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SÃO PAULO — Com escritório em São Paulo desde 2019, o N26, maior banco digital da Europa, de origem alemã, quer finalmente estrear sua operação no Brasil no primeiro semestre de 2022. A fintech deu início a uma fase de testes de seu aplicativo para pessoas que previamente se inscreveram em uma lista de espera, hoje com mais de 200 mil nomes.
“A gente teve alguns problemas internos e logo veio a pandemia também, então decidimos pausar a operação [que era para ter estreado no país em 2019]. Algumas pessoas a gente mandou de volta para a Alemanha e as realocamos, já outras, desligamos”, conta Eduardo Prota, CEO do N26 no Brasil. “Eu continuei aqui, com o objetivo único de receber a licença do Banco Central.”
A autorização veio no final de 2020. Foi a SCD (Sociedade de Crédito Direto), de instituição financeira que realiza operações de empréstimo, financiamento e aquisição de direitos creditórios por meio de plataforma eletrônica, com o uso de capital próprio. É uma autorização mais completa que a SEP (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas), também utilizada por algumas fintechs, que não permite o uso de capital próprio.
“Foi quando a gente retomou nosso projeto. Montamos um time de pouco mais de 50 pessoas. Esse time tem todas as funções aqui: tecnologia, produto, marketing. A gente está construindo a operação do zero. A processadora é local, core banking é local, infraestrutura é local. Todo o nosso sistema foi criado localmente para suportar nossa solução no Brasil. A gente traz do N26 alemão a marca, o design system, que é a cara, o perfil do N26, mas a tecnologia toda é local”, explica Prota.
O Brasil é a 26ª operação do N26 no mundo — além de 24 países na Europa, o banco digital também está presente nos Estados Unidos. A decisão de ter uma operação tecnologicamente isolada no Brasil é por causa das características únicas do país em termos de produto. Na Europa, por exemplo, não há compras parceladas no cartão de crédito, um costume dos brasileiros há muitos anos, assim como boletos.
“A gente quer começar uma segunda geração de fintechs, dar um passo novo aqui no Brasil para poder se inserir no mercado local”, diz o CEO do banco. “A proposta não é lançar mais um banco digital no mercado. A equipe local está empenhada em trazer uma solução efetiva para o planejamento financeiro, aplicável ao dia a dia das pessoas.”
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Para o investimento, o N26 está capitalizado. A marca global anunciou recentemente uma nova rodada de aporte, a Série E, de US$ 900 milhões. Foi a maior rodada de financiamento já feita para um banco digital na Europa e a captação histórica avaliou a empresa em mais de US$ 9 bilhões.
Como vai funcionar o N26?
Os testes vão determinar exatamente como o N26 vai funcionar no Brasil, mas a ideia é que ele seja um banco digital completo, oferecendo tudo o que as grandes fintechs do país oferecem, tanto para pessoas físicas quanto para microempreendedores (MEI).
Além de ser 100% digital e provavelmente ter taxas menores, característica das fintechs, o N26 defende uma monetização também diferenciada em relação aos bancos tradicionais. “Se antes das fintechs da primeira geração aqui no Brasil vendiam produtos. ‘Eu vendo crédito mais barato. Eu vendo cartão sem taxa.’ Hoje, a gente quer oferecer um sistema operacional mais fácil”, afirma Prota.
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“O mercado hoje tem algumas práticas de monetização que são estranhas. Uma delas são as tarifas, que são usadas para punir o cliente. Só vai ter tarifa zero na conta se fizer x transações por mês. Sempre faz, mas num único mês que não fizer, será cobrado. É uma punição. Isso traduz muito a relação que os brasileiros têm hoje com os bancos tradicionais.”
O executivo disse que a relação ideal entre cliente e empresa é parecida com a que as empresas de SaaS (software as a service) fazem hoje. “Eu tenho aqui uma solução e você pode ir usando de graça. A medida que essa solução for te trazendo retorno positivo e você quiser ampliar seu uso, aí eu posso te oferecer uma experiência melhor e ser remunerado por isso”, explica.
“É isso que o N26 já faz muito bem lá fora. A gente consegue gerar bastante valor para quem usa a nossa plataforma. Isso muda tudo. É uma empresa muito mais voltada às necessidades do cliente. Essa primeira geração de fintechs focou bastante em oferecer crédito e em gerar receitas com pagamentos. A gente vai continuar tendo essas receitas, mas vamos focar bastante em serviços e em investimentos.”
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Para o CEO do N26 no Brasil, o recém-lançado Open Banking no país vai ajudar a entender melhor a relação dos brasileiros com seu dinheiro e oferecer alternativas práticas para suas necessidades. A segurança, por exemplo, é um ponto crucial — o volume de fraudes por aqui é muito maior do que na Europa.
A fintech já tem parcerias com diversas empresas para abrir sua operação ao público, como por exemplo com a Mastercard, que será a bandeira do cartão de crédito do N26 no país. Sobre uma integração das operações do N26 brasileiro aos N26 no exterior, Prota disse que num primeiro momento isso não deve acontecer.
“A gente quer começar realmente resolvendo o problema do brasileiro, do morador do Brasil. A gente não quer ser um banco de viagem. A gente deve facilitar o envio de dinheiro ao exterior, mas não é nosso foco. Ao longo do tempo vamos oferecer soluções que façam o usuário se sentir parte de uma comunidade global, mas isso é bem delicado, depende de uma série de autorizações de reguladores. É algo que vamos construir juntos ao longo do tempo.”
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