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Na última semana, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) disponibilizou um estudo com possíveis resultados do retorno do horário de verão no país, tema que está em análise pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Segundo o documento, a medida pode diminuir até 2,9% da demanda de eletricidade e adiar em até duas horas o pico de consumo no país.
A economia seria próxima de R$ 400 milhões para o custo da operação do ONS, mas especialistas ouvidos pelo InfoMoney apontam que não vai diminuir o valor da conta de luz para o consumidor.
“Não vai ajudar a reduzir a tarifa. O horário de verão vai eventualmente ajudar a evitar o maior trauma que o consumidor tem, que é passar por um blackout”, explica Victor Hugo iOcca, Diretor de Energia Elétrica na ABRACE (Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres). “E pode contribuir para impedir algum despacho termelétrico adicional, que são as térmicas mais caras que existem no país. Então, ajudaria também para não termos aumentos tarifários relevantes em 2025”, completa iOcca.
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Isso porque o horário de verão funciona como um mecanismo para dar mais flexibilidade ao setor elétrico durante um dos horários de pico de demanda, que acontece entre 17h e 20h.
Mas com a mudança no perfil de consumo, explicada devido a maior oferta de refrigeradores dada as altas temperaturas, segundo iOcca, outro horário de ponta passou a existir no país, entre 14h e 15h.
Os dois momentos são similares em relação ao gasto de energia, o problema é que entre 17h e 20h a disponibilidade de recursos para gerar eletricidade é menor.
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Nos últimos 10 anos, a matriz energética do país mudou, intensificando a presença de energia solar e eólica, que são fontes renováveis intermitentes. Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostram que em 2019 a energia solar do Brasil estava em 5 gigawatts (GW), e em agosto de 2024 alcançou 47 GW.
“Há um gap na produção de cerca de 25 GW entre 14h e o final de tarde”, detalha iOcca. “O brasileiro consome 90 GW nos dois horários de pico, mas, no final da tarde, sem geração solar, 25 GW saem do sistema em minutos”, ele complementa.
Nesse segundo pico de consumo do dia, as hidrelétricas são exigidas em potência máxima. Por outro lado, os reservatórios estão baixos devido à menor incidência de chuvas e não há fôlego para a geração de energia.
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A ONS recorre às térmicas, que por sua vez já estão despachando um bloco grande – em torno de 16 GW, segundo o Diretor de Energia Elétrica da ABRACE, número considerado alto para o sistema.
“Sobra pouco bloco térmico para fechar as necessidades horárias do operador. Por isso, a estimativa do próprio ONS é que em outubro e em novembro, que são os meses de maior risco, nós vamos chegar em algumas horas do dia superando o nosso padrão de risco aceitável” , afirma iOcca.
Se isso acontecer, o operador do sistema elétrico entra na chamada Reserva Operativa, uma geração adicional para evitar o blackout.
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“O horário de verão às vezes é um fôlego de 500 GW, 1 GW adicional que estamos fornecendo para o operador. É pouco, mas já é uma ajuda, porque pode ser que em alguns dias se opere já no ‘fio da navalha’”, conclui o Diretor da ABRACE.
Horário de verão divide opiniões e setores da economia
Em 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a publicar uma enquete na rede social X (à época Twitter) questionando a opinião dos leitores sobre uma possível volta ao horário de verão. Das 141 mil respostas, 73,9% aprovaram o retorno, 26,1% posicionaram-se como contrários à medida.
Pesquisa do portal Reclame AQUI e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) aponta que o horário de verão é bem aceito pela maioria das pessoas: entre os mais de 3 mil entrevistados, 54,9% deles são favoráveis ao retorno ainda este ano.
Em relação aos momentos livres, 47,9%, afirmam ter mais tempo para o lazer e 46,1% sente que há mais disposição para a prática de exercícios físicos.
A Abrasel estima, também, que o horário de verão aumente o faturamento dos bares em até 15%. Na última sexta-feira (22), a associação enviou uma carta ao presidente Lula, ao Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e ao Ministro do Turismo, Celso Sabino, indicando apoio ao retorno e apresentando os benefícios que a mudança pode trazer aos bares e restaurantes.
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Na última terça-feira(24), associações do setor aéreo divulgaram uma nota em que afirmam precisar de ao menos 180 dias para adaptação a um possível retorno do horário de verão, alegando o impacto nas questões operacionais e logísticas do transporte aéreo.
No comunicado, as entidades ressaltam que a mudança repentina pode causar “reprogramação de voos, acomodação de última hora e alterações de planos de viagem dos passageiros”. A nota destaca ainda que “outros impactos diretos afetarão a escala de tripulantes, a disponibilidade de slots e a capacidade dos aeroportos, principalmente aqueles com restrições e escassez na alocação de novos horários”.
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