Financiamento imobiliário dispara, bate recorde e projeta alta de 34% para o ano

As operações entre janeiro e março chegaram ao valor recorde de R$ 43,1 bilhões, com 187,6 mil unidades vendidas

Estadão Conteúdo

Ilustração (Natee Meepian/Getty Images)
Ilustração (Natee Meepian/Getty Images)

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Depois de crescer 57,5% no ano passado – com R$ 124 bilhões liberados pelos bancos -, o volume de financiamentos imobiliários deu um novo salto de 113% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com os três primeiros meses do ano passado.

De acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), as operações entre janeiro e março chegaram ao valor recorde de R$ 43,1 bilhões, com 187,6 mil unidades vendidas.

E a avaliação é de que, mesmo com o início do processo de alta de juros no Brasil e da escalada dos preços de materiais de construção, a expansão do setor imobiliário deve continuar nos próximos meses.

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Em meio à forte demanda dos brasileiros pela casa própria ou por novos imóveis, o setor já projeta crescimento superior a 30% nos financiamentos para este ano, ainda que a economia do país esteja sendo afetada pela segunda onda da pandemia de covid-19.

O bom desempenho registrado em março reforçou o otimismo da Abecip, que atualizou sua projeção de crescimento neste ano de 27% para 34%. A expectativa é de que até R$ 170 bilhões sejam usados neste ano para financiar a compra de imóveis novos e usados. Para a presidente da entidade, Cristiane Portella, vários fatores impulsionam a aquisição de moradias, a despeito da crise econômica.

“Em primeiro lugar, ainda há um déficit habitacional muito grande no Brasil, o que significa que há uma demanda enorme para a aquisição da primeira casa ou a troca pela segunda. E também tivemos uma redução importante nos juros”, afirma, em referência à queda verificada em 2020.

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Segundo Cristiane, em financiamentos longos, de 20 ou 30 anos, qualquer redução na taxa de juros tem impacto considerável no valor da prestação, que passa a caber no bolso do comprador. “A conjuntura atual colocou muito mais pessoas no jogo, em condição de comprar um imóvel ou mudar para um maior”, avalia.

Busca pelo imóvel

A cuidadora de idosos Maria Sonia Carvalho da Silva, de 47 anos, aproveitou o juro baixo para comprar um apartamento na planta da MRV, em Araçatuba (SP), em meados de abril.

“As parcelas ficaram menores do que se eu pagasse aluguel”, diz. Ela usou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a entrada e conseguiu um financiamento da Caixa para comprar o imóvel de 49 metros quadrados de R$ 130 mil, que deve ser entregue entre março e abril de 2022.

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Durante as buscas por um apartamento para alugar no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, o professor de inglês Igor Ferreira Lobato, de 29 anos, percebeu que, com as condições melhores de financiamento, poderia comprar um imóvel. “Com as minhas economias e o FGTS, eu tinha o suficiente para a entrada de um apartamento de até R$ 400 mil”, conta.

A busca deu certo e, em fevereiro, ele fechou a compra de um apartamento “todo reformado e muito bem localizado”, de 85 metros quadrados, por R$ 290 mil. Lobato pagou 40% de entrada e financiou o restante no banco. “As parcelas ficaram em torno de R$ 1.600, o que é ótimo para um apartamento na região central.”

Selic sobe

De acordo com os dados do Banco Central, mesmo com o início do ciclo de alta da Selic (os juros básicos da economia) em 2021, a taxa média de juros do crédito imobiliário para pessoas físicas foi de apenas 6,9% ao ano em março deste ano – o menor valor da série histórica. Em comparação, em janeiro do ano passado, o juro médio da modalidade estava em 7,4%.

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“Outra questão positiva é a possibilidade de se usar diferentes indexadores no financiamento. O consumidor acaba tendo mais opções, o que acirra a competição entre os bancos. Com isso, não temos visto o repasse direto da alta da Selic, pelo menos por enquanto”, diz Cristiane Portella.

Desde março, o BC já elevou a Selic de 2% para 3,5% ao ano. O aumento, em tese, também deveria encarecer o juro para o mutuário da casa própria. “Em um mercado em transformação, os bancos passaram a valorizar ainda mais o relacionamento de longo prazo com os clientes”, diz a executiva da Abecip.

Por outro lado, enquanto as classes média e alta aproveitam o momento para financiarem imóveis, o governo Bolsonaro zerou verbas para o Minha Casa Minha Vida e as obras de 200 mil casas para as classes mais pobres vão ser paralisadas. Mas, segundo José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), esse corte de recursos para a moradia população mais pobre deve ser revertido em breve. “É um problema tão absurdo, sem sentido, que só posso acreditar que o bom senso vai prevalecer. Por isso, estou tranquilo”, diz.

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