Analistas apontam nove small caps que podem surpreender em 2011

Valid lidera apostas e analistas demonstram preferência por ações voltadas ao mercado interno, como Marisa e Karsten

Tainara Machado

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SÃO PAULO – Enquanto o Ibovespa encerrou 2010 com avanço de 1,04%, o índice de Small Caps da bolsa brasileira teve performance superior em mais de 20 pontos percentuais, fechando o ano com valorização de 22,74%. E não são poucas as ações dentre as que compõem o índice que encerraram o ano com alta superior a 50%. 

Como são empresas mais voláteis e consideradas mais arriscadas, é natural que a expectativa de retorno seja maior. “São empresas que o mercado vê como mais arriscadas porque não têm tanta liquidez e quem quer se desfazer dos papéis tem que aceitar o preço que o mercado está colocando”, observa Marcus Vinícius Tsukuda, analista de renda variável da Paraná Banco Asset Management. No entanto, pra quem investe no longo prazo, esse risco acaba sendo bem minimizado, acredita o analista. 

São também empresas que recebem menor atenção dos investidores e, por isso, existem companhias cujo potencial o mercado ainda não enxergou. No entanto, não adianta comprar sem conhecer os fundamentos da companhia. “Compramos quando acreditamos que o negócio tem futuro”, declarou Tsukuda. 

Além disso, com a valorização dessas empresas nos últimos dois anos, é necessário ser mais seletivo nas escolhas. “A maioria das small caps sofreu durante a crise, mas valorizou-se nos últimos dezoito meses, o que deixa um pouco menos de espaço para performance daqui pra frente”, sugere Guilherme Assis, analista de small caps do Raymond James Brasil. 

Por isso, o cenário para 2011 é um cenário em que a estratégia de stock picking, ou seleção de ações, parece o melhor caminho a ser adotado, acredita Daniel Castro, analista-chefe da DLM. Em sua opinião, a cena externa ainda conturbada, aliado à pressão inflacionária e perspectiva de alta da taxa básica de juros, exige boa análise para identificação de empresas com potencial de retorno relevante (taxa de juros mais um prêmio de risco). 

Apesar da necessidade de ser mais criterioso, os analistas ainda observam ações que podem ser interessantes na composição da carteira para o próximo ano. Raphael Figueredo, analista técnico da ICAP Brasil, prefere Drogasil e SulAmérica. Já Guilherme Assis tem preferência por Amil e Marisa. Daniel Castro aposta na Ideiasnet e na Valid. Esta última empresa, anteriormente chamada de ABNote, também está entre as seleções de Marcus Tsukuda, que enxerga potencial ainda em Battistella, Karsten e Fras-Le.

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Confira a seguir o que baseia as indicações dos analistas consultados pela InfoMoney: 

Valid
Até novembro de 2010, a Valid era conhecida como ABNote, o nome do antigo controlador. Atualmente, a companhia tem capital pulverizado em bolsa. Embora seu nome tenha mudado, o segmento de atuação não sofreu nenhuma alteração: a companhia continua focada na produção de cartões bancários magnéticos e com chip. “O mercado de meios de pagamento passa por um aumento de concorrência, com entrada de novas adquirentes e perda de exclusividade, com potencial de crescimento muito forte”, afirmou Daniel Castro, da DLM. 

A expectativa é que este seja um segmento que cresça forte em 2011, com ingresso de mais pessoas na classe C e D e lançamento de uma bandeira nacional, a Elo, o que beneficia a Valid justamente por ser uma das principais fabricantes de cartões bancários. “Grande parte dos nossos cartões são fabricados pela Valid, conseguimos visualizar bem o produto, que está inserido em nosso dia a dia”, indica Marcus Tsukuda. 

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A empresa ainda fabrica cartões SIM para telefonia móvel, que também tem potencial de crescimento muito grande, lembra Castro. A companhia ainda atua no segmento de sistemas de identificação, como selos de cartórios, documentos para veículos e carteiras de motoristas. “Existe uma série de projetos para aumentar a tecnologia e a quantidade de informações e até mesmo unificar sistemas de identificação no Brasil, e a Valid será uma das principais fornecedoras desse processo”, apontou o analista da DLM. 

Esta parte de serviços gráficos, que ocasionou alguns problemas em 2010, sofreu um reajuste, como foco nos produtos de maior valor agregado, e já passou a repercutir positivamente nos balanços da companhia, destacou o analista da Paraná Banco Asset Management, que acredita que a companhia não está bem avaliada pelo mercado. 

