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O fim do ano é marcado pelo recebimento de valores adicionais: 13º salário, participação em lucros das empresas, bonificações e até os últimos lotes de restituição do Imposto de Renda (regulares ou residuais). A dúvida que sempre surge é sobre como utilizar o dinheiro oriundo desses depósitos da melhor forma possível. Segundo especialistas consultadas pelo InfoMoney, os ganhos “extraordinários devem ser utilizados em gastos extraordinários”, dentro do planejamento financeiro.
Quem trabalha no regime CLT (carteira de trabalho) já recebeu a primeira parcela do 13º terceiro salário — que foi pago em 30 de novembro. Considerando um salário de R$ 2.032,97 (patamar médio de admissão registrado pelo CAGED em setembro no Brasil), o valor a ser recebido de 13º até dezembro seria algo em torno de R$ R$ 1.869,80.
Na conta hipotética descrita acima, o trabalhador em questão receberia mais de R$ 4 mil em valores extraordinários no fim deste segundo semestre. Segundo especialistas consultadas pelo InfoMoney, quem estiver nesta situação neste fim de ano não deve investir os valores extras em gastos do cotidiano.
“Quando recebemos valores extraordinários, eles devem ser usados para situações extraordinárias, seja a liquidação de uma dívida, um sonho, uma viagem, a independência financeira – e não gastos imediatos”, afirma Myrian Lund, planejadora financeira e professora convidada da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro.
Arethuza Zero, idealizadora do projeto Educa Financeira, faz coro com a opinião de Myrian Lund: “Temos que fazer um esforço para que esse valor seja inserido dentro do que almejamos como objetivos”, disse.
Para elas, é necessário saber hierarquizar e priorizar os gastos em situações extraordinárias, levando em conta algumas estratégias. Confira:
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No vermelho
Contas essenciais
A priorização do uso de valores extraordinários para quitar as dívidas parece óbvia, mas é comum que algumas pessoas não saibam qual conta priorizar. Segundo Lund, as dívidas com gastos essenciais devem estar no topo das prioridades.
“Conta de luz, de água, de gás, do celular e mensalidade de condomínio são prioridade máxima. Sem pagamento, o cidadão fica sem acesso aos serviços, o que compromete diretamente a sua qualidade de vida. No caso da mensalidade do condomínio, por exemplo, o proprietário pode perder o imóvel e ser despejado se acumular dívidas”, ressalta Lund.
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Desenrola
Uma importante ferramenta para quem tem dívidas consideradas não essenciais, como dívida de cartão de crédito ou atraso de crediário, é o Desenrola Brasil, programa criado pelo governo federal exclusivamente para reduzir o nível de endividamento.
Desde 20 de novembro o Desenrola passou a renegociar dívidas de até R$ 20 mil na Faixa 1 do programa, destinada à renegociação a devedores com renda de até dois salários mínimos ou inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). A Faixa 1 abrange dívidas bancárias, como cartão de crédito, e as contas atrasadas de outros setores, como energia, água e comércio varejista.
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Débitos de R$ 5.000,01 a R$ 20 mil, após a atualização dos valores, poderão ser refinanciadas até 30 de dezembro. Após esse prazo, os descontos serão mantidos, mas a dívida só poderá ser quitada à vista.
Desde o início de outubro, a Faixa 1 do Desenrola renegocia dívidas de até R$ 5 mil na plataforma desenvolvida pela B3, no site do programa. A portaria que regulamenta o programa definiu que, se após os 40 primeiros dias, sobrassem recursos no Fundo Garantidor de Operações (FGO), fundo do Tesouro Nacional que cobre eventuais calotes de quem aderir à renegociação, o refinanciamento seria ampliado para débitos de até R$ 20 mil.
Para acessar a plataforma de renegociação, o consumidor precisa ter cadastro no Portal Gov.br, com conta nível prata ou ouro e estar com os dados cadastrais atualizados. Em seguida, o devedor terá de escolher uma instituição financeira ou empresa inscrita no programa para fazer a renegociação. Em seguida, bastará selecionar o número de parcelas e efetuar o pagamento.
