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SÃO PAULO – Com a chegada do Pix, o novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, os consumidores têm agora mais uma opção de meio de pagamentos para a Black Friday, que acontece na última sexta-feira deste mês (27).
De acordo com um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), em parceria com a consultoria Ebit/Nielsen, o faturamento das vendas online da Black Friday 2020 deve superar o recorde do ano passado: a estimativa para este ano é de crescimento de 27% nas vendas em relação a 2019, atingindo a marca de R$ 4 bilhões.
Mas como o Pix se encaixa nesse panorama? O novo sistema vai ser aderido em larga escala pelos consumidores e lojistas já nesta Black Friday? Os e-commerces e lojas do país estão preparados para atender a demanda com Pix?
O InfoMoney conversou com especialistas para esclarecer essas dúvidas e responder a seguinte pergunta: a Black Friday deste ano será a prova de fogo para o Pix?
Confira:
Os consumidores estão se adaptando
O consenso entre os especialistas é de que a Black Friday será um primeiro passo no processo de construção da credibilidade do sistema entre consumidores e lojistas, mas não será a principal prova porque o Pix acabou de ser lançado.
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“A adesão dos consumidores ainda não será concreta e abrangente e nem todos os vendedores e lojistas estarão com o sistema funcionando. E mesmo quando as pontas aderirem, alguns usuários ainda estarão receosos em relação à segurança e às fraudes”, avalia Henrique Castro, professor de finanças da FGV-EESP.
Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, lembra que o Pix ainda não tem a função de crédito, que é a principal forma de pagamento usada na Black Friday. Portanto, ele não acredita que o Pix vai substituir outras transações de forma significativa. “O Pix deve ser usado para transações à vista e de valores mais baixos – principalmente na substituição das transações que seriam feitas com cartão de débito”, diz.
Os tipos de produtos mais vendidos na sexta-feira de descontos corroboram com a tese de Zanini. “Não é todo consumidor que está disposto a pagar uma TV com o Pix, por exemplo. Por isso, acho que o cartão de crédito ainda é competitivo e deve ter um volume de vendas maior”, avalia.
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André Ferraz, CEO e co-fundador da Inloco, empresa de segurança e performance de aplicativos, lembra que tem outro fator na conta que precisa ser considerado e que pode reduzir as transações com Pix nesse primeiro momento.
“O Pix é novo. Muita gente ainda está conhecendo o sistema e tem receio de usar. Não devemos ter um volume gigantesco na Black Friday. O Pix abre espaço para novos negócios e as soluções devem surgir em breve para aumentar o ticket médio das transações, como o parcelamento, por exemplo. Mas precisa de tempo de adaptação. Enquanto isso, os consumidores tendem a ser mais conservadores”.
De acordo com os dados mais recentes do BC, são 32,5 milhões de pessoas físicas cadastradas no Pix. “Se você considerar a população do Brasil representa cerca de 15%. Muita gente ainda não fez o cadastro”, complementa Castro.
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Ricardo Ferreira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV-RJ, acrescenta que o lançamento do Pix também não deve fazer diferença nas vendas da Black Friday.
“O volume de compras não deve aumentar por causa do Pix. As vendas já estão dimensionadas. O Pix é apenas mais uma opção para o cliente. Parte da população vai experimentar o meio, mas será uma pequena parcela, que não deve representar muito no total de transações”.
Os vendedores ainda se adaptando ao Pix
Um levantamento feito pela empresa de meios de pagamentos Stone com 1.065 mil lojistas, no início de novembro, mostra que 77% dos empreendedores brasileiros ainda não estavam prontos para realizar operações via Pix.
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Inge Ommundsen Neto, consultor do Sebrae-SP, contou que principalmente os micro e pequenos empreendedores ainda desconhecem os mecanismos do Pix. “Os empreendedores estão cientes do que é o Pix, estão cadastrados, mas ainda têm dificuldades de aplicá-lo em seus negócios, não sabem como cobrar, como receber. Por isso, a Black Friday será o primeiro teste e precisamos acompanhar”, diz.
Nabil Sahyon, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, que conta com mais de 40 mil associados, pontua que, de forma geral, as lojas associadas de grande porte estão mais preparadas para vender por meio do Pix, mas ainda assim nem todas estão prontas.