Battistella
A Battistella é outra das quatro apostas em small caps feitas por Tsukuda, da Paraná Banco Asset Management. A ação compõe atualmente a carteira do JMalucelli Small Caps FIA (Fundo de Investimento em Ações), ao lado de outros oito papéis. A companhia é divida em quatro segmentos: florestal, veículos pesados, distribuição e logística. 

Na primeira área de atuação, a companhia administra o manejo de aproximadamente 40 mil hectares de terras próprias, tanto no plantio de Pinus taeda como em áreas de preservação ambiental. Em veículos pesados, a companhia desponta como a maior distribuidora de caminhões Scania do País, um dos braços da empresa que tendem a gerar valor, já que a demanda por veículos está aquecida, afirma Tsukuda.

No entanto, é a parte de logística que o analista considera que o mercado ainda não olhou com atenção. A companhia tem participação indireta no porto de Itapoá, localizado na divisa entre o Paraná e Santa Catarina. Inaugurado em dezembro de 2010, o porto deve entrar em funcionamento ainda no primeiro trimestre de 2011. “Ele começará com capacidade para 300 mil contêineres por ano, é um porto grande e a hora que entrar em operação irá despertar a curiosidade do mercado”, acredita o analista, que aposta que este movimento será observado já neste ano. 

Karsten
Com foco em empresas voltadas para o mercado interno e com produtos visíveis no cotidiano, a Karsten é mais um dos papéis citados como atrativos pelo analista de renda variável da Paraná Banco Asset Management. A companhia está presente na parte de cama, mesa e banho desde o processamento do fio até a confecção da peça.

No primeiro semestre de 2010, a empresa adquiriu a Trussardi por R$ 28 milhões, ampliando assim sua atuação no mercado de luxo e demonstrando o empenho da administração para o crescimento da empresa, apontou o analista. A Karsten ainda se mostra competente para lidar bem com qualquer cenário, avalia Tsukuda, seja de demanda desaquecida, como se viu em 2008 e meados de 2009, seja de forte expansão do consumo, como observado no último ano. A receita líquida no terceiro trimestre foi de R$ 72 milhões, R$ 7 milhões acima do trimestre anterior, o que o analista considera um número interessante. “O mercado ainda não precificou o quanto a empresa vale”, afirmou. 

Fras-Le
Fundada em 1957, a Fras-Le é a maior fabricante da América Latina de pastilhas de freio e a maior fabricante do mundo de lonas para veículos pesados. É também uma companhia internacionalizada, com fábricas na China, nos Estados Unidos e no Brasil e com centros de distribuição e escritórios em outras partes do mundo. De acordo com a própria Fras-Le, a empresa mantém uma estruturada equipe para atender os clientes nos mais de 80 países dos cinco continentes onde atua.

“É uma empresa global e seu preço está bem abaixo do que acreditamos ser justo, especialmente por se tratar de uma companhia de renome”, avaliou Marcus Vinícius Tsukuda. Subsidiária da Randon (RAPT4), a empresa tem por objetivo ter faturamento de R$ 1 bilhão até 2013. O analista ainda elogia a boa distribuição das receitas da companhia entre mercado externo e interno e atuação junto a montadoras, apesar de grande parte do negócio ser voltado para o mercado de reposição de peças. 

O analista ainda ressalta que é uma empresa presente no cotidiano do investidor, já que com segurança não se brinca. “Pode-se até delegar a troca de alguma outra peça do carro, mas quando há um problema no freio, como é item de segurança, logo corremos para trocar”. 

Amil
A Amil é uma das preferências de Guilherme Assis, do Raymond James, entre as small caps que fazem parte de seu universo de cobertura. Pertencente ao setor de saúde, a companhia vende planos e opera num mercado com subpenetração e capacidade de incremento substancial, já que tem forte correlação com ganhos de renda e geração de empregos, avalia Assis.

Além disso, o analista acredita que a companhia tem um modelo de negócios bastante sólido, com indicadores operacionais superiores aos de seus principais competidores, já que a companhia tem vantagem competitiva por ser semi-integrada. Como parte dos serviços contratados é feito em hospitais próprios, ela ganha uma vantagem operacional que se reflete na margem bruta e no índice de sinistralidade, por exemplo, “os melhores da indústria”, aponta Assis. 

O analista ainda enxerga que a Amil está bem posicionada para ser uma consolidadora do mercado. A companhia tem um bom histórico, principalmente com a aquisição da Medial no final de 2009. Assim, além do crescimento orgânico, a Amil ainda pode realizar novas compras. “Esses fatores combinados, aliado à avaliação do atual preço da ação, sugerem um investimento atrativo”, conclui o analista. 

Marisa
Para Guilherme Assis, a Marisa é um investimento de valor. Em parte por causa da liquidez enxuta, o papel é negociado com desconto em relação aos seus principais pares e por isso tem potencial de valorização mesmo após o avanço superior a 130% no último ano. Guilherme Assis lembra, por exemplo, que o desempenho foi inferior ao da Cia Hering (HGTX3), outra companhia da qual ele gosta mas cujo valuation já ficou um pouco mais apertado após o avanço de 180% em 2010.

Além desse desconto, a Marisa, na opinião do analista, tem um bom posicionamento de mercado para se beneficiar do crescimento da classe C, já que a empresa possui mais lojas de rua e preços menores do que de algumas competidoras, como a Lojas Renner (LREN3), por exemplo. 

Essa vantagem competitiva ainda é evidenciada pela existência de modelos de lojas menores, que são adaptáveis a shoppings de menor porte. A Marisa ainda inovou com o lançamento das lojas diferenciadas, de lingerie, indica o analista. Vale notar ainda que em setembro a companhia ampliou em 14 o número de lojas que pretendia inaugurar em 2010, totalizando o montante de 53 novos estabelecimentos no ano. 

“A Marisa consegue combinar crescimento maior da área de vendas, por causa desse formato flexível, com crescimento das vendas dentro das próprias lojas”, afirmou o analista do Raymond James. Uma iniciativa que poderia contribuir para realizar esse potencial de valorização que o analista enxerga na empresa seria o aumento da liquidez, embora nas atuais projeções Assis não leve em conta essa aposta.

Para tanto, a família controladora, que detém 75% das ações atualmente, precisaria vender parte de sua participação no mercado e assim aumentar o free float, que atualmente é de 25% mas centrado nas mãos de poucos e grandes investidores. 

Ideiasnet
Para Daniel Castro, analista-chefe da DLM, outra alternativa interessante para 2011 são os papéis da Ideiasnet. A companhia é uma holding de participações, com foco em empresas do setor de tecnologia no Brasil e na América Latina. Em busca de maior dinamismo no portfólio, explica Castro, a companhia anunciou em 2010 alguns desinvestimentos. 

O último foi anunciado recentemente, com a venda para a Tiger Global Management da Net Movies por R$ 11,1 milhões, movimento elogiado por analistas tanto pelo momento em que ocorreu a operação quanto pela gestão da companhia e o preço obtido no negócio. Essa “limpeza” no portfólio, avalia o analista, evidencia o foco da administração da companhia em empresas e segmentos com potencial de valorização diferenciado. 

No final de 2009, a companhia realizou algumas mudanças no Conselho de Administração que propiciaram esse ano de ajustes internos na estratégia. “2011 deverá ser um ano de consolidação desse caminho adotado”, sugeriu o analista, avaliando que a companhia é uma boa oportunidade com desconto na bolsa. 

Drogasil
Do ponto de vista da análise técnica, Raphael Figueredo, analista técnico da ICAP Brasil, avalia que a Drogasil está dentro do que convenciona-se chamar de uma onda de número 3, que configura o mais extenso dos ciclos para um papel. Desse modo, a expectativa é que em 2011 as ações da companhia deem continuidade a essa onda. Os primeiros objetivos dos papéis estariam em R$ 15,66 e depois R$ 16,80. 

A tendência, acredita o analista, é que após o rompimento do primeiro patamar os ativos das Drogasil continuem em tendência de alta, com ritmo “devagar e sempre”, numa inclinação não tão elevada, mas contínua desde abril de 2009. Figueredo ressalta ainda que as ações da empresa estão respeitando muito uma região de suporte em R$ 14,05 e, embora o papel já esteja esticado, o analista não enxerga nenhuma reversão de tendência. 

SulAmérica
Para a SulAmérica, Raphael Figueredo, da ICAP, acredita que as units irão se manter firmes numa tendência de alta de médio prazo, já que os papéis conseguiram sustentar-se no suporte dos R$ 19,50. “A expectativa é que ainda no curto prazo as ações busquem a região entre R$ 20,90 e R$ 21,90”, aponta.

Além disso, o rompimento dessa faixa poderia, na opinião do analista, levar as ações da SulAmérica a novas máximas, com objetivo em R$ 23,00. No entanto, Figueredo alerta que o cenário para os papéis pode ficar ruim caso percam o suporte mais forte, em R$ 18,80, pois nesse caso os ativos podem formar uma figura de topo duplo.