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As fortes chuvas que atingiram em fevereiro as cidades do litoral Norte paulista, que já mataram ao menos 65 pessoas, reacendem o alerta para as mudanças climáticas e a ocorrência mais frequente de eventos climáticos extremos.
Para se ter uma ideia, o esperado para o fim de semana de Carnaval era de até 250 milímetros de precipitação, já considerado um cenário de tempestade, segundo alerta da Defesa Civil de São Paulo. Contudo, de acordo com o Governo do Estado, a região chegou a registrar mais do que o dobro do volume de chuva prevista, chegando aos 682 milímetros, o maior volume de chuva registrado por órgãos oficiais do país.
E a expectativa para março, segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), é uma tendência de chuvas próximas e acima da média em grande parte das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul – nesta última região, na parte costeira do Paraná e Santa Catarina.
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Além de ceifar vidas, as tragédias desse tipo geram também prejuízos financeiros. Um estudo realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) apontou que as perdas econômicas geradas pelos temporais ultrapassaram os R$ 55 bilhões.
O levantamento considerou o período entre 1º de outubro de 2017 até 17 de janeiro de 2022 e contabilizou ainda que os desastres decorrentes do excesso de chuvas levaram os municípios a 5.622 decretações de situação de emergência em todo o país.
Em casos como esses, muitas famílias perdem suas casas, total ou parcialmente, além de bens como automóveis. Na tragédia no litoral paulista, foram registrados pelo governo estadual 1.090 desalojados e 1.126 desabrigados.
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Dados da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais) também apontam que, somente entre os dias 19 e 20 de fevereiro, as seguradoras realizaram 2,7 mil ações de resgate nas cidades de São Sebastião, Guarujá e Bertioga, em resposta aos chamados de emergência de quem tinha o carro segurado. Este é, inclusive, o bem material mais segurado pela população brasileira — cerca de 30% da frota do país tem algum seguro. Já o alcance do seguro residencial é menor e chega a 14% das residências brasileiras.
Chuvas x seguro residencial
Com uma carteira de R$ 697 milhões em prêmios em seguros residenciais, a Bradesco Auto/RE costuma registrar uma frequência maior de avisos de sinistros de vendavais entre janeiro e abril, com crescimento de até 10 vezes na comparação com outros meses.
“No segmento residencial, a cobertura básica inclui proteção contra incêndio, queda de raio e explosão. No entanto, é possível proteger a residência de outros riscos, com coberturas contratadas conforme a necessidade de cada cliente, entre eles, desmoronamento, vendaval, furacão, ciclone, chuva de granizo, alagamento e inundação, danos elétricos e outros serviços. Apesar da frequência ser menor, se comparada à de sinistros de automóveis, as consequências de uma inundação em casa ou comércio de rua são, muitas vezes, bem mais severas, podendo comprometer integralmente a estrutura do imóvel bem como os bens internos”, explica o diretor da Bradesco Seguros, Saint’Clair Lima.
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Segundo Lima, o custo do seguro residencial costuma representar apenas 0,1% ou 0,2% do valor total do imóvel, mas é fundamental avaliar os valores referentes a cada cobertura para não subestimar ou exagerar na contratação. “O gasto com recuperação ou limpeza de um imóvel destruído é alto para quem não tem seguro. E os números demonstram que, a cada ano, casos extremos como tempestades e vendavais acontecem com mais frequência e severidade”, ressalta.
Segundo dados da companhia, somente as indenizações pagas em chamados de alagamentos cresceram 118% entre os anos de 2021 e 2022.
De acordo com Igor Di Beo, vice-presidente Técnico da seguradora HDI, enquanto a demanda por cobertura contra alagamentos no seguro residencial ainda é muito baixa, a situação é diferente quando se trata da proteção contra vendaval – lembrando que ambas não estão incluídas no pacote básico, geralmente voltado para o risco de incêndio.
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Ele conta conta que 95% dos clientes de seguro residencial da companhia possuem cobertura para vendaval. “É uma cobertura que sempre foi bastante demandada. A tangibilidade para o segurado é muito maior do que as inundações, que costumam acontecer em pontos mais específicos. A exposição ao vendaval é mais abrangente e pode ocorrer tanto no centro de São Paulo, por exemplo, quanto no interior”, explica. Só vale prestar atenção que geralmente as coberturas para vendaval são contratadas considerando de 10% a 30% do valor do imóvel e não 100%.
Di Beo afirma que nem a ocorrência de eventos climáticos extremos, como a tragédia da região de São Sebastião, costuma alavancar a procura por essas proteções, que acaba sendo diluída ao longo do ano. Também não há um perfil específico de quem compra.
A carteira de clientes da seguradora está dividida entre capitais, cidades grandes e menores, com uma maior concentração dessas apólices nas regiões Sul e Sudeste, onde a penetração do seguro também é maior. Questionado pela reportagem do InfoMoney sobre o impacto na subscrição – ou seja, na aceitação do risco pelas seguradoras – de eventos climáticos mais frequentes em regiões já mais suscetíveis e que enfrentaram situações em um passado recente, o executivo citou o caso do “ciclone bomba”, que atingiu o Sul do país em 2020.
