XP eleva projeção para o Ibovespa para 128 mil pontos até o