Contra golpes, população precisa de educação financeira e cibernética, afirma ‘pai do Pix’

Carlos Brandt diz que maioria das fraude envolvendo o sistema são 'de engenharia social', quando golpistas induzem as vítimas a contribuírem com o crime

Lucas Sampaio

(Crédito: Shutterstock)
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Mais de 130 milhões de pessoas já usaram efetivamente o Pix — sistema de pagamentos que completou 2 anos nesta semana — e o Brasil “pode ser essencial na interligação de sistemas de pagamentos ao redor do mundo”, afirma Carlos Eduardo Brandt, chefe-adjunto do departamento de competição e de estrutura do mercado financeiro do Banco Central (BC).

Chamado por alguns de “criador/pai do Pix”, Brandt dispensa a alcunha e diz que o sistema “é fruto de um trabalho coletivo do Banco Central e envolveu pessoas de diversos departamentos”. “O sucesso é resultante do alto nível de qualificação técnica e engajamento dos servidores públicos. Além disso, contou com um elevado empenho das instituições financeiras e instituições de pagamento”.

O chefe de departamento do BC diz que o Pix tem “como pilar fundamental a segurança” e afirma que a maioria dos casos de fraude são “golpes de engenharia social” (quando criminosos induzem as vítimas a contribuírem com o crime, enviando dados confidenciais, por exemplo). “É preciso atuar na educação financeira e cibernética da população”, diz.

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Brandt diz também que os casos recentes de ataques e vazamentos envolvendo o Pix são “frutos de falhas pontuais em instituições participantes que não estavam totalmente aderentes às regras previstas pelo Pix” (o BC comunicou recentemente o vazamento de 137 mil chaves Pix de clientes do Abastece Aí, do Ipiranga). “Nenhum caso de vazamento envolveu dados sensíveis, todos foram rapidamente corrigidos e foi dada total transparência à sociedade, mesmo nos menores casos”.

Veja abaixo as respostas atribuídas ao chefe-adjunto do departamento de competição e de estrutura do mercado financeiro do BC. Por um pedido da assessoria de imprensa, as perguntas foram enviadas e respondidas por e-mail:

1. Como o Sr. avalia o Pix 2 anos após a sua implementação? Quais serão os maiores desafios para o futuro do sistema de pagamentos do BC nos próximos 2 anos?

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O Pix é reconhecido nacional e internacionalmente como um caso de sucesso. A adoção massiva nos mais diversos casos de uso ao longo desses 2 anos está em linha com as expectativas do BC, pois foi concebido para ser versátil, acessível e democrático, embora tenha superado o esperado em relação à velocidade de sua adoção, já tendo superado a marca de 2 bilhões de transações e R$ 1 trilhão por mês.

Foi incorporado no dia a dia das pessoas, empresas e instituições governamentais em um curtíssimo espaço de tempo e tem feito frente aos objetivos públicos ao qual foi desenhado, promovendo redução de custos, eficiência e competitividade no setor de pagamentos, alavancando a digitalização e impulsionando a inclusão financeira e novos modelos de negócio.

Para os próximos anos, iremos continuar aperfeiçoando o que já está no ar e também iremos desenvolver novas funcionalidades que irão ampliar ainda mais o uso e os benefícios do Pix, sempre pensando na melhor experiência para os usuários e tendo como pilar fundamental a segurança.

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2. O que o Sr. avalia como decisivo para uma aceitação tão rápida e tão ampla do Pix pela população brasileira?

São vários fatores que somados contribuíram para a rápida adoção do Pix. Destaco em especial:

3. Qual é a principal virtude do Pix e o que o Sr. considera que é seu maior defeito? O que está sendo feito para melhorar essa deficiência?

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Não percebemos uma deficiência inerente ao Pix. Como toda solução inovadora, são promovidos ajustes e aprimoramentos com o crescimento de sua adoção e, consequentemente, com a ampliação dos casos de uso. Vemos isso como um processo evolutivo natural e permanente.

4. Apesar da grande adesão ao Pix – e em tão pouco tempo –, o Relatório de Economia Bancária 2021 do próprio BC revelou recentemente que 46% da população adulta do Brasil nunca fez um Pix (mais de 82 milhões de pessoas). A que o Sr. atribui isso e como fazer para que o sistema de pagamentos do Banco Central chegue a mais pessoas?

Os números mais atualizados mostram que mais de 130 milhões de pessoas já usaram efetivamente o Pix desde o seu lançamento, o que é um número extremamente significativo, principalmente se considerarmos o tempo de funcionamento e as dimensões do Brasil.

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5. Um dos receios de parte da população em relação ao Pix está relacionado aos golpes. Como tornar a ferramenta mais segura e o que o BC pode fazer para combater os vários tipos de fraude envolvendo o Pix?

O Pix conta com mecanismos inovadores que ajudam a prevenir casos de fraudes, bem como facilitam o ressarcimento das vítimas, nos casos de fraude consumada. Fazemos o acompanhamento contínuo das medidas e a segurança no Pix é entendida como um pilar fundamental e em constante aperfeiçoamento. A maioria dos casos em que ocorre fraude são frutos de golpes de engenharia social, portanto é preciso atuar na educação financeira e cibernética da população.

6. Recentemente tivemos casos pontuais de vazamentos envolvendo o Pix. O BC pretende anunciar em breve mudanças no funcionamento do sistema para fortalecer a segurança contra fraudes e vazamentos de dados?

Cabe esclarecer que os sistemas providos pelo Banco Central não foram objeto de ataque e vazamento, sendo os incidentes reportados frutos de falhas pontuais em instituições participantes as quais não estavam totalmente aderentes às regras previstas pelo Pix. O Banco Central possui mecanismos para proteção dos dados pessoais, bem como estabelece exigências e procedimentos a serem implementados pelos participantes.

O BC realiza o monitoramento constante de consultas às chaves Pix e realiza uma série de ações de verificação de aderência da atuação dos participantes ao Regulamento do Pix. Por fim, cabe ressaltar que nenhum caso de vazamento envolveu dados sensíveis, todos foram rapidamente corrigidos e foi dada total transparência à sociedade, mesmo nos menores casos.

7. Quanto a greve dos servidores do BC neste ano afetou a programação de melhorias do Pix? O que já deveria ter saído do papel neste ano (e ainda não saiu) e quais melhorias devem ser lançadas nos próximos meses?

Naturalmente, a greve atrasou algumas entregas, mas nada que comprometa de forma permanente a agenda prospectiva de entregas para a evolução do Pix.

8. Muitos o chamam de “pai do Pix”. O sr. gosta dessa alcunha? Quais outras pessoas o Sr. destacaria como responsáveis pela criação do sistema de pagamentos do BC?

O Pix é fruto de um trabalho coletivo do Banco Central e envolveu pessoas de diversos departamentos, o sucesso é resultante do alto nível de qualificação técnica e engajamento dos servidores públicos. Além disso, contou com um elevado empenho das instituições financeiras e instituições de pagamento.

9. Recentemente, vários países demonstraram interesse em desenvolver sistemas de pagamentos similares ao Pix. O BC já está colaborando formalmente com algum governo estrangeiro, seja com algum tipo de consultoria ou transferência de tecnologia? Caso sim, com quais? Caso não, há discussões para esse tipo de parceria em um futuro breve?

O Banco Central atua de forma bastante colaborativa com toda a comunidade internacional. Já participamos de inúmeros eventos e realizamos diversas reuniões técnicas com bancos centrais de países de todos os continentes. Na próxima semana, inclusive, estamos promovendo um workshop internacional com a participação de mais de 25 países, em que iremos apresentar detalhadamente o Pix.

10. O Brasil pode liderar a criação de um tipo de “Pix internacional”, que eventualmente possa substituir o Swift?

Pela relevância do Pix e o volume de transações transfronteiriças que o país possui, certamente o Brasil pode ser essencial na interligação de sistemas de pagamentos ao redor do mundo. O Banco Central vem acompanhando diversas iniciativas, e ainda não há uma solução vencedora ou um modelo definido, mas as perspectivas são bastante promissoras. Se a iniciativa for priorizada pelos diferentes agentes envolvidos, certamente o Pix internacional será uma realidade no futuro.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.