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Às vésperas da eleição presidencial na Argentina, que ocorrerá no próximo domingo (22), a moeda local, o peso argentino, tem se desvalorizado de maneira aguda, impactando residentes e turistas no país.
Na cotação de hoje, segundo informa o jornal argentino “La Nación”, um único dólar equivale a 365,50 pesos argentinos no câmbio oficial e 985 pesos argentinos no câmbio paralelo, o chamado dólar blue. Os valores representam recordes recentes e estão intimamente ligados às eleições presidenciais no país.
Pesquisas recentes mostraram o candidato ultraliberal Javier Milei liderando as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial, ainda que o páreo com o ministro da Economia, Sergio Massa, e a candidata conservadora Patricia Bullrich esteja apertado.
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Milei tem entre suas principais propostas o fechamento do Banco Central argentino e a dolarização da economia, o que significa a extinção do peso argentino – é daí a fonte original da grande desvalorização da moeda local vista nas últimas semanas.
As variações cambiais impactam residentes e turistas de maneira diferente. Para os residentes na Argentina, acontece a corrosão do poder de compra – engolido também pela inflação anual de 138,3% registrada em setembro – e a perda da referência dos preços internos de vários produtos. Por outro lado, turistas que recebem em moedas mais valorizadas, como dólar ou real, podem aproveitar dias “de rico” no país, considerando o maior poder de compra de sua moeda.
Ainda assim, quem adentra a Argentina deve ficar atento com as operações de câmbio, por causa de fraudes relacionadas às notas do peso, que podem chegar falsificadas ao bolso – ocorrências mais frequentes nas operações do câmbio paralelo, que é considerado ilegal e não é regulamentado pela autoridade monetária do país, sendo operado por doleiros e cambistas em casas de câmbio nas ruas do país.
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Leia mais: Eleições na Argentina: Milei no comando do país é um risco para o Brasil?
“O dólar blue é um índice de cotação que comercializa um dólar paralelo. É uma moeda não fiscalizada pelo Banco Central local. Em outras palavras é ilegal”, explica João Victor Patrocinio, especialista internacional do escritório de investimentos Blue3. “É uma cotação criada para fazer o dinheiro de transações ilícitas circular na economia”, completa o especialista.
Para não cair em ciladas, o InfoMoney buscou 7 respostas de especialistas sobre o dólar blue na Argentina, a partir de informações repassadas por João Victor Patrocinio, especialista em investimentos da Blue3; Mariano Carricat, advogado argentino especialista em Mercado de Capitais e sócio do BCCB Advogados; e Caio de Souza, sócio-fundador da Elev Investimentos. Confira:
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1. O que é o dólar blue?
O dólar blue é uma cotação do dólar no mercado paralelo na Argentina. A negociação acontece de forma extraoficial, sem fiscalização e autorização do Banco Central do país.
O dólar tem as cotações oficiais como o dólar comercial, utilizado nas transações comerciais, e o dólar turismo, utilizado em viagens ou na compra de produtos importados, por exemplo. O dólar blue também é uma cotação, porém do mercado paralelo.
É uma forma de fazer o câmbio entre o peso e o dólar, ou peso e real. Neste momento, com o peso desvalorizado, quem tem dólar ou real em mãos tem mais poder de compra e consegue trocar por mais pesos.
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O nome dólar blue é como o mercado paralelo de dólar é chamado na Argentina. Esse mercado secundário e não oficial também existe em outras economias.
2. Como é feita a cotação?
Por não ter uma fiscalização, o dólar blue é super volátil. A cotação varia conforme o negociado entre cambistas, doleiros e casas de câmbio não legalizadas. Na prática, isso significa que não há regras sobre a cotação, o que dificulta uma padronização.
Por isso, a cotação muda todos os dias.
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“A diferença entre os tipos de cotação é que a taxa do dólar paralelo tem um spread cambial mais baixo que a do dólar oficial. Por isso, o consumidor pode ver uma vantagem em fazer o câmbio com o dólar blue. E varia conforme a demanda, que agora está alta. Então, mesmo o lucro do cambista sendo menor, ele ganha em volume”, explica Patrocinio.
3. Dólar blue é ilegal?
Sim. O dólar blue é ilegal porque não é regulado e nem fiscalizado pelo governo ou Banco Central local.
Na tentativa de reduzir essa comercialização do mercado paralelo, o governo argentino anunciou uma medida inusitada: o turista poderá trocar dólares por um câmbio mais próximo ao encontrado no mercado paralelo em casas de câmbio autorizadas e bancos, segundo matéria do jornal argentino Clarín. O valor máximo do câmbio será de US$ 5 mil.
O Instituto Nacional de Promoção Turística, órgão do governo argentino, mostra que nos últimos seis meses de 2022, comparado com o mesmo período pré-pandemia, em 2019, a recuperação de brasileiros por lá chegou em 65%. A expectativa é chegar em 100% dos turistas no território dos hermanos nos próximos meses na comparação com 2019.
4. O dinheiro negociado via dólar blue é falso?
Pode acontecer de o dinheiro nesta operação ser falso, e o turista ter dificuldade em utilizá-lo. Esse é o principal risco.
5. Da onde vem o dinheiro do dólar blue?
É difícil rastrear a origem do dinheiro comercializado via dólar blue, mas os especialistas explicam que, geralmente, está relacionado a algum tipo de crime.
“É um dinheiro proveniente de algo ilícito, como lavagem de dinheiro, sonegação, comércio de drogas e armas. A pessoa que compra não sabe a origem. É um mercado paralelo não oficial”, acrescenta Souza, da Elev Investimentos.
Muitas vezes as notas entram em circulação, e o próprio governo não consegue distinguir a origem do dinheiro. “É o dólar que entra na economia sem deixar rastros”, completa Souza.
6. Por que as pessoas compram?
Diante da crise econômica da Argentina, muita gente compra dólares para proteger o patrimônio, visto que o peso está em queda livre – movimento que se intensificou ainda mais neste período pré-eleitoral.
“As pessoas compram dólares porque é um refúgio, uma forma de preservar seu patrimônio em momento de muita inflação. Como o governo impõe limites para a compra de dólares no câmbio oficial, esse mercado paralelo ganha força”, diz Carricat.
Na Argentina, os cidadãos podem comprar até US$ 200 por mês em dinheiro. Se precisarem de uma quantia maior, devem buscar crédito. A medida, implementada em 2019, tem como objetivo frear a fuga de dólares e estancar a perda nas reservas do país.
Uma outra regra obriga os exportadores a converter dólares americanos em pesos argentinos no prazo de cinco dias após a transação. Diante das restrições e situação complicada na economia argentina, algumas empresas estão tentando driblar o Banco Central local usando até criptomoedas. Foi o caso do clube argentino Banfield, que para receber o valor de venda de seu atleta Giuliano Galoppo, atual jogador do São Paulo, tentou contornar o governo, com o uso da stablecoin USD Coin (USDC) para fugir dessa conversão.
O turista, por sua vez, tem aproveitado o câmbio mais barato para aumentar o poder de compra, como os brasileiros que estão vivendo ‘dias de rico’ em destinos argentinos. E ao comprar o dólar blue, recebe mais pesos pela mesma quantidade de moeda trocada (seja real ou dólar).
7. Quais os riscos de comprar o dólar blue?
O turista que faz o câmbio, via dólar blue, corre o risco de lidar com notas falsas e ter problemas na hora de usar o dinheiro em compras e no pagamento de serviços.
Também corre o risco de se envolver, indiretamente, com o crime de lavagem de dinheiro, sonegação e outras ilegalidades, considerando que é uma operação ilegal. Quem é flagrado nessa situação pode sofrer as sanções previstas em lei e, até mesmo, ser preso, segundo Souza.
“Os bancos têm seus números de série, mas as pessoas comuns e pequenos estabelecimentos não sabem diferenciar as notas não registradas pelo Banco Central”, alerta o sócio da Elev.