, a população feminina é maior que a masculina no país, quase 52%.Os motivos que levam a essa discrepância não são segredo, embora ainda sejam tabu: mulheres ainda possuem menos acesso ao dinheiro que os homens.

Segundo pesquisa da Catho publicada em 2 de março, os salários de mulheres chegam a ser 38% menores ocupando exatamente as mesmas funções que colegas homens. Mulheres com o mesmo nível de escolaridade podem receber até 43,5% a menos – e, em todos os níveis de escolaridade pesquisados, o salário das pessoas do gênero masculino são maiores. Resumidamente: investe mais quem tem maior disponibilidade de recursos. Mas não só.

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“A mulher demorou mais para entrar no mercado de trabalho, então ainda tem menos acesso ao dinheiro”, aponta Isabela. Ela acredita que, a partir do momento que as mulheres passem a receber salários mais altos e ocupar mais cargos no topo da hierarquia, investir melhor deve ser um caminho natural.

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Fayga, por sua vez, vislumbra outros agravantes. “Acho que somos a segunda ou a terceira geração de mulheres trabalhando. Nossas avós não trabalhavam”, concorda com Isabela, mas complementa: “trabalhando com investimentos e olhando as pesquisas a gente vê que mulheres associam riqueza a segurança, e homens a sucesso e poder. Acho que esse é um comportamento cultural, onde a mulher é um pouco mais insegura que o homem”.

Essa insegurança pode impedir o desprendimento necessário para aplicar o dinheiro em produtos mais rentáveis ou de mais longo prazo – ou apenas atrasar esses investimentos. “Elas estudam muito mais antes de investir de fato”.

Por outro lado, a ausência de profissionais mulheres em empresas de investimento também pode afastar. “A maioria dos gestores no mercado são homens. Talvez uma forma de estimular [a participação feminina] seria colocar uma interação mais equilibrada. Mulher oferecendo produto para outra mulher, identificação gera fidelização”, associa.

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Otimismo

Apesar de parecer uma realidade distante, a participação relevante da mulher no universo do investimento é uma esperança compartilhada pelas duas profissionais da área. Isabela acredita que, cada vez mais, a única coisa que separa mulheres de cargos em bancos e corretoras é o interesse pela área. “Nunca senti preconceito, sempre me vi em um ambiente em que me sinto confortável”, diz.

Para Fayga, o passado e o presente estão começando a escrever um futuro mais equilibrado. “Em 10 anos, o número de mulheres na bolsa passou de 16% para mais de 20%”, exemplifica. “Quando a gente olha número de empresas administradas por mulheres, e percebe que estão gerando mais resultado e mais emprego, isso também contribui”, diz a CFA, relembrando pesquisas que demonstram resultados, inclusive financeiros, para empresas com quadros de liderança mais diversos.

De uma coisa, ambas estão seguras: não há porque temer um investimento acompanhado por profissionais confiáveis. “O importante é ter ajuda para identificar seu perfil e aplicar”, dizem. “Seja homem ou mulher. 

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney