Piloto do real digital testará compra de até 1 centavo de título público, diz BC

BC selecionará em maio as instituições participantes do experimento, que ocorrerá até o começo de 2024

Paulo Barros

Rogerio Lucca em audiência no Senado quando era Diretor de Política Econômica no Banco Central (Agência Senado)
Rogerio Lucca em audiência no Senado quando era Diretor de Política Econômica no Banco Central (Agência Senado)

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O projeto-piloto do real digital, Moeda Digital do Banco Central (CBDC, na sigla em inglês), testará, entre outros elementos, a aquisição de até 1 centavo de título público federal, afirmou Rogério Lucca, chefe do departamento de operações bancárias e de sistema de pagamentos do Banco Central.

“Um requisito testado na plataforma será a fragmentação de ativos, ou seja, [a capacidade de] transacionar até 1 centavo de real, ou um centésimo de título público federal”, disse Lucca em evento promovido pelo BC nesta segunda-feira (10).

A proposta do piloto, chamado de “Piloto RD”, é fazer testes simulados com compra e venda de títulos públicos nos mercados primário e secundário para avaliar o funcionamento da infraestrutura e a privacidade das transações do real digital e de depósitos tokenizados (digitalizados), que serão o dinheiro virtual carregado pelas instituições bancárias.

O período de experimentos tem previsão para durar até março de 2024. A expectativa é que o real digital seja disponibilizado para a população até o final do ano que vem.

As experiências serão feitas por meio da Hyperledger Besu, uma plataforma de código aberto compatível com o mesmo padrão de softwares do Ethereum (ETH), mas que permite a uma entidade central — neste caso, o BC — controlar quem pode participar.

O BC irá coordenar simulações de emissão, negociação, transferência e resgate de ativos financeiros, inicialmente com um título público federal. Também participarão instituições do sistema financeiro, como bancos, e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os participantes do projeto-piloto serão anunciados em maio.

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“A intenção é reproduzir o ecossistema do sistema financeiro brasileiro, ter representações de todos os tipos de instituições. Gostaríamos de ter, idealmente, bancos, cooperativas, instituições de pagamento e até mesmo algumas IMFs (empresas de Infraestrutura de Mercado Financeiro)”, disse Fábio Araújo, coordenador dos trabalhos do real digital.

Ameaça de stablecoins privadas

De acordo com o Banco Central, a principal motivação por trás da criação do real digital é a tokenização da economia brasileira como um todo, incluindo ativos financeiros que são valores mobiliários e até ativos reais. Tokenização é a criação de uma representação digital de um ativo em uma rede programável.

Segundo Lucca, o BC está observando o crescimento do mercado de tokenização no país sem que haja uma infraestrutura oficial baseada na mesma tecnologia. A preocupação, afirma, é que esses ativos continuem sendo liquidados utilizando moedas digitais privadas.

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“Para tecnologia distribuída e ativos tokenizados a gente não tem uma infraestrutura. O que acontece é que, muitas vezes, quando você tem o desenvolvimento de ativos tokenizados, essas transações acabam tendo que ser liquidadas por meio de stablecoins privadas, trazendo uma insegurança para o sistema financeiro nacional”, apontou.

Stablecoins são criptomoedas que têm paridade com outro ativo, em geral moedas fiduciárias como o dólar ou o real.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas