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No segundo ano da pandemia de Covid-19, mais 7,2 milhões de brasileiros passaram a viver na pobreza, segundo levantamento do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social).
A proporção de pobres subiu de 7,6% da população em 2020 para 10,8% em 2021, um aumento de 42,11%. O contingente de pessoas vivendo na pobreza alcançou cerca de 23 milhões, o maior patamar da série histórica iniciada em 2016.
“Basta lembrar que a primeira meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio era diminuir a pobreza à metade em 25 anos”, apontaram os pesquisadores Marcelo Neri e Marcos Hecksher no estudo intitulado “A Montanha-Russa da Pobreza”, divulgado nesta quarta-feira (15).
O cálculo, que tem como base os microdados sobre rendimento domiciliar per capita de todas as fontes apurado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), adota como referência para a linha de pobreza o limite de renda para recebimento do Auxílio Brasil, de R$ 210, a preços constantes de dezembro de 2021 por pessoa da família por mês, cerca de R$ 7 por dia.
“Esta linha, embora baixa para suprir necessidades básicas, é usada como critério de elegibilidade a algum benefício pelo Auxílio Brasil”, justificou o FGV Social, no levantamento.
Os pesquisadores chamam atenção para o fato de que as informações mensais apontam resultados ainda mais extremos do que as médias anuais. Considerando o mês de menor pobreza, experimentado em agosto de 2020, 3,9% dos brasileiros sobreviviam nessas condições, proporção que subiu a 13,2% em março de 2021, durante a interrupção do pagamento do Auxílio Emergencial pelo governo.
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“Na verdade, estas séries de pobreza anuais no Brasil escondem no período recente flutuações com amplitude 5,7 vezes ainda mais pronunciadas observadas em séries mensais, dado o aumento de 238,5% da mesma em menos de seis meses”, frisaram os pesquisadores.
O pico de pobreza ocorreu no primeiro mês da pandemia, em março de 2020, quando 13,3% dos brasileiros viviam nessa condição.
O estudo ressalta ainda que a renda mensal dos 10% mais pobres já estava em queda antes da chegada da pandemia de covid-19 ao Brasil, descendo de R$ 114 por pessoa por mês em novembro de 2019 para apenas R$ 52 em março de 2020.
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Graças ao Auxílio Emergencial, a renda desse grupo subiu a um ápice de R$ 215 por mês por pessoa em agosto de 2020, mas desabou a R$ 55 em janeiro de 2021 com a suspensão do programa. A retomada do benefício com cobertura e valores reduzidos fez a renda dos 10% mais pobres voltar a subir, alcançando R$ 113 em agosto de 2021, descendo mais uma vez em novembro de 2021, a R$ 96.
“Este último projeta tendência negativa pois incorpora os valores nominais fixados do novo Auxílio Brasil face o cenário de inflação alta e acelerada, especialmente para baixa renda”, ponderou o levantamento.
“Em novembro de 2021, a renda domiciliar per capita dos 10% mais pobres foi de R$ 96, o equivalente a míseros R$ 3,20 por dia para cada pessoa. Esse valor extremamente baixo tinha sido 18,7% maior dois anos antes, R$ 114 mensais per capita, sempre a preços de dezembro de 2021.”
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Os pesquisadores lembram que os brasileiros mais pobres não possuem contrato de emprego formal que possa dar alguma garantia de sustento ou amortecer flutuações extremas na renda com o passar dos meses.
“O que eles enfrentam mês a mês são oscilações imprevisíveis entre graus extremos e moderados de pobreza, amplificadas pela pandemia e pela instabilidade das políticas sociais dos últimos anos. Sem jamais ir à Flórida, uma montanha-russa de privações foi a parte que lhe coube neste parque temático”, concluíram Neri e Hecksher.