Os próximos passos da Boa Safra após o IPO: “temos alguns projetos de M&A na mesa, é uma possibilidade”

CEO da companhia, Marino Colpo fala sobre os planos de crescimento acelerado e os riscos ao negócio

Anderson Figo

Marino Colpo, CEO da Boa Safra Sementes (Do Zero ao Topo/InfoMoney)
Marino Colpo, CEO da Boa Safra Sementes (Do Zero ao Topo/InfoMoney)

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SÃO PAULO — Com as ações em alta de 56% desde o IPO, no fim de abril deste ano, a Boa Safra Sementes (SOJA3) está agora capitalizada para seguir entregando forte crescimento em ritmo acelerado. É o que acredita o CEO da empresa, Marino Colpo: até 2026, a companhia espera ter cinco novas plantas.

Em entrevista ao InfoMoney, o executivo contou que a Boa Safra não descarta movimentos de M&A (fusões e aquisições) para cumprir seu objetivo: “temos feito algumas visitas, há projetos na mesa, é uma possibilidade”. O executivo falou também do enorme espaço de crescimento com a maior demanda global por alimentos e dos investimentos essenciais em tecnologia.

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O CEO comentou ainda sobre o desempenho financeiro e operacional da companhia no primeiro trimestre de 2021 e falou sobre iniciativas ESG que a Boa Safra tem feito. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

InfoMoney: Como a pandemia de coronavírus afetou o negócio da Boa Safra? O setor agro sempre foi o mais resiliente no país, passou imune à crise da Covid?

Marino Colpo: A pandemia afetou bastante os negócios da Boa Safra, mas não tanto quanto outras empresas. Foi uma pandemia terrível, um negócio muito complicado. A gente ficou muito assustado e muito preocupado com a saúde de todos.

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De fato, a maior mudança pra gente foi em política de home office. E como as fábricas não poderiam parar, a gente fez várias iniciativas para manter os funcionários num ambiente mais seguro possível. Distribuição de álcool em gel, limpeza de todo equipamento, distribuição de máscaras.

Do lado financeiro, a gente se organizou bastante para ter bastante caixa, durante os piores períodos da pandemia, principalmente no começo. E a gente fez também uma estratégia de comunicação direta com todos os colaboradores, que foi muito eficaz.

Quanto a empresa mesmo, querendo ou não, a gente está no setor de alimentos, né? Então, a gente tem uma posição nas necessidades das pessoas que ela é muito fundamental.

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Então, enquanto muitos setores pararam, o setor de comida, de alimentos, até se aqueceu. A demanda continuou constante, continuou bem aquecida e a gente não teve problemas de demanda pelos nossos produtos dentro da nossa cadeia.

IM: A empresa teve um avanço expressivo da receita operacional líquida no primeiro trimestre de 2021, na comparação com igual período do ano passado, embora tenha registrado prejuízo de R$ 2,8 milhões. A que se deve isso? Pode explicar como a sazonalidade afeta o balanço?

MC: Nós temos duas vertentes que têm feito com que os nossos números avancem bastante em relação aos números do ano passado. Um deles é o próprio volume. A empresa está crescendo em torno de 26% em volume bruto em relação a 2020. Um segundo fator, além do volume, é a cotação da soja, que está valendo mais em relação ao ano passado, e também o dólar, que está deixando um preço médio acima do preço médio do ano passado.

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Então, a combinação desses três fatores: o volume de produção, junto com a cotação do dólar e com a cotação da commodity, tudo isso tem feito com que os números da empresa aumentem bastante. Mas é importante comentar também sobre a sazonalidade. No nosso negócio, o primeiro trimestre do ano é um trimestre de produção. Então, é a época que a Boa Safra produz a semente.

O segundo trimestre é um trimestre de estoque. Então, a gente produz a semente e guarda a semente numa câmara fria. E aí a partir do terceiro trimestre, especificamente no mês de setembro, é a época que a gente começa a embarcar a semente e a época que a gente começa a ter o nosso faturamento.

