55% das empresas da B3 não possuem mulheres em cargos de diretoria estatutária

Lideranças femininas discutiram estratégias para criar ambientes mais equitativos durante a Expert XP

Michele Loureiro

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O Fórum Econômico Mundial (FEM) aponta que a diferença de gênero no mundo pode levar mais 134 anos para ser superada, ou seja, até 2158. Em um debate sobre ‘Mulheres na Liderança: Equidade de gênero e Negócios’, durante a  Expert XP 2024, lideranças femininas discutiram estratégias para criar ambientes mais equitativos.

Segundo Ana Buchaim, Vice-Presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação, Sustentabilidade e Investimento Social da B3, o primeiro passo para ensaiar mudanças é compreender o cenário atual. Um levantamento realizado com as empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo aponta que 55% das companhias não têm mulheres nos cargos de diretoria estatutária e 33% não possuem presença feminina no conselho administrativo. A pesquisa revela ainda que menos de um terço das empresas (29%) tem uma mulher no conselho e apenas 7% têm duas ou mais mulheres na diretoria ou no conselho. 

“A B3 faz parte dessa minoria com maior presença feminina e isso não é à toa. Trata-se de uma decisão e deliberação da companhia. Uma vez que se encara esse desafio é possível criar estratégias para impulsionar a presença feminina, mas isso depende da intencionalidade”, disse Ana.

Segundo a executiva, o aumento da presença das mulheres cria ambientes mais diversos e inovadores, mas depende de metas claras para se tornar realidade. “Nós criamos indicadores de diversidade com metas atreladas. A ideia é alcançar 35% nas mulheres em cargos de liderança até 2026 e já estamos perto disso. É importante frisar que essa meta impacta diretamente na remuneração dos envolvidos”, afirmou.

Ana Minuto, Fundadora e Diretora da Minuto Consultoria & Treinamentos, ressaltou que quantificar o impacto das políticas de diversidade é essencial para ampliar a presença das mulheres nas companhias. Dados do Banco Mundial estimam que fechar a lacuna de gênero no emprego e no empreendedorismo poderia aumentar o PIB global em mais de 20%. “As decisões para isso precisam partir de cima, para a criação de metas e políticas que garantam esses espaços”, disse.

Ela reforçou que as pesquisas já deixam claro os benefícios de criar estratégias para fomentar a equidade. Por exemplo, de acordo com dados da Consultoria MCKinsey, as empresas que contam com mulheres na liderança têm 21% a mais de chances de terem um desempenho acima da média. ”Já está tudo comprovado e o desafio é mais mental. É necessário haver uma mudança de visão de quem lidera as companhias”, disse.

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Ana defendeu ainda que a maior parte dos lares brasileiros é chefiado por mulheres e que a estrutura corporativa precisa refletir essa realidade. “É preciso colocar metas mensuráveis, pois os indicadores estão à disposição e há parâmetros para isso. Basta que as companhias desejem desenhar a mudança e não dá mais para deixar para depois”, reforçou a executiva. 

Referências femininas

Geyze Diniz, cofundadora e presidente do conselho do Pacto Contra a Fome, conselheira da Península Participações e vice-presidente do conselho do MASP, disse que a falta de referências femininas em cargos de liderança não pode ser um impeditivo para que as mulheres avancem.

“Tive poucas líderes mulheres, mas isso não me intimidou. Busquei referências e exemplos no dia a dia, afinal, o papel feminino na sociedade já é inspirador pela quantidade de papeis que nós ocupamos”, ressaltou. Para ela, o segredo é resiliência. “Não é uma questão que evolui tão rápido quanto a gente gostaria, mas precisamos seguir nos movimentando”, afirmou. 

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As líderes concordaram que a ascensão é mais difícil para as mulheres e que se consolidar como uma liderança respeitada demanda mais tempo e energia para a força de trabalho feminina. Para Ana Buchaim, da B3, é necessário criar mecanismos para evitar esse fenômeno. 

“Quando uma mulher chega a cargos altos é mais fácil ela ser subavaliada, por isso os indicadores devem ajudar a diminuir os vieses. Na B3, por exemplo, em todos os programas que envolvem gestão de pessoas há uma média de desempenho do funcionário em relação aos grupos segmentados. Nosso papel é induzir o mercado a ter um padrão mais alto de governança”, afirmou. “Afinal, se não tiver diversidade em sua companhia é como se você estivesse lendo um livro de um autor só mesmo tendo uma biblioteca à disposição. Não tem a menor lógica”, finalizou a executiva da B3. 

Michele Loureiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney