Imposto de Renda: defasagem da tabela é de 148%; com reajuste cerca de 30 milhões ficariam isentos

Tabela não passa por atualização há 7 anos; última correção integral ocorreu em 1996

Giovanna Sutto

(Getty Images)
(Getty Images)

Publicidade

Os brasileiros vão pagar mais Imposto de Renda em 2023 porque não há previsão de reajuste da tabela do tributo. O último ajuste integral foi realizado em 1996 e, de lá para cá, a desafagem acumulada é de 147,87%, segundo estimativa da Unafisco Nacional (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal).

A tabela passou por atualizações parciais ao longo desse período, sendo a mais recente em 2016, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando a faixa de isenção passou de R$ 1.787,77 para os atuais R$ 1.903,98.

Isso significa que se um reajuste integral fosse feito hoje, contribuintes com salários de até R$ 4.719,34 não precisariam arcar com os tributos e 30.061.673 de pessoas seriam isentas da declaração de IR, o que representaria uma redução de pelo menos R$ 239,3 bilhões na arrecadação da União, segundo a associação, que estima os cálculos com base no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado entre 1996 e dezembro de 2022.

Sem correção, a arrecadação do governo deve bater R$ 412,2 bilhões na temporada de IR referente ao ano-calendário 2023.

“Temos a noção de que um reajuste integral exige um esforço fiscal gigantesco e não é trabalho para um único governo fazer de uma vez só. Porém, entendemos que é possível dar uma primeiro passo especialmente considerando que foi promessa de campanha não cumprida do governo Bolsonaro e também foi promessa do governo Lula”, afirma Mauro Silva, presidente da Unafisco.

Na visão de Silva, o primeiro passo seria colocar em vigor um reajuste condizente com a inflação acumulada de 2022, de 5,9%, além de um dispositivo de lei que definisse que a tabela deve ser reajustada anualmente. Se isso fosse feito, o reajuste passaria a valer para a temporada de declaração de 2024, referente ao ano-calendário de 2023.

Continua depois da publicidade

“Sem o reajuste, cada ano que passa, o contribuinte é submetido a mais tributação. Por mais que não seja de forma generalizada, muitas categorias têm o reajuste de salário. Manter a tabela congelada é prejudicar, especialmente, quem tem menos dinheiro, que já perdeu poder de compra com a inflação no período e ainda passaria a ser tributado com o IR”, afirma Silva.

Em 2022, cerca de 36,3 milhões de contribuintes prestaram contas à Receita Federal, resultado recorde, segundo o órgão.

Segundo os dados da Unafisco, se o governo Bolsonaro tivesse feito uma correção parcial na tabela de IR, contribuintes com salários de até R$ 2.505,42 não precisariam pagar o IR, e pouco mais de 15 milhões de pessoas seriam isentas da declaração do tributo, o que representa uma redução de pelo menos R$ 82,6 milhões na arrecadação da União. A estimativa, nesse caso, considera a inflação acumulada entre 2018 e dezembro de 2022.

Continua depois da publicidade

Base de cálculo

Veja cenários com e sem correção da tabela de tributação.

Base de Cálculo mensal (R$) Alíquota Parcela a Deduzir do IR
Até R$ 1.903,98 Isento R$ 0,00
De R$ 1.903,98 até R$ 2.826,65 7,50 % R$ 142,80
De R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05 15,00 % R$ 354,80
De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 22,50 % R$ 636,13
Acima de R$ 4.664,68 27,50 % R$ 869,36
Base de Cálculo mensal (R$) Alíquota Parcela a Deduzir do IR
Até R$ 4.719,33 Isento R$ 0,00
De R$ 4.719,34 até R$ 7.006,32 7,50 % R$ 353,95
De R$ 7.006,33 até R$ R$ 9.297,60 15,00 % R$ 879,43 3
De R$ 9.297,61 até R$ 11.562,18 22,50 % R$1.576,75
Acima de R$ R$ 11.562,18 27,50 % R$ 2.154,85

Promessas de campanha

A correção da tabela do Imposto de Renda é uma discussão que se arrasta há anos. Em sua eleição, em 2018, Jair Bolsonaro havia prometido reajustar os valores. A ideia, que não foi cumprida, era isentar do IR quem ganha até 5 salários mínimos, cerca de R$ 5 mil.

Em 2021, o governo Bolsonaro chegou a propor a correção da tabela, em um valor inferior ao prometido na campanha, dentro de um projeto de reforma do IR. Mas o projeto não avançou no Congresso.

Continua depois da publicidade

A proposta corrigiria as faixas de tributação e ampliaria o limite de isenção do imposto de R$ 1,9 mil para R$ 2,5 mil ao mês. Na ocasiaão, o Ministério da Economia estimou que a medida teria um custo anual de pelo menos R$ 22 bilhões por ano.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também afirmou, durante campanha, que a primeira medida que tomaria caso vencesse as eleições seria anunciar o reajuste da tabela do Imposto de Renda: a promessa é zerar o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil por mês. Mas, por ora, nada nesse sentido ainda saiu do papel. Lula já assinou 52 decretos presidenciais e pelo menos três medidas provisórias.

O custo da medida poderia ser compensado pela taxação de lucros e dividendos, prevista na proposta de reforma tributária.

Continua depois da publicidade

Segundo Marcelo Lettieri, auditor-fiscal e diretor-adjunto de Estudos Técnicos do Sindifisco Nacional, a proposta de isentar essa parcela de contribuintes “é completamente factível” justamente porque “passaria a incluir também a tributação dos mais ricos a partir da reestruturação do Imposto de Renda”. Na visão dele, a tributação de lucros e dividendos e o fim da dedução dos juros sobre capital próprio são mudanças necessárias para a correção da tabela sair tornar-se realidade.

Giovanna Sutto

Responsável pelas estratégias de distribuição de conteúdo no site. Jornalista com 7 anos de experiência em diversas coberturas como finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira.