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As empresas do setor de educação têm se destacado recentemente na Bolsa com uma combinação de queda da curva de juros impulsionando as ações do setor de consumo doméstico e uma temporada de resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) mais positiva do que o esperado.
Apesar dos grandes desafios macroeconômicos que as empresas do setor seguem enfrentando, o crescimento do ensino à distância (EAD) e dos cursos de medicina permanece consistente, compensando a queda nos volumes do ensino presencial (campus). O ambiente de preços também mostra melhora, em meio a uma competição mais racional.
Isso, associado ainda às expectativas pela expansão do FIES (programa de financiamento estudantil do governo federal), tem levado a uma disparada de diversas ações do setor, especialmente para a Yduqs (YDUQ3). Até o fechamento da última segunda-feira (29), as ações YDUQ3 saltavam 76,48%, destaque de alta do Ibovespa, e acumulavam ganhos de 40,9% no ano, quarto maior ganho do benchmark da Bolsa. Além de ser o grande destaque da temporada de balanços do 1T23, a expectativa de que a empresa seja a grande vencedora relativa com um eventual FIES mais forte reforça a visão positiva para os ativos, mesmo após o rali.
As ações da Cogna (COGN3) também subiram forte, 39,71% no acumulado do mês e e 34,43% no acumulado do ano, com progresso nos seus números e bom equacionamento do seu endividamento, mas com analistas ainda cautelosos com o papel.
Após a temporada de balanços, os analistas da XP Rafael Barros e Raphael Elage atualizaram as suas estimativas, não apenas para Yduqs e para Cogna, mas também para Ânima (ANIM3), Cruzeiro do Sul ([ativo=CSDE3]) e Ser Educacional (SEER3).
“Consideramos que o setor em geral está subvalorizado, com múltiplos EV/Ebitda [EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida; Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] para 2023 variando de 4,8 vezes a 7,2 vezes”, avaliam.
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Eles destacaram terem uma visão construtiva, porém cautelosa, em relação às ações de educação, com os números de captações do 1T23 sendo o principal fator que sustenta a postura otimista, enquanto a incerteza macroeconômica respalda uma postura um pouco mais defensiva.
“A alavancagem continua sendo um ponto importante para as empresas de educação, embora esperemos que o crescimento e a geração de caixa a reduzam futuramente”, aponta.
Para os analistas, apesar de uma temporada de captações positiva no 1T23, a volatilidade macroeconômica pode pressionar as taxas de evasão e as captações futuras. Portanto, ainda veem o desempenho futuro das empresas de educação como incerto, tornando a visão sobre o setor menos otimista – embora ainda otimista – do que poderia ser em um ambiente econômico diferente.
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Até o final de 2022, as empresas em sua cobertura apresentaram índices de alavancagem financeira variando de 3,1 vezes 4,3 vezes. O alto endividamento combinado com uma alta taxa Selic deve continuar pressionando o lucro líquido.
“No entanto, notamos que não vemos nenhuma das empresas passando por dificuldades financeiras no curto prazo, mas consideramos improvável que a consolidação do setor ganhe velocidade nesse ambiente”, apontam os analistas da XP.
O BTG também vê que o primeiro trimestre foi uma surpresa positiva, em parte ajudado pelo ceticismo do mercado (incluindo da própria casa) sobre o setor, com vários players reportando números decentes, melhores margens, captações sólidas no EAD e uma tendência positiva de racionalização de preços.
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YDUQS, COGN (principalmente na Kroton), VITRU e CSED tiveram um desempenho superior. Embora as altas despesas financeiras novamente prejudiquem o lucro líquido, a geração de caixa melhorou, com a maioria das empresas listadas reportando uma dívida líquida menor trimestre/trimestre (embora permaneçam fortemente alavancadas), como COGN3, YDUQ3, SEER3 e CSED3.
O Morgan aponta que o 1T23 foi bem melhor para as empresas líderes em ensino à distância. Yduqs, Kroton (da Cogna) e Vitru (esta negociada na Nasdaq) apresentaram crescimento sólido impulsionado por matrículas de ensino à distância (EAD), enquanto as margens expandiram impulsionadas pela alavancagem operacional e eficiências de despesas gerais e administrativas. Ser e Cruzeiro do Sul também relataram crescimento decente, mas as margens foram prejudicadas pelo aumento dos custos, pois têm maior exposição presencial. A Afya também viu margens declinantes devido aos fracos resultados de fusões e aquisições e Medcel.
Recomendações revisadas
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A XP revisou o setor e agora tem Yduqs como a sua top pick no setor de educação, com preço-alvo de R$ 23,50, enquanto reduziu a sua recomendação de compra para neutro para a Ser, com preço-alvo de R$ 4,90. Para ANIM3 e CSED3, seguiu com recomendação de compra, com preços-alvo respectivos de R$ 7,10 e R$ 6,60. Já para a Cogna, a recomendação segue neutra, com preço-alvo de R$ 3,30.
Os analistas da XP acreditam que a Yduqs é o player mais eficiente no setor de educação superior, e apesar de ter passado por um período desfavorável, – junto com seus pares – nos anos mais recentes, está bem posicionada para crescer e gerar lucratividade. Ela deve ser impulsionada principalmente por suas verticais Digital e Premium, que geram margens altas e devem gerar alto crescimento daqui para frente. “Vemos a ação como subvalorizada, independentemente da recuperação recente, e a estamos colocando como nossa ação preferencial no setor de educação”, reforçam.
No 1T23, apontam os analistas, a Yduqs alcançou 2,4 mil hubs de aprendizado digital no 1T23 (de 1 mil no 1T20), o que a administração vê como um número próximo do ideal para fomentar as ambições de crescimento futuro. O início de operação de novos hubs também permitirá à empresa aumentar sua base de alunos de educação digital sem tantos esforços de expansão, enquanto iniciativas como recompensar os melhores parceiros e resgatar os de pior desempenho devem render expansão de margem. “Estimamos que a base de alunos da educação digital cresça 82% e a margem Ebitda aumente 9 pontos percentuais [p.p.] de 2022 a 2027”, avalia.
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Os analistas destacam que o crescimento na vertical de educação no campus continua difícil para todo o setor, e a Yduqs não parece imune às mesmas pressões. No entanto, a empresa renovou sua presença nessa vertical, reduzindo significativamente os custos e despesas, o que deve preservar a lucratividade do segmento, apesar de um crescimento lento à frente.
Enquanto isso, a educação premium continua ganhando relevância. “Tanto as escolas médicas quanto o IBMEC continuam com desempenho excepcional, com crescimento da base de alunos e aumento de preços reforçando a receita. Não prevemos melhoras relevantes de margem na vertical Premium, porém notamos que ela já apresenta alta rentabilidade e, portanto,
auxiliar a empresa na expansão de margens para os próximos anos, pois ela ganha ainda mais relevância dentro de todo o negócio”, avalia.
Para o Morgan Stanley, o setor de educação continua barato e com potenciais catalisadores à frente, incluindo FIES e também com a alta sensibilidade a uma redução nas taxas de juros no Brasil. “Nesse contexto, Yduqs é nossa melhor escolha e também vemos uma atraente recompensa de risco em Vitru e Cruzeiro do Sul”, apontam.
Cabe ressaltar ainda que, em meados do mês, logo após a temporada de resultados do primeiro trimestre de 2023, o JPMorgan destacou porque preferia a ação da Yduqs entre as companhias de “educação massificada” à da Cogna, mesmo após o rali da Yduqs (que continuou).
Na ocasião, o banco reiterou recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), enquanto para a Cogna a recomendação segue neutra. O banco também subiu as projeções para os números das duas companhias, e elevou o preço-alvo de Yduqs de R$ 11,50 para R$ 15.
Para a Yduqs, os analistas elevaram as projeções de receita em 3% para este ano e em 5% para o ano que vem, além de aumentarem perspectivas para o Ebitda ajustado em 6% e em 10% (para este ano e para o próximo, respectivamente) e para o lucro ajustado em 32% para 2023 e em 36% para 2024. Para a Cogna, elevou a projeção para receita em 2% e 3% para 2023 e 2024, respectivamente, e para o Ebitda ajustado em 4% para este ano e em 2% para 2024; por fim, para o lucro ajustado, elevou a projeção para 2023 em 109% e cortou em 25% para 2024.