Na ocasião, somente Santa Catarina teve prejuízos estimados de R$ 277 milhões com o fenômeno meteorológico, de acordo com o governo estadual. “A HDI e outras seguradoras continuam a segurar os bens da região. Se apenas um segurado quer a cobertura, fica inviável. Mas se vários quiserem, conseguimos diluir o risco e os custos, aplicando o conceito do mutualismo”.
De fato, não são todas as seguradoras que negam apólices com cobertura para alagamento em regiões onde há maior probabilidade de um sinistro acontecer. Mas, na prática, é bem menor o número de companhias que estão dispostas a aceitar esse tipo de risco. Segundo o corretor Richard Furck, fundador da H&H Corretora, que mora no bairro do Ipiranga, na capital paulista, sempre há caso de alagamento na região em datas próximas ao Carnaval, como ocorreu em fevereiro deste ano. “Em regiões de alta incidência, menos de 20% das seguradoras aceitam o risco. Se eu faço cotação com 15, apenas 2 devem retornar. E geralmente quem contrata apólice pensando nisso já teve esse problema”, estima.
O corretor faz um alerta sobre a diferença técnica entre inundação e alagamento, porque tem apólices que cobrem um, mas não cobrem o outro.
“Inundação é quando um corpo d’água sofre um efeito da natureza e transborda, podendo ser um rio, uma represa, etc. Já o alagamento não precisa necessariamente envolver um corpo d’água, por ser causado por um cano que estoura rua, por exemplo. E esse volume de água invade o local. Algumas apólices cobrem quando vem da natureza, mas não de estruturas hidráulicas. Minha dica é: para evitar ficar discutindo de onde vem a água, é melhor contratar todas as coberturas”.
Furck também sinaliza para a importância da contratação, por parte dos prédios, contra alagamento em seguros de condomínio, porque os prejuízos podem ser bem altos. Ele cita um exemplo de um prédio vizinho ao seu, cuja garagem fica no subsolo. Em uma ocasição, houve um alagamento na rua e a água invadiu a garagem, afetando cerca de 100 veículos estacionados no local. “Um seguro condomínio chega a custar de R$ 5 mil a R$ 10 mil, enquanto prejuízos como esses chegam a custar R$ 100 mil ou mais. Na prática, um seguro custa menos de 5% de um eventual prejuízo”, calcula.
Outra dica dada pelo corretor é o de manter a manutenção de alguns itens sempre em dia, como as calhas, para evitar negativa de cobertura. Se estiverem entupidas e causarem entrada de água na casa, é um risco agravado — e esse tipo de incidência o seguro não cobre.
Veja também: 1º episódio do vídeocast “Tá Seguro”
Carro: veja coberturas e assistências extras
O seguro automóvel é o mais contratado pelos brasileiros, que em muitos casos já optam pela cobertura compreensiva. Ou seja, garante a indenização em caso de roubo, furto, incêndio e casos de intempéries, como chuva, vento ou queda de árvore sobre o veículo, incluindo ainda a submersão parcial ou total do veículo em água doce, proveniente de enchentes ou inundações.
Contudo, para garantir a cobertura, é essencial que o segurado não agrave seu risco. Ou seja, não tente avançar com o automóvel na área alagada. Além disso, é importante estar com as manutenções em dia.
Confira, a seguir, as dicas dos seguradores nesses casos:
- O limite para atravessar um alagamento é quando a água está no máximo até metade da roda. Em caso de travessia, é preciso manter a primeira marcha e dirigir em uma rota fixa;
- Nunca entre na água de forma veloz, pois isso pode formar uma onda sobre a frente do veículo, que pode invadir a entrada de ar do motor e causar calço hidráulico;
- Caso não conheça a via, não atravesse, pois ela pode conter buracos e outros obstáculos encobertos pela água;
- Se não for possível atravessar, procure um local mais alto, desligue o carro e fique seguro;
- E nunca tente dar a partida se o veículo morrer dentro d’água, pois o motor pode aspirar água e ser danificado.
Algumas companhias têm oferecido aos clientes assistências e “coberturas extras”, para casos em que não há a perda total do veículo, mas houve algum dano. É o caso da cobertura de higienização por alagamento, oferecida pela HDI, que garante a limpeza de feltros e forrações. Atualmente, cerca de 25% da carteira de auto da companhia possui essa cobertura.
A seguradora Tokio Marine oferece algo similar: a Assistência 24h VIP, contratada por 32% dos clientes do seguro automóvel, garante a higienização do veículo, mesmo que não tenha ocorrido dano mecânico ou digital. “Mas o estofado pode ter ficado muito molhado, com lama, por exemplo, então fornecemos essa cobertura”, conta Arnaldo Bechara Filho, Diretor Auto, RD Massificados e Precificação da Tokio Marine.
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