Então, o nosso faturamento coincide com o início do período das chuvas. Mas quando começa a chover no Brasil, o início normalmente no estado do Mato Grosso, no mês de setembro, é especificamente a época que o produtor começa a plantar. Esses produtores retiram as sementes das nossas câmaras frias e aí é que é dado o nosso faturamento.

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A gente vende um pouco das sementes antes, uma grande parte antes, então a gente tem um número de pedidos de venda não faturados, que é um indicador importante que está na nossa demonstração de resultado. Assim, os trimestres fortes de faturamento da empresa são sim o terceiro e o quarto trimestres, que é a época que ocorre o plantio.

IM: Os recursos da oferta de ações já foram usados? A empresa havia dito que eles seriam utilizados em crescimento orgânico e inorgânico: pode detalhar os planos de crescimento? Há projetos de M&A em análise?

MC: Sim, a empresa agora conta com os recursos [do IPO]. Nós estamos com foco muito grande em crescimento orgânico. Então, nós estamos construindo uma grande planta na Bahia, no município de Jaborandi. Essa planta já está sendo feita com os recursos do IPO e ela tem um foco em melhorar o atendimento e oferecer mais cultivares de soja para os nossos clientes do Norte do Brasil.

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Nós estamos também ampliando as duas plantas, a de Cabeceiras, em Goiás, e a de Buritis, em Minas Gerais, para aumentar também a nossa capacidade. Então, essas duas ampliações e essa nova fábrica estão sendo feitas com os recursos do IPO. E nós temos projetos para mais quatro outras fábricas que devem ser inauguradas, ou melhor, cujas obras devem ser iniciadas nos próximos anos, utilizando parte dos recursos do IPO e parte do caixa gerado na própria organização.

O nosso projeto é até 2026 ter cinco novas plantas. Como falado, ao invés de construir, a gente tem a possibilidade de fazer aquisições de concorrentes. Já temos alguns bancos de investimentos trabalhando para a gente e já temos algumas opcionalidades na mesa. A gente tem olhado, feito visitas, enfim, é uma possibilidade e a gente está olhando bem atentamente para isso.

IM: O Brasil está no centro do mundo em termos de preservação do meio-ambiente e as empresas do setor agro são acompanhadas de perto. Quais as iniciativas ESG que a empresa tem ou pretende colocar em prática nos próximos anos?

MC: Apesar de o ESG ter três fatores, que são a governança, o social e o meio ambiente [sustentabilidade], no setor agro é uma grande preocupação geralmente o meio ambiente. Hoje, a empresa tem um viveiro de mudas nativas na região. A gente oferece às comunidades agrícolas aqui da região e também aos nossos produtores integrados mudas nativas da região para reflorestamento.

E nós temos um projeto que nós estamos bem animados, que é a geração de crédito de carbono dentro das propriedades dos nossos produtores integrados. É uma ideia da companhia que a gente está desenvolvendo nos próximos meses. Nós já estamos com uma equipe trabalhando nisso aí. A gente acredita que o objetivo final desse projeto seria a gente conseguir ter uma semente verde no médio prazo.

Nós também estamos com um projeto social, que é a Universidade Corporativa. Ela também está em desenvolvimento. Seria uma universidade para treinamento dos nossos clientes, mas também para treinamento de agrônomos e técnicos agrícolas recém-formados, gratuitamente. Então, é uma plataforma que vai ter um viés social e que é um projeto bem interessante nesse sentido.

IM: O setor agro é destaque no quesito inovação e tecnologia. Quais são os investimentos da Boa Safra nessa área e o que podemos esperar da empresa em termos de inovação nos próximos anos?

