XP inicia cobertura em ESG com seleção de 10 ações e traz 3 razões pelas quais o tema deve importar muito ao investidor

Busca por investimentos integrados às melhores práticas ambientais, sociais e de governança das empresas têm angariado cada vez mais interesse do mercado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio à visão cada vez mais difundida no mercado de que empresas e investidores têm um papel importante em criar e promover negócios sustentáveis, a XP Investimentos iniciou a cobertura de ações com foco nos princípios ESG (environmental, social and governance, em inglês), que buscam integrar nos investimentos as melhores práticas ambientais, sociais e de governança das empresas.

Conforme destaca em relatório (veja na íntegra clicando aqui) Marcella Ungaretti, analista de ESG da XP, ainda que no Brasil o tema não seja ainda tão difundido quanto em outras regiões – especialmente no continente europeu -, o interesse tem aumentado. A pandemia do coronavírus tem agido como um catalisador, colocando um holofote tanto na importância das questões sociais quanto na interdependência entre os países.

Além disso, há razões estruturais pelas quais a participação dos investimentos ESG continuará ganhando força no Brasil. “Entendemos que as empresas que não se adaptarem a esse novo cenário ficarão para trás”, avalia.

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Globalmente, mais de US$ 30 trilhões em ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês) são gerenciados por fundos que definiram estratégias sustentáveis. Na Europa, somente, são US$ 14,1 trilhões, equivalente a mais de 50% do AuM, enquanto nos Estados Unidos já representam 25%.

“Nos últimos anos, cada vez mais investidores estão colocando o conceito de ‘investimento responsável’ como fator decisivo na alocação de recursos e, na nossa visão, esse movimento deve somente se intensificar adiante”, ressalta Marcella.

A primeira versão da seleção de ações brasileiras com foco em ESG da XP é composta por dez ativos: Ambev (ABEV3), B3 (B3SA3), Banco do Brasil (BBAS3), Cemig (CMIG4), Energias do Brasil (ENBR3), Marfrig (MRFG3), Natura (NTCO3), Localiza (RENT3), Santander Brasil (SANB11) e Ultrapar (UGPA3).

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Confira a seleção de ações no quadro abaixo: 

Todas as ações que compõem o portfólio têm no mínimo a nota AA pelo MSCI ESG Ratings – Natura tem rating AAA – e o score acima de 7 – o menor score é o da Marfrig, 7,4, enquanto a Natura também possui o maior score, de 8,7. Ao InfoMoney, a analista destacou que não se trata de uma carteira de ações, mas de uma seleção com base nos critérios da MSCI.

O MSCI ESG Ratings calcula a exposição de cada empresa aos principais fatores ESG com base na análise do negócio da empresa e seu principal produto ou segmento, a localização de seus ativos, suas fontes de receita, além de outras medidas, como a existência de produção terceirizada. A análise leva em consideração até que ponto a empresa foi capaz de desenvolver estratégias robustas para gerenciar seus riscos, bem como aproveitar as oportunidades.

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Para cada um dos 3 pilares do ESG – Ambiental, Social e Governança -, a MSCI define 10 temas e os detalha em 37 questões chave. Com relação ao meio-ambiente, por exemplo, há quatro questões-chave sobre o tema mudança climática (emissão de carbono, pegada de carbono do produto, financiamento do impacto ambiental e vulnerabilidade às mudanças climáticas), três questões sobre recursos naturais (estresse hídrico, biodiversidade e uso da terra, fornecimento de matéria-prima), e assim por diante.

Em relação ao aspecto social, há quatro questões sobre capital humano, abarcando gestão do trabalho, saúde e segurança, desenvolvimento e padrões de trabalho na cadeia de produção.

Na análise, é considerada ainda a materialidade, ou seja, o nível de relevância de cada questão dentro da tese de investimento da empresa em meio ao setor que ela está inserida. Para cada um deles, o MSCI atribui diferentes pesos para cada uma das questões-chave, chegando assim ao um rating final da empresa. Os ratings vão de AAA a CCC.

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Resumo da metodologia do MSCI ESG Ratings

(Elaboração: XP Investimentos)

Três razões pelas quais o ESG importa

Marcella ainda destaca as três principais razões pelas quais o investidor deve, e muito, se importar com ESG. São eles, sendo detalhados mais abaixo: i) engajamento dos investidores e comportamento dos consumidores; ii) regulação e iii) retorno.

1) Engajamento

Conforme ressalta a analista da XP, à medida que mais investidores incorporem ESG em suas estratégias de investimento, mais pressão será colocada em empresas cujos processos parecem não contribuir positivamente para tais objetivos.

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“O que já vemos atualmente é um fluxo de capital crescente para ativos ou fundos que estejam alinhados a esses princípios, ao mesmo tempo em que nota se um número cada vez maior de investidores que procuram alienar suas participações em empresas cujos processos não andam nessa direção”, aponta. Ela cita, por exemplo, o compromisso do Fundo Soberano da Noruega, anunciado no início deste ano, de desinvestir cerca de US$ 13 bilhões em ativos relacionados ao uso de combustíveis fósseis.

Ainda no radar, estão as iniciativas com o objetivo de reunir investidores que buscam, a partir do
engajamento com as empresas em que investem, trazer mudanças, destacando duas em especial: o Princípios para o Investimento Responsável (PRI) e o Sustainability Accounting Standards Board (SASB).

