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XP lista os desafios da Amil sob novo comando do ex-Qualicorp; Hapvida pode se beneficiar

Baixa lucratividade, alavancagem e perda de fatia de mercado são principais problemas que José Seripieri Filho enfrentará

Vitor Azevedo

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Após mais de um ano de negociações, José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp (QUAL3) e da QSaúde, adquiriu a Amil da UnitedHealth Group (UHG), em uma transação bilionária e que pode mudar o panorama do setor de saúde privada no Brasil. Empresário experiente e bem relacionado, ele venceu a disputa pelo controle da companhia superando Nelson Tanure (Alliança Saúde, ex-Alliar), o fundo Bain Capital, a família Godoy Bueno (Dasa), a Coruja Capital, liderada pelo ex-vice-presidente do Itaú Unibanco, Márcio Schettini, e a Advent.

Segundo analistas da XP, a aquisição deverá servir como um “divisor de águas” para todo o setor de saúde, especialmente para concorrentes como a Hapvida, que poderá ser uma das mais beneficiadas. “Esperamos que a mudança de controle traga mais racionalidade aos preços praticados no mercado, dado que, em nossa opinião, a Amil tem sido muito agressiva em relação à precificação ultimamente”, escreveram, em relatório. 

“Eles estavam com alto nível de agressividade no mercado, especialmente no Rio e em São Paulo, praticando preços não-adequados à operação”, diz o executivo de uma empresa concorrente, em referência à venda de planos individuais da Amil.

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Após a conclusão da negociação na sexta passada (dia 22), as ações da Hapvida (HAPV3) abriram o pregão desta terça-feira (26), entre as mais negociadas, valorizando-se quase 1%, no melhor momento do pregão; à tarde viraram. Outros pares também avançavam, como Qualicorp e Rede D’Dor (RDOR3). Entre as quedas, destacava-se a Dasa (DASA3), cujo controle pertence à família Godoy Bueno, derrotada na disputa.

Amil e seus desafios

Passada a conquista da aquisição, Seripieri Filho terá agora que enfrentar grandes desafios: ele assume a a terceira maior operadora de saúde do país, ao pagar R$ 2 bilhões, e assume passivos de cerca de R$ 9 bilhões. Conforme dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), a empresa tem enfrentado dificuldades em trazer sua rentabilidade para níveis saudáveis, tendo um MLR [medical loss ratio, ou sinistralidade, em português] de mais de 100%, resultando em perdas sequenciais de resultado.

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De acordo com os analistas da XP, a empresa é conhecida por ter um portfólio de planos individuais deficitário. O UHG vinha há anos buscando uma solução para essa carteira. Em 2022, tentou se desfazer dela, pagando R$ 2,3 bilhões ao comprador para se livrar do problema, mas a ANS ordenou que a empresa desfizesse o negócio e reassumisse a operação.

O time da XP também chama a atenção para o fato de que a Amil está perdendo fatia no mercado, que recuou de 9,1%, em 2015, para 6,2% atualmente. Para tentar reverter esse quadro, a operadora mantinha estratégia agressiva nos planos de baixo preço, com objetivo de aumentar sua base de clientes e o uso de seus hospitais e, consequentemente, melhorar a rentabilidade do seu portfólio. Assim, buscava tíquetes menores, mas em maiores quantidades.

A XP considera arriscada a estratégia de baixo preço, que prejudica a rentabilidade a médio prazo, sobretudo quando a utilização se elevar e os preços não acompanharem. A equipe de análise pondera, entretanto, que o novo comprador, com experiência no setor, é capaz de mudar os rumos da empresa.

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“Vemos nele habilidades para expandir negócios, o que foi comprovado na Qualicorp. No entanto, na Amil, o executivo terá que encontrar maneiras de trazer eficiências rapidamente.”