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Demanda aquecida por seguro de crédito faz empresas mirarem em produtos para pessoa física

Seguradora desenvolve algoritmo para análise automatizada do risco de calote de produtores rurais pessoa física e espera movimentar até R$ 5 bi

Jamille Niero

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O mercado de seguro de crédito (que protege as empresas do calote de clientes) anda bem aquecido, como mostra um recém-divulgado levantamento da CNSeg (Confederação Nacional das Seguradoras) que aponta R$ 1 bilhão em indenizações pagas de janeiro a abril deste ano – alta de 411% em relação ao mesmo período de 2022.

Tanto que vem despertando o apetite de algumas empresas do mercado de seguros a aceitar riscos de segmentos meio “esquecidos” pelo setor. É o caso de um novo seguro de crédito “de prateleira” visando o produtor rural pessoa física que a AVLA está estruturando com parceiros e segurados.

De acordo com Daniel Gaspari, gerente comercial da seguradora de origem chilena, hoje as apólices tradicionais de seguro de crédito adquiridas por empresas que têm os produtores rurais como clientes poderiam ser utilizadas para se proteger de eventual calote de Pessoas Físicas (PF).

Contudo, o processo hoje para desenhar essa apólice é muito mais trabalhoso. O que ele conta estar sendo elaborado pela companhia é um algoritmo que faça a análise do risco – utilizando as informações do imposto de renda pessoa física – de uma forma mais automatizada, agilizando o processo e permitindo um alcance maior.

“Nós estamos desenhando um algoritmo para ele poder checar o informe de rendimento dessa pessoa, rentabilidade, quanto que ele negocia, quanto que ele vende, vamos ver a área do plantio, qual a cultura, se tem seguro rural, se a área é arrendada, se é própria”, diz Gaspari elencando os fatores que compõem a análise do risco. O executivo explica que não haverá necessidade de formatação de uma nova documentação para comercializar a apólice, e que o “novo produto de prateleira” já estaria também contemplado no contrato de resseguro (seguro da seguradora).

Com isso, a expectativa da companhia é fornecer um produto complementar ao seguro rural – que indeniza o produtor em caso de perdas da produção. “O que vai acabar acontecendo é que uma propriedade que teve um impacto por causa de um El Niño, de uma enchente ou até de uma escassez, ela não vai conseguir colher a safra dela e não vai conseguir honrar com esse pagamento dela para trás, ou seja, com os fornecedores, mas ela vai estar amparada pelo seguro rural, então a gente vem pra complementar o mercado e dar cobertura financeira para as empresas”, complementa Gaspari, que estima atingir um valor médio de R$ 5 bilhões em riscos analisados ao ano.

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No momento, ele está em uma viagem ao Triângulo Mineiro em tratativas com potenciais empresas que comprariam o seguro e também associações e cooperativas de produtores para entender melhor as necessidades dos envolvidos. “Estive em uma empresa que eu não posso falar o nome, mas ela tem faturamento de R$ 3 bilhões, ela vende adubo, e 90% é para o produtor pessoa física. Se ela fosse ter um seguro de crédito, ela ia conseguir um seguro de 10% só da carteira dela, de R$ 300 milhões”, exemplifica.

De acordo com Aline Dalindo, Head of Financial Solutions Latin America da corretora WTW, apesar de o seguro de crédito existir no Brasil há cerca de 25 anos, as seguradoras tradicionais não tinham muito apetite para oferecer soluções como essa. “Nunca se cobriu a pessoa física como eu e você porque é difícil de cobrar essas dívidas”, diz ela.

Isso porque após o prazo de 5 anos a dívida “caduca”, ou seja, após esse período, o débito de pessoa física deixa de constar em serviços de proteção ao crédito. “Mas o produtor rural vinculado a uma operação agro – de agronegócio, não importa qual, se é pecuária, agrícola, etc, ele tem um vínculo e tem um imposto de renda dele pelo qual consegue comprovar que ele tem uma operação, digamos, de um negócio. Porém, ele não tem um CNPJ, ele tem um CPF”, sinaliza a especialista.

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Aline explica ainda que as operações previstas para serem aceitas no “novo produto” consideram um prazo de até um ano. “Um dos problemas também de não ter isso [produto com foco no produtor PF] no Brasil, é porque os prazos de safra de soja e outros produtos de agronegócio são, às vezes, maiores que um ou dois anos. Por isso também as seguradoras não costumam cobrir”, continua Aline.

Outro ponto citado por ela é que as seguradoras do ramo até aceitam incluir produtores PF numa apólice de seguro de crédito, contanto que mesclado com outros produtores PJ maiores. “Neste caso, a gente quer atingir o mercado médio e pequeno, de produtores pequenos e médios que não têm nem a intenção de ter uma empresa [formalizada em CNPJ]”, reforça a especialista.

Estabelecimentos agropecuários

Segundo dados do último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2021 (com dados de 2017), o país tem mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários.

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Conforma a definição utilizada pelo IBGE, estabelecimento agropecuário é toda unidade de produção ou exploração dedicada, total ou parcialmente, a atividades agropecuárias, florestais ou aquícolas, independentemente de seu tamanho e de sua forma jurídica. Desse volume, 77% (mais de 3 milhões) foram classificados como de agricultura familiar.

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa