Máquina de lavar que compra sabão: como IA, 5G e IoT unidos vão mudar sua vida?

Novas tecnologias prometem mudar forma como consumimos e como empresas vendem produtos e serviços, mas no meio de tudo isso há muitos desafios; entenda

Giovanna Sutto

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“Banking of things” ou “banco das coisas” é o termo que designa o resultado da integração de IoT (“Internet das Coisas”) com serviços financeiros. Aliado ao 5G e aos recursos de inteligência artificial, esse conceito pode ganhar mais força no mercado bancário. Mas qual o benefício disso?

“A conveniência do dia a dia é o principal ganho. A lavadora de roupas conectada poderá fazer uma compra automática no e-commerce quando o sabão estiver acabando. Ou a geladeira vai avisar que está faltando leite e poderá pedir automaticamente mais uma unidade online. Estamos falando de casas, carros inteligentes e outros itens”, afirmou Gloria Kojima, superintendente de tecnologia do Bradesco, em painel na Febraban Tech 2024.

No mercado segurador, por exemplo, o “banking of things” poderá detectar um vazamento de água, conectar a seguradora ao problema e já solicitar a ide de um encanador para consertar o problema com autorização do segurado. “A praticidade para resolver problemas do dia a dia pode ser muito atrativa. Além disso, para o banco ou seguradora esse tipo de integração é também fonte de receita – e com muitas possibilidades de monetização”, avalia a executiva.

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Se esses conceitos parecem muito distantes, uma aplicação do “banking of things” que hoje já é considerada popular pode ajudar você: as tags de pedágios. “Nada mais é do que uma transação financeira que acontece e você nem lembra disso ou melhor só lembra quando a tag não funciona. Outras aplicações que já começam a aparecer são aquelas que trazem racionalidade no processo produtivo, como auxílio na agricultura inteligente, por exemplo”, ressalta Marcelo Lima, diretor de digitalização da Huawei para Amética Latina.

Apesar das aplicações e possibilidades que podem animar o consumidor, para conseguir estruturar esse tipo de conexão é necessária uma rede de 5G funcionando de forma plena.

“O setor de telecomunicações é transversal na economia. Todos os setores se beneficiam de sua infraestrutura para prestar serviço, atender cliente, melhorar processo e vender produto. Por isso, quando o 5G evolui mais rapidamente todo mundo se beneficia. Somado a isso, o setor financeiro sempre investiu em tecnologia da informação, apostou em inovações e tem foco para o digital. A pandemia e o Pix aceleraram o nível de digitalização do país”, afirma Mariana Abreu, gerente-executiva da Conexis (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel, Celular e Pessoal).

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O 5G no Brasil tem dois anos de funcionamento no Brasil e está presente em 538 municípios do país, cerca de 60% da população.

Todo o desenvolvimento da inteligência artificial pode ajudar a complementar soluções e serviços ao consumidor. “Vamos pensar em um carro com seguro on demand. Ele precisa ter a estrutura de IoT, que envolve sensores em todo o carro, que vão capturar velocidade, localização, se é uma região segura, quantas pessoas têm no carro, se tem bebês, o humor do condutor porque a forma como se dirige muda, a depender do estado emocional do motorista”, exemplifica Kojima.

“A partir disso, é necessário que todas essas informações sejam compartilhadas em tempo real e é aí que entra o 5G. É um caminho para as informações passarem com alta velocidade e baixa latência. Esses dados são enviados para um ponto de processamento, como os sistemas da seguradora, que precisa de uma capacidade de extração de dados muito alta. É aqui que a IA poderia ajudar, fazendo cálculo de risco e o preço do seguro”, completa a especialista.

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Lorena Prado, gerente-executiva de TI do Banco do Brasil, afirma que esse tipo de negócio pode transformar completamente a forma de monetizar produtos e serviços. “Usar esses dados agregados para entender o consumo do cliente, sua formatação familiar e hábitos será muito bom. Hoje os produtos são criados por análises feitas dentro da empresa. Daqui cinco anos serão criados com base no consumo e na dinâmica da vida do cliente. Será possível literalmente atender ao cliente quando ele quiser e como ele quiser”.

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Desafios

Colocar de pé serviços e produtos dessa envergadura é tarefa complexa justamente pela integração entre 5G, IoT e IA, que envolvem muitas etapas. “Os dados são importantes, desde que estruturados e organizados, já que dado por si só não adianta. Para tudo isso funcionar precisamos de sensores de IoT funcionando, uma cobertura sistêmica e eficiente de 5G e um modelo de IA que atenda a essa demanda. E, claro, um modelo de negócio que sustente tudo isso em conjunto”, avalia Kojima.

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Mas os especialistas ponderam. “O 5G ele vai potencializar a quantidade de dispositivos conectados funcionando ao mesmo tempo. E não necessariamente a velocidade”, ressalta Abreu, da Conexis. Ela aponta pesquisa do SpeedTest, que compara a velocidade de um upload entre 4G e 5G. “No primeiro caso foi em 1,3 segundo. No segundo caso, 1 segundo. O consumidor médio não sente essa diferença, por exemplo, na hora de subir um arquivo. Então, é preciso aplicar o 5G onde o consumidor vê valor”, avalia. “Mas, na hora em que todo mundo tiver 10 dispositivos conectados e os vizinhos forem assistir streaming, será necessária uma rede que suporte essa demanda de conexão para manter a velocidade alta para todos”, destaca.

Nesse contexto, Lima, da Huawei, ressalta que o 5G “precisa de 6 vezes mais antenas para operar do que o 4G. Precisa fazer sentido montar essa estrutura”.

E os desafios não param por aí. Um dos empecilhos do desenvolvimento do “banking of things” é também cultural. “Precisamos conversar sobre isso, incentivar a educação sobre o tema e formar mais profissionais em tecnologia para que consigamos orquestrar melhor os assuntos.”

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Kojima também destaca a importância da segurança para manter esse ecossistema. “Os dados bancários são sigilosos. Precisaremos de criptografia da rede 5G, por exemplo, autenticações do devices, além de proteções contra fraudes. Os desafios são grandes”.

Abreu acrescenta que a regulamentação disso tudo é outro desafio. “O setor financeiro e o de telecom são altamente regulados. E toda vez que surge uma nova tecnologia e um processo que cause alguma disrupção, o debate sobre como controlo, como coloco regras vem à tona. Precisamos também avaliar esse aspecto”, finaliza.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.