MC: De fato, a Boa Safra tem um grande olho para inovação e tecnologia. Isso pode ser visto diretamente no nosso Conselho, que é formado por Gerhard Bohne, ex-CEO da Bayer. Ele é um grande entusiasta da tecnologia, foi quem comprou a Orbia, uma plataforma de vendas digitais, e colocou ela dentro da Bayer.

E também o segundo conselheiro nosso, Pedro Fernandes, é um dos sócios fundadores da Ace Centro-Oeste, que é uma aceleradora de startups. Na estratégia da companhia, guiada por esses dois conselheiros que têm bastante experiência em tech, a gente tem feito várias reuniões de como se posicionar. A gente está montando também um time de inovação e a gente acredita, no médio prazo, no crescimento de plataformas digitais para vendas de insumos, dentre eles sementes no Brasil.

A gente tem um projeto de inaugurar alguns centros de distribuição no país para que nos ajudem a distribuir nossas sementes para a gente ser um excelente parceiro dessas plataformas digitais que irão aparecer. E certamente terão uma boa adesão por parte dos produtores.

Do outro lado, nós temos várias iniciativas, principalmente de CRM. Iniciativas internas de venda digital e também temos iniciativas em termos de rastreamento dos nossos produtos por QR Code.

A gente tem desenvolvido um processo de rastreamento ponta a ponta que permite que o nosso cliente com aplicativo use o QR Code que existe em cada saco das nossas sementes e saiba todo o histórico dessa semente, inclusive a área por GPS que esse produto foi plantado. Então, essa é uma das nossas intenções, utilizar a tecnologia para aumentar a rastreabilidade dos nossos produtos.

IM: Quais são os principais clientes da empresa e qual o potencial de crescimento, seja dentro do país ou para exportação?

MC: Hoje, o cliente da empresa é o produtor rural porque a Boa Safra produz semente de soja. Apesar disso, a Boa Safra tem um foco muito grande no trabalho com revendas, que são distribuidoras que vendem para esses produtores.

E falando do potencial de crescimento, ele é imenso. Por quê? Porque o mundo cresce muito hoje. Você tem um mundo crescendo em duas vertentes. A primeira vertente é a população. A população mundial vem crescendo. E o segundo ponto é que o mundo vem crescendo também em renda.

A China principalmente, mas vários países além da China, que estão enriquecendo e tão passando por um momento de US$ 2.000 de PIB per capita. Então, se você olhar a China, quando ela passou esse PIB per capita por habitante, a China aumentou muito a sua importação de alimentos. E a mesma coisa está ocorrendo com Indonésia, Índia, Egito e Tailândia. São países em que a renda per capita tem melhorado.

São países que hoje detêm 25% da população mundial. Eles vão continuar crescendo, sua população vai comer melhor e isso faz com que eles acabem importando e consumindo mais commodities. E a soja, por ser a principal fonte de proteína do mundo e a mais barata, tem um papel super relevante.

Se você acompanhar os dados da FAO [Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação], ela diz que 40% do crescimento da demanda por alimentos no mundo vai ser suprida pelo Brasil. E é nisso que a gente acredita. O Brasil ainda tem muitas áreas, principalmente de pastagens, para serem convertidas em agricultura. E essa conversão, esse aumento do plantio e aumento de tecnologia no plantio, favorece o nosso produto, que é a semente que o agricultor utiliza para plantar.

IM: Quais os principais riscos para o setor de atuação da Boa Safra no médio prazo? O que poderia prejudicar a empresa caso acontecesse?

MC: A Boa Safra foi bastante conservadora e o nosso formulário de referência está bem abrangente em todos os riscos que o investidor deveria observar dentro do nosso negócio. Na minha visão, o que é que me tira o sono hoje é a velocidade de implementação. A gente é uma empresa que tem um histórico muito grande de crescimento rápido, e a gente tem o objetivo de continuar crescendo.

É um desafio a construção das plantas e das fábricas nessa velocidade e também um desafio sempre de montar equipe, um desafio de pessoas. O desafio do dinheiro foi resolvido com o IPO.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.