A régua invisível do crédito: como o score decide se você merece um empréstimo?

Sem uma boa pontuação, pode ser difícil conseguir um financiamento imobiliário ou um empréstimo para abrir um negócio

Janize Colaço

Os birôs de crédito utilizam centenas de variáveis para calcular o score. (Foto: Sinenkiy/Getty Images)
Os birôs de crédito utilizam centenas de variáveis para calcular o score. (Foto: Sinenkiy/Getty Images)

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De zero a mil, o score de crédito é um sistema de pontuação utilizado para avaliar a probabilidade de um consumidor honrar suas dívidas. A ferramenta tem grande influência na concessão de crédito e em outros serviços financeiros, mas seu uso ainda gera debates sobre transparência, possíveis práticas discriminatórias e direitos do consumidor. 

Pedro Nanni, vice-presidente de fidelização da Consumidor Positivo, reforça que o score é usado para indicar a probabilidade de alguém ser um bom ou mau pagador. Quanto maior a pontuação, mais confiável o consumidor é considerado pelas instituições financeiras. “Isso pode resultar em melhores condições de crédito, como taxas de juros mais baixas e acesso facilitado a financiamentos e cartões de crédito.”

Antes, o score era calculado apenas com base em informações negativas, como atrasos em pagamentos e inadimplência. No entanto, com a implementação da Lei do Cadastro Positivo, a metodologia mudou. Agora, os birôs de crédito consideram também o histórico de pagamentos regulares, o que torna a avaliação mais ampla e equilibrada.

“A abordagem atual busca não apenas fornecer uma avaliação mais justa, mas também educar o consumidor sobre como seus hábitos financeiros impactam suas oportunidades de crédito.”

— Pedro Nanni, vice-presidente de fidelização da Consumidor Positivo

As desvantagens de um score baixo

Além de facilitar o acesso a empréstimos e financiamentos, o score de crédito também pode ser consultado para outros serviços pós-pagos, como planos de telefonia, TV a cabo e seguros. Dessa forma, manter uma pontuação elevada não apenas melhora as condições para obtenção de crédito, mas também amplia as oportunidades de consumo.

Por outro lado, um score baixo pode ser um grande obstáculo para o consumidor. Sem uma boa pontuação, a pessoa pode encontrar dificuldades para conseguir um financiamento imobiliário ou um empréstimo para abrir um negócio. Além disso, um score ruim pode resultar na recusa de contratos de serviços essenciais ou mesmo na imposição de condições mais rigorosas — como exigência de fiador ou pagamento antecipado.

Ainda assim, Nanni pontua que o histórico de crédito pode ser recuperado ao longo do tempo. “Os primeiros sinais de melhora podem ser notados já no primeiro mês após a retomada do pagamento das dívidas, mas o impacto mais significativo ocorre entre dois e três meses.” 

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Após um período entre 6 e 12 meses sem inadimplências, os impactos negativos tendem a diminuir substancialmente.

O que influencia a pontuação do score?

Os birôs de crédito utilizam centenas de variáveis para calcular o score, incluindo pagamentos de contas, tempo de relacionamento com instituições financeiras e volume de consultas ao CPF. 

Em alguns países, como os Estados Unidos, onde a cultura do score é mais forte, até o pagamento de aluguel em dia pode ser considerado para aumentar a pontuação de crédito. No Brasil, a inclusão desse tipo de dado ainda não é uma prática comum, mas os especialistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam que isso pode vir a se tornar uma tendência no futuro.

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Só que outra questão importante é o fato de que cada instituição financeira pode ter critérios próprios para a análise de crédito, considerando outros fatores como renda comprovada e comportamento financeiro do cliente. Assim, mesmo um score elevado não garante automaticamente a aprovação de um empréstimo ou financiamento.

Do ponto de vista jurídico, o uso do score de crédito ainda levanta preocupações. “O Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de declarar a legalidade do uso do score de crédito, porém a prática ainda pode ser abusiva”, aponta Jefferson Leão, do Poliszezuk Advogados. 

Isso acontece quando a pontuação se baseia em informações sensíveis, como origem social, orientação sexual ou crenças religiosas, prática proibida pela Lei nº 12.414/2011. Leão também alerta que o armazenamento de informações excessivas pode configurar uma violação à privacidade do consumidor. Nessas situações, o consumidor tem o direito de questionar e até pleitear indenização.

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“Caso a utilização de dados ultrapasse os limites legais e atinja informações sensíveis, como o local de moradia ou tipo de emprego, a prática pode ser considerada abusiva.”

— Jefferson Leão, do Poliszezuk Advogados

É possível sair dos cadastros de crédito?

Vale dizer que a legislação garante o direito de optar pelo descadastramento do Cadastro Positivo. “O consumidor pode solicitar a retirada de seus dados dos bancos de adimplemento, e isso deve ser feito em até dois dias úteis”, informa Leão. 

No entanto, essa escolha pode impactar negativamente o acesso ao crédito. Sem um histórico positivo disponível, as instituições financeiras podem ter mais restrições ao conceder empréstimos.

Por outro lado, a consulta ao score não requer autorização prévia do consumidor, uma vez que a pontuação já está disponível para análise por instituições financeiras e empresas autorizadas. Isso levanta questionamentos sobre o equilíbrio entre privacidade e transparência no uso dessas informações.

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Junto a isso, hoje o score de crédito oferece uma visão detalhada sobre os consumidores, mas não há um sistema equivalente para avaliar as instituições financeiras. “O ideal seria que o score fosse uma ferramenta a ser utilizada também pelos consumidores para avaliar as instituições que irão contratar”, defende Leão.

Ele destaca que hoje os consumidores dependem de fontes fragmentadas, como o Procon e o Reclame Aqui, para verificar a reputação de bancos e financeiras.

Uma pontuação que indicasse o nível de confiabilidade das instituições poderia tornar o mercado de crédito mais transparente e equilibrado, permitindo que os consumidores tomassem decisões mais informadas antes de fechar contratos de empréstimo ou financiamento.

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Outras utilidades do score de crédito

Além de influenciar a concessão de crédito, o score pode impactar o acesso a diversos serviços. Na Consumidor Positivo, por exemplo, a pontuação também é usada para indicar produtos financeiros compatíveis com o perfil do usuário. 

“Uma das funcionalidades destacadas é o ‘Match Positivo’, que recomenda cartões de crédito com base em benefícios como cashback, milhas e ausência de anuidade”, diz Nanni. A empresa pretende expandir essa ferramenta para outras linhas de crédito, como financiamentos e empréstimos pessoais.

Além disso, algumas plataformas oferecem alertas sobre consultas realizadas no CPF do consumidor, ajudando a monitorar a segurança dos dados financeiros. Para os especialistas, essas ferramentas podem ser úteis para evitar fraudes e garantir maior controle sobre a saúde financeira e o histórico de crédito.