“A preferência do cliente ainda será pelo cartão, mas as lojas não querem perder dinheiro especialmente neste ano de crise. Então, estão se preparando, caso o cliente escolha o Pix. Mas falhas podem acontecer, os clientes podem preferir outro meio, etc. Leva tempo para todas as pontas da transação se ajustarem”, avalia.
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Sahyon entende que o Pix é uma oportunidade para as lojas por ser menos custoso e instantâneo. “Mas quem vai escolher se vai se popularizar é o cliente. As lojas estão se equipando para ter as opções e não perderem vendas”, diz.
Ferraz lembra que muitos e-commerces e lojas poderão aproveitar para oferecer vantagens no pagamento com o Pix.
“Com o corte de intermediários e o vendedor recebendo o dinheiro na hora e pagando menos por isso ou até ficando isento de taxas, os estabelecimentos poderão repassar o custo menor para o cliente. Poderemos ver boas promoções – se o cliente estiver disposto a pagar com a nova solução na Black Friday”.
Veja como usar o Pix no seu negócio.
Falhas podem acontecer
A Black Friday também servirá como o primeiro teste para o Pix em relação a eventuais falhas operacionais que podem acontecer. O próprio Banco Central explicou, na coletiva de lançamento do Pix, que por parte do BC não houve nenhuma instabilidade no primeiro dia de funcionamento do novo sistema, mas muitas operações não foram completadas.
“Houve um volume de operações que não foram completadas em um banco ou outro, e monitoramos isso, pode ter havido um erro na formatação da chave pela instituição. Quando há um volume grande de operações rejeitadas, entramos em contato com os bancos”, afirmou Roberto Campos Neto, presidente do BC. Segundo ele, 6,5% das transações tiveram esse problema na segunda-feira (16), dia do lançamento.
Ferreira, da FGV-RJ, diz que via de regra o sistema está robusto e pronto para transacionar milhões de operações por segundo, mas que erros e instabilidades podem acontecer- e nesse início falhas pequenas já podem ter grande repercussão.
“São muitas empresas entrando no sistema, problemas podem acontecer. No pagamento, o app do banco pode não reconhecer o QR Code; ou a transação não é completada por um erro de formatação no processo. O que precisamos monitorar é como as instituições vão lidar com essas questões. Em princípio, o Pix é o que temos de mais seguro, com o BC olhando de perto e todo mundo querendo mostrar serviço. Mas podemos esperar ruídos”, diz Ferreira.
O BC afirmou que não tem como prever um aumento no volume de transações com o Pix na Black Friday, mas garantiu que o sistema está pronto para encarar os desafios.
“O uso do Pix para pagamento de compras na Black Friday depende de os varejistas já aceitarem esse método de pagamento e da população optar por ele. Não há como prever se haverá um movimento de intensificação já na Black Friday, uma vez que o lançamento do Pix é bastante recente. Mas, se houver, o ecossistema está preparado para lidar com um volume mais elevado”, disse o BC em nota enviada ao InfoMoney.
Pix no Natal
Apesar do teste na Black Friday, os especialistas citaram o Natal como uma data ainda mais desafiadora para o sistema como um todo. “A Black Friday acontece muito perto do lançamento do Pix, é natural uma cautela em relação ao uso. Mas no Natal a adesão deve aumentar porque as pessoas e os lojistas terão um prazo maior para se acostumar com essa forma de pagamento – além de ser um período de compra maior”, diz Castro, FGV-SP.
Zanini, da Dinamo Networks, concorda. “Acho que o Natal é que vai ser a prova de fogo. Milhões de pessoas também vão às compras no período. Na Black Friday, o Pix estará verde, com o aumento na demanda vai amadurecer em todos os sentidos”, diz
Neto, do Sebrae-SP, vai na mesma linha. “A infraestrutura do Pix já dá conta do volume de transações, mas no Natal os empresários terão tido tempo de aprender e testar o sistema e vão oferecer a opção com mais convicção”.
Por outro lado, Marcelo Queiroz, gestor comercial focado em serviços financeiros da ClearSale, acredita que o Natal deve ajudar a popularizar o Pix, mas o maior processo de adaptação dos consumidores e a curva de maturidade do sistema devem ficar para 2021. “É uma questão de tempo até o Pix engajar pessoas e a adesão vai depender muito da performance dos aplicativos das instituições e experiência do cliente”, diz.
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