Diferença salarial cai, mas homens ainda ganham até 51% a mais que as mulheres

Pesquisas do CNI e do site de empregos Vagas mostram que igualdade de gênero avança em ritmo lento e com muitas discrepâncias no Brasil

Equipe InfoMoney

(Pixabay)
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Nos últimos 10 anos, houve uma redução na diferença entre salários pagos às mulheres e aos homens. O índice que mede a paridade salarial passou de 72 em 2013 para 78,7, em 2023. A paridade de gênero é medida em uma escala de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior a equidade entre mulheres e homens.

Os dados estão no levantamento Mulheres no Mercado de Trabalho, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a partir de microdados do IBGE. Apesar do avanço, a discrepância ainda é grande no mercado de trabalho, especialmente em cargos de média e alta gestão, conforme mostram os dados de uma outra pesquisa do Vagas.com (site de empregos).

No patamar da diretoria, a diferença salarial é a maior: homens chegam a ganhar até 51% a mais que as mulheres. Para outros cargos a diferença fica menor, mas ainda assim é significativa: para posições de supervisão e coordenação os salários dos homens podem ser até 31% maiores que os das mulheres, enquanto em cargos de gerência são até 31% mais altos, conforme os dados do estudo. O levantamento considera os dados coletados em 2023 de cerca de 8 milhões de currículos.

Confira os dados referentes a 2023:

As diferenças salariais são inversamente proporcionais às ocupações por cargo. Isso porque a pesquisa mostra que, apesar de as mulheres possuírem maior nível de especialização, ou seja, escolaridade maior, elas têm a predominância em cargos operacionais, com 77% de ocupação nestes cargos, enquanto os homens possuem 73%.

Já nos cargos de média e alta gestão (supervisão, gerência e diretoria), há uma inversão: homens são a maioria, com 11%, enquanto as mulheres aparecem com 7% dos cargos. Ou seja, quanto mais alto o nível do cargo, maior é a discrepância entre profissionais masculinos e femininos. 

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“Embora as mulheres apresentem maior nível de especialização acadêmica, essa vantagem não se traduz igualmente em oportunidades de carreira, sendo que elas ainda encontram diversos obstáculos na ascensão profissional a cargos de liderança, o que reforça a necessidade de uma atuação mais ativa das empresas na busca por uma equidade de gênero no espaço corporativo”, afirma Luciana Calegari, especialista em recurtamento e seleção da Vagas.  

Evolução é lenta

Luciana diz que “não basta apenas criar mecanismos que reduzam barreiras contra a participação de mulheres em cargos de liderança, mas, sobretudo, ações que promovam igualdade também para aquelas que já estão nessas posições, como a igualdade salarial, uma vez que mesmo ascendendo a esses cargos, muitas delas ainda ganham menos que seus pares do sexo masculino”.

O estudo da CNI traz outros dados complementares aos da pesquisa da Vagas e mostra que a participação feminina em cargos de liderança passou de 35,7% em 2013 para 39,1% em 2023. O índice de empregabilidade das mulheres apresentou evolução entre 2013 e 2023, passando de 62,6 para 66,6, respectivamente, crescimento de 6,4%.

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Apesar do avanço, o presidente da CNI, Ricardo Alban, admite que a evolução é lenta. “É urgente ampliar o debate e implementar medidas concretas para chegarmos a um cenário de equidade plena no mercado de trabalho brasileiro”, avalia.

Em julho do ano passado, o governo federal sancionou a Lei nº 14.611 que garante igualdade salarial entre homens e mulheres e estabelece medidas para tornar os salários mais justos, aumentando a fiscalização contra a discriminação e facilitando os processos legais para garantir igualdade salarial.

Com a nova lei, empresas com 100 ou mais funcionários devem fornecer relatórios semestrais transparentes sobre salários e critérios de remuneração. Esses relatórios devem conter informações que permitam comparar salários e remunerações entre homens e mulheres de forma objetiva.

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Caso haja alguma irregularidade, serão aplicadas punições administrativas e os processos legais para corrigir a desigualdade devem ser facilitados.

Também foram instituídos canais para denunciar o descumprimento da igualdade salarial por parte de empresas e entidades em geral. As pessoas podem encaminhar os casos por meio de um portal do Ministério do Trabalho ou pelo telefone: Disque 100, Disque 180 ou Disque 158.