Outro tema é com relação à mudança do comportamento do consumidor. Uma pesquisa da Nielsen em 2017 com consumidores em todo o mundo mostrou que 81% dos consumidores acreditam fortemente que as empresas devem ajudar a melhorar o meio ambiente e mais de 60% dos consumidores estão muito ou extremamente preocupados com a poluição do ar, da água, uso de embalagens, resíduos de alimentos, entre outros.

Nesse sentido, os consumidores mais jovens também tendem a ser mais receptivos e dar maior importância às questões ambientais e sociais do que consumidores com idade superior.

“Os indivíduos da Geração Z, nascidos após 1990, já representam um quarto da população global e possuem um papel importante em meio à mudança ambiental, tecnológica e social, bem como em suas famílias. Embora a Geração Z seja jovem e, portanto, tenha renda inferior à média, eles têm uma influência mais ampla. De acordo com uma pesquisa feita pela IBM e National Retail Federation em 2017, 70% dos membros da Geração Z têm influência em como sua família gasta o dinheiro”, ressalta a analista.

2. Regulação 

A analista ainda reforça que os governos ao redor de mundo já estabeleceram diversas metas relacionadas às questões ESG. “Mais recentemente, inclusive, notamos que a regulamentação também tem se direcionado aos acionistas institucionais, com o objetivo de impulsionar a ‘agenda de engajamento’, o que deve ajudar a trazer mudanças corporativas”, avalia.

Nesse sentido, o continente europeu segue mais avançado, com destaque para o acordo da União Europeia sobre regras de divulgação de investimentos sustentáveis e avanços nos requisitos de divulgação no Reino Unido.

Já no Brasil, ainda há carência de regulações mais direcionadas e, como o tema é relativamente novo e traz desafios, muitas vezes opta-se por implementar regras mais gerais. A expectativa é que regulamentação do país também evolua.

3. Rentabilidade

O último fator, mas não por isso menos importante, é a rentabilidade de investimentos ESG na comparação com aqueles sem políticas específicas. Sobre isso, uma boa notícia: de acordo com um estudo realizado pelo PRI, dentre os cerca de 2.000 estudos publicados a respeito do assunto desde 1970, 63% chegam à conclusão de que existe uma correlação positiva entre a adoção de critérios ESG e retorno, enquanto 10% tem opinião oposta e 27% não encontraram relação entre ambos os fatores.

Para entender como o retorno dos índices de ações em geral se compara com o retorno de “índices ESG”, a XP fez uma uma série de análises comparando a performance histórica de diferentes índices, de várias regiões, incluindo o Brasil.

Nos Estados Unidos, desde 2009, a NYSE, subiu 295%; no mesmo período, o índice que contém as empresas melhores posicionadas em termos ESG (FTSE 4 Good US Index) valorizou 345% (ou 50 pontos percentuais a mais), conforme destacado no gráfico abaixo:

Na Europa, a conclusão é semelhante: desde 2007, a performance do índice MSCI Europe ESG
Leaders superou em 8 pontos o seu benchmark (MSCI Europe Index).

Olhando em uma perspectiva global, está ainda o índice MSCI ACWI, que representa o desempenho de todo o conjunto de ações de grande e médio porte do mundo, em 23 mercados desenvolvidos e 26 emergentes Novamente, desde 2014, a performance do índice ESG superou em 18,7 pontos percentuais o índice geral.

Para ilustrar o caso do Brasil, a XP compara o MSCI Brazil Index e MSCI Brazil ESG Index – desde 2014, o índice ESG superou em 11 pontos o seu benchmark – e também o ISE, conhecido como Índice de Sustentabilidade Empresarial, e o Ibovespa, que contém as ações das empresas mais negociadas no mercado.

Desde a criação do índice ISE, em 2006 até atualmente, o Ibovespa valorizou 200%, enquanto o ISE, teve alta de 269% no mesmo período, conforme o gráfico abaixo:

A analista reforça que, atualmente, o ISE atualmente está passando por um amplo processo de revisão de metodologia, estrutura e conteúdo abordado em seu questionário (veja mais clicando aqui). Como resultado desse processo, pretende se lançar um índice renovado em sua versão 2021, visando o aprimoramento e maior aplicabilidade do ISE, tanto como uma referência de investimentos ESG quanto como uma ferramenta objetiva e eficaz de gestão de sustentabilidade para empresas e outros atores da sociedade.

Leia também:

– B3 e S&P lançam índice de ações com foco em ESG

– ESG, do despertar da relevância ao desenvolvimento no mercado: o que o investidor precisa saber hoje

Alerta para o “greenwashing”

No relatório, Marcella reforça que, mesmo com os avanços, ainda há um longo caminho adiante em direção ao “estado da arte” tanto em termos de divulgação quanto às próprias práticas ESG pelas empresas.

Dito isso, vale atenção e cuidado para um ponto importante, o greenwashing, fenômeno que ocorre quando algum desses órgãos promovem discursos, propagandas e/ou campanhas colocando-se como sustentável. Mas, na verdade, o discurso não compactua com o que é feito na prática.

“Em um momento como o que estamos vivendo atualmente, em que todos os olhos estão voltados para a importância de se ter boas práticas ESG, acreditamos que é necessário uma atenção redobrada visando diferenciar o que é somente um discurso do que é a prática”, aponta a analista.

Conforme ressalta Marcella, o movimento visto ao redor do mundo frente ao interesse cada vez maior na temática ESG, dá um bom indício do que está por vir no Brasil. “Ainda que tímido, já vemos no país alguns efeitos no comportamento dos investidores e na movimentação das empresas”, avalia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.