Juros do consignado podem chegar a 5,20% ao mês nos grandes bancos, alerta Procon-SP

Pesquisa é divulgada no dia em que presidente Lula criticou as taxas do consignado do INSS, que têm limite bem inferior (1,97% ao mês)

Lucas Sampaio

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As taxas de juros do crédito consignado têm uma diferença de até 2,71 pontos percentuais entre os grandes bancos e podem chegar a 5,20% ao mês (ou 83,73% ao ano) em contratos de 48 meses, alertou o Procon-SP nesta terça-feira (27).

O levantamento foi divulgado no dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou os juros do consignado para aposentados e pensionistas do INSS, que têm um limite bem inferior: 1,97% ao mês (ou 26,37% ao ano).

Lula comparou as taxas com os juros cobrados de grandes empresários e disse que vai conversar com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e com os presidentes dos bancos para rever o patamar atual — que já foi alvo de polêmica no início do mandato (veja mais abaixo).

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O Procon-SP alertou também que os juros para empregados de empresas privadas aumentaram em relação à primeira pesquisa, feita em fevereiro. A entidade vai levantar, a cada quatro meses, as taxas para servidores públicos estaduais, beneficiários do INSS e empregados de empresas privadas.

As maiores encontradas são do Santander (5,20% ao mês ou 83,73% ao ano), para funcionários de empresas privadas no contrato de 4 anos (48 meses), e do Itaú Unibanco (4,96% a.m. ou 78,77% a.a.). A menor é a da Caixa Econômica Federal (2,49% a.m. ou 34,33% a.a.).

Para servidores públicos estaduais de São Paulo, os maiores juros são do Bradesco (4,06% a.m. ou 61,21% a.a.) e os menores, do Itaú (1,54% a.m. ou 20,13% a.a.). Para beneficiários do INSS, todos os bancos cobram taxas próximas ao limite imposto pelo governo (veja nas tabelas abaixo).

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Taxa de juros máxima do empréstimo consignado (em % ao mês)

Contratos de 12 meses

Instituição Servidor público estadual Beneficiário do INSS* Funcionário de empresa privada
BB 2,72 1,87 3,42
Bradesco 4,00 1,97 4,41
Caixa 2,38 1,88 2,49
Itaú 1,54 1,97 4,96
Safra 2,05 1,97 3,90
Santander 2,42 1,96 4,28
Taxa média 2,52 1,94 3,91

Contratos de 48 meses

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Instituição Servidor público estadual Beneficiário do INSS* Funcionário de empresa privada
BB 2,72 1,95 3,42
Bradesco 4,06 1,97 4,26
Caixa 2,38 1,88 2,49
Itaú 1,54 1,97 4,96
Safra 2,05 1,97 2,89
Santander 3,50 1,94 5,20
Taxa média 2,71 1,95 3,87

* Governo impõe limite de 1,97% ao mês

O levantamento quadrimestral é feito pelo núcleo de pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP com 6 grandes bancos: Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4), Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco (ITUB4), Safra e Santander (SANB11).

Foi considerada a taxa máxima do consignado, praticada em 1º de junho, para clientes pessoa física não-preferenciais. A diferença nos juros foi de até 2,71 pontos percentuais nos contratos de 4 anos e de até 2,47 nos contratos de 1 ano, para um mesmo tipo de vínculo (as maiores taxas — e também diferenças — são para funcionários de empresas privadas).

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Orientações ao consumidor

Para Marcus Vinícius Comenale Pujol, diretor-adjunto da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP, as taxas de juros para empréstimos consignados são relativamente mais atrativas, mas precisam ser muito mais estudadas antes da contratação do empréstimo.

Pujol destaca que, para obter o crédito, o consumidor não precisa contratar outro produto ou serviço do banco ou instituição financeira. A prática de “venda casada”, inclusive, é proibida por lei e considerada abusiva pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Consignado não contratado

O Procon-SP também dá orientações sobre casos em que ocorre há descontos de pessoas que não contrataram nenhum empréstimo. Neste caso, a pessoa deve imediatamente formalizar uma reclamação junto à instituição financeira e solicitar o cancelamento e a resolução do problema.

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Se for aposentado ou pensionista do INSS, a pessoa deve entrar em contato com a ouvidoria da autarquia (pelo site ou telefone 135) e solicitar o cancelamento da cobrança, além da devolução dos valores descontados, atualizados.

Se mesmo assim não for feita a devolução, o consumidor pode registrar uma reclamação no Procon (também no site ou na unidade da sua cidade).

Críticas de Lula aos juros

Lula criticou os juros no programa semanal “Conversa com o presidente” (assista no vídeo abaixo). “O que me deixa indignado é que o juro do crédito consignado, que é dado para pessoas que têm emprego garantido, que é descontado no salário — e, portanto, não tem como perder —, é 1,97%”.

“Juros sobre juros dá quase 30% ao mês [sic]”, afirmou o presidente, se referindo à taxa anual (juros de 1,97% ao mês equivalem a 26,37% ao ano, por causa dos juros compostos). “Como é que o cara que ganha R$ 2 mil e pega R$ 1 mil no crédito consignado vai pagar 30% ao mês [sic]?”, disse Lula, confundido novamente juros anuais com mensais.

“Vou conversar com o Haddad, com os presidentes dos bancos, para saber como a gente está lesando o povo pobre nisso. A gente está dando como garantia a folha de pagamento e ele [trabalhador] ainda paga mais caro que o empresário pelo empréstimo”, afirmou o presidente. “Não tem como dar cano, porque desconta na folha”.

No empréstimo consignado, o tomador de crédito autoriza o desconto das parcelas diretamente na folha de pagamento ou do seu benefício (no caso de aposentadoria/pensão). A linha tem juros mais baixos do que outras modalidades exatamente pela garantia do pagamento.

Polêmica na redução

O governo federal tentou reduzir à força o limite dos juros do consignado para beneficiários do INSS no começo do ano, de  2,14% para 1,70% ao mês, mas acabou recuando para uma taxa intermediária: 1,97%. A medida foi aprovada pelo CNPS (Conselho Nacional da Previdência Social) em março, após intensa negociação com bancos e dentro do próprio governo.

A redução inicial, de 2,14% para 1,70% ao mês, havia sido capitaneada pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), sem o aval da área política (Casa Civil) e da área econômica (Fazenda). Mas a medida teve um efeito colateral inesperado: os bancos suspenderam a linha de crédito — inclusive BB e Caixa.

Quase todas as instituições financeiras privadas também suspenderam os empréstimos após a primeira redução do teto dos juros (que foi parcialmente revista). Isso porque o CNPS estipula somente a taxa máxima, mas cabe aos bancos a definição dos juros a serem cobrados (e se vão oferecer o produto).

Após o impasse, o governo chegou a uma “meio-termo” e subiu para para 1,97% ao mês o teto de juros do consignado do INSS, que havia caído de 2,14% para 1,70%. A taxa do cartão de crédito consignado, que tinha sido reduzido de 3,06% para 2,62% ao mês, foi elevado para 2,89%.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.