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O torcedor brasileiro de futebol que cresceu diante da televisão acompanhando os jogos de seu time do coração em um só canal, que não é pago, tem agora que se desdobrar por diferentes plataformas com custo — situação que acaba pesando no orçamento.
Premiere, Paramount + e Amazon Prime: essas são as plataformas de streaming que os torcedores precisam assinar em 2023 para acompanhar as partidas do Campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil e da Copa Libertadores.
No caso de um time que disputa as três competições, o torcedor é obrigado a desembolsar um valor a partir de R$ 59,72 mensais — que compreende mensalidades de R$ 29,90 (Premiere Futebol Clube), R$ 19,90 (Paramount +) e R$ 9,92 (Amazon Prime) dos planos anuais mais básicos. Os R$59,72 representam:
- 2% da renda média do trabalhador brasileiro no primeiro trimestre (R$ 2.880,00)
- e 4,5% do salário mínimo (R$ 1.320,00) atual
Vale lembrar que os valores contemplam a transmissão dos jogos nos aplicativos — que podem ser baixados numa smart TV, celular, tablet, notebook ou PC – e não incluem canais da TV fechada, como SportTV e ESPN, cuja assinatura depende do pacote acordado com a operadora – acrescendo ainda mais cifras ao valor que o torcedor precisa aportar para acompanhar todos os jogos do time no sofá de casa.
Paixão x Consumo
Para a economista Juliana Inhasz, coordenadora do curso de Economia do Insper, o futebol é paixão nacional e o consumo atrelado a ele muitas vezes apresenta demanda inelástica – aquela que não muda com aumento de preços – como no caso da cerveja e do cigarro. “E mesmo que esse tipo de despesa não seja considerado essencial, na individualidade, se torna muito importante, porque mexe com paixão”, afirma.
Ivan Martinho, professor do curso de pós-graduação de marketing esportivo pela ESPM de São Paulo, compartilha da mesma opinião. Mas adverte para uma possível lacuna que a sopa de letrinhas de plataformas de streaming pode estar deixando para a audiência mais sênior do esporte.
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“Homens com mais de 40 anos são parcela relevante da audiência do futebol no Brasil. E essa faixa tem certa dificuldade com o uso do digital de maneira geral. Além disso, eles fazem parte de uma geração que foi educada a assistir futebol na televisão, durante um período em que uma só emissora monopolizava os direitos de transmissão dos principais torneios do Brasil e da América Latina”, diz Martinho.
O especialista relembra que a mudança no consumo de jogos de futebol no Brasil se deu a partir da chegada de players internacionais com mais força – e dólares – na disputa pelos direitos de transmissão de competições, como a Libertadores.
“Há cerca de 10 anos, a Fox Sports chegou ao Brasil e comprou os direitos da Libertadores. Depois disso veio a TNT. Esse homem de mais de 40 anos nunca tinha assistido esse campeonato ser transmitido por outro canal sem ser a Globo – ou na ESPN em alguns casos, para quem tinha TV a cabo. Agora, ele precisa de uma assinatura, login, baixar o aplicativo. Isso a longo prazo e, no limite, pode desgastar o ímpeto desse indivíduo por esse tipo de consumo”.
Por isso, segundo o especialista, o setor enfrenta a necessidade de reeducar parte relevante da audiência do futebol.
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“A paixão pelo futebol é alimentada por proximidade e frequência. Se o torcedor se distancia, a paixão esfria, e o seu consumo relacionado a ele tende a ser menor. Da mesma forma, quanto maior a proximidade do torcedor com o clube, mais ele estará disposto a consumir. Por isso é importante um trabalho de reeducação ou facilitação do acesso às transmissões”, explica.