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“Os descontos estão sendo expressivos entre os bancos participantes do Desenrola. O ideal é tentar liquidar a dívida e não parcelá-la”, pontua Lund.
“A principal estratégia é negociar. Não é oferecer todo o valor que você tem disponível, mas o mais baixo e ir negociando até o limite das suas possibilidades, conforme o banco pedir. Percebo um sentimento de culpa muito grande em quem está inadimplente e isso não ajuda. É necessário adotar uma postura ativa — e não passiva, de alguém culpado — frente ao banco. A pessoa deve pagar o que pode e não o que a instituição acha que ela deve pagar, sem levar em conta suas despesas”, afirma.
Caso a dívida não se enquadre no Desenrola, o consumidor deve buscar a instituição na qual tem o débito ativo e assumir a mesma postura de negociação.
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Outra dica é já começar a negociar somente com o valor da restituição do imposto de renda. Posteriormente, ao receber o 13º (parcelado ou à vista), a especialista recomenda buscar a instituição credora para oferecer o valor complementar e quitar a dívida — sem esquecer a estratégia de negociação e de aumento gradual do valor oferecido para pagamento.
No azul
Nem sempre quem tem uma dívida está no vermelho. É possível ter um financiamento imobiliário, considerado uma dívida contraída, e ser adimplente. Nesta situação, ao receber um valor extraordinário, é producente balancear qual é o tipo de dívida, se os juros são altos ou baixos, e se esse valor dará descontos relevantes no montante devido.
“Se recebo um valor extraordinário que não equivale a uma parcela relevante da minha dívida, que tem juros baixos, devo ponderar. Talvez seja mais interessante aplicar esse dinheirinho por um tempo, para que ele renda. Agora, se a dívida é um empréstimo pessoal não consignado (que não esteja atrasado), ou um parcelamento de fatura de cartão de crédito (rotativo), é válido utilizar o valor extraordinário para abater o que for possível”, aconselha Arethuza Zero.
Já para quem está no azul, sem dívidas, mas apertado, a dica de Lund é constituir uma reserva de emergência.
“Costumo dizer que a reserva de emergência é também uma reserva de oportunidade. Há os casos mais óbvios de uso, como quando existe uma demissão. Mas a reserva pode ser utilizada no caso contrário, para custear o deslocamento para uma entrevista de emprego em outra cidade. Isso é uma oportunidade”, diz.
Para manter o dinheiro guardado — e não ceder às vontades imediatas de comprar uma roupa ou ir a um barzinho — é necessário aplicar o dinheiro rapidamente em um investimento no banco de renda fixa seguro e preferencialmente com liquidez diária, como um CDB ou um título público, como o Tesouro Selic.
“A renda fixa tem trazido ótimos retornos. Está pagando inflação mais um juro (5% atualmente)”, pontua.
Planos futuros
Para quem está no azul e já tem uma reserva de emergência configurada, o planejamento para objetivos e sonhos futuros pode começar — seja uma reserva para uma viagem internacional, pagar a faculdade dos filhos ou para uma aposentadoria mais confortável.
“Há títulos muito interessantes, como o Tesouro EducaMais ou o Tesouro RendaMais, para quem já está pensando nesses objetivos futuros. E nunca é cedo para isso”, ressalta Arethuza Zero.
Contudo, para Zero, o investimento no futuro não inclui apenas acúmulo de capital. “Não temos que trabalhar só para pagar conta e acumular. O dinheiro pode ser usado em qualificação. O investimento em capacitação pode se traduzir em uma promoção ou na ascensão de carreira e aumento de salário. Da mesma forma, se eu uso o montante para planejar uma viagem, estou investindo no meu capital cultural, na minha saúde mental, o que também é investimento”, completa.
E para quem está no azul, doar um valor para a comunidade também é uma opção. “A doação é uma possibilidade que a maioria dos planejamentos deixa de fora, mas que tem grande valor para aqueles que acreditam em um projeto ou que querem fazer algo pela comunidade, como adotar uma cartinha dos Correios escrita por uma criança carente no Natal”, complementa.