“Embora acreditemos que ambos oferecem vantagens aos investidores e reconheçamos que a Cogna tem feito progressos, conforme nossa atualização recente de recomendação, nossa preferência por Yduqs decorre de: (1) um valuation ainda baixo para YDUQ3, mesmo para 2024, com um múltiplo de EV/Ebitda [Enterprise Value = soma do valor de mercado das ações de uma companhia com a dívida líquida dessa empresa/Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] em 4,3 vezes, ante 4,9 vezes para Cogna; (2) maior exposição ao FIES da Yduqs; e (3) menor alavancagem em Yduqs, de 2,4 vezes versus 3,1 vezes da da Cogna, além do maior colchão de liquidez”, apontam os analistas.
Assim, os analistas do JP reiteraram recomendação equivalente à compra para Yduqs, enquanto possuem preferência por Afya (negociada na Nasdaq) entre as ações do setor em geral. Cogna segue como neutra, mas é preferida frente à Ser Educacional (SEER3) e à Ânima (ANIM3), todas com recomendação neutra.
Ao reforçar recomendação neutra para COGN3, a XP também apontou que (i) a Kroton está posicionada para postar crescimento em margens saudáveis após um plano de recuperação bem executado, (ii) a Vasta (de educação básica) continua a mostrar crescimento estável após um período difícil, e (iii) Saber conta com uma parte muito positiva do ciclo do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). No entanto, as melhorias operacionais podem não ser suficientes para compensar a pressão criada pelo atual endividamento da empresa, avalia.
Já para a Ser, as razões para o corte de recomendação para neutra foram: (i) uma maior exposição a regiões mais cíclicas em meio à incerteza macro, (ii) compressão de margem no futuro próximo e (iii) alta alavancagem em um cenário atual de estresse nas taxas de juros. “Os fatores mencionados nos levam a prever um prejuízo líquido neste e no próximo ano, fazendo-nos ver a ação atualmente com um preço justo – apesar de considerarmos que a empresa pode se recuperar gradativamente ano após ano”, avalia.
Com relação às outras duas recomendações de compra, para o Cruzeiro do Sul, a XP cita que a empresa se posiciona como um provedor de ensino superior de alta qualidade, o que se reflete na qualidade de sua base de alunos – com menor evasão e menor ciclo de recebimentos. Além disso, a empresa (i) apresentou excelente desempenho em termos de captação no 1T23; (ii) tem mantido sua lucratividade saudável; e (iii) deve reduzir a alavancagem gradativamente neste ano e no próximo.
Por fim, para a Ânima, a recomendação de compra ocorre já que veem a ação subavaliada ao considerar, i) a qualidade de sua oferta de cursos, (ii) sua menor exposição a ciclos econômicos e (iii) a aceleração de ganhos prevista a partir de 2025. “Mesmo vendo a alavancagem como uma importante fonte de risco para nossa tese, nosso preço-alvo deixa um upside confortável para a ação – mesmo no caso de aumento da percepção de risco ou inclinação da curva de juros”, avalia.
De acordo com recomendações compiladas pela Refinitiv, além de Yduqs, Anima e Cruzeiro do Sul aparecem entre as preferidas dos analistas. Confira abaixo:
Empresa | Ticker | Recomendação de compra | Recomendação neutra | Recomendação de venda | Preço-alvo médio | Potencial de valorização (%)* |
Yduqs | YDUQ3 | 7 | 4 | 0 | R$ 14,95 | +4% |
Cogna | COGN3 | 0 | 7 | 4 | R$ 2,49 | -13% |
Ser | SEER3 | 2 | 7 | 1 | R$ 5,79 | +46% |
Anima | ANIM3 | 9 | 1 | 0 | R$ 5,66 | +88% |
Cruzeiro do Sul | CSED3 | 7 | 0 | 0 | R$ 6,37 | +89% |
*em relação ao fechamento de 29 de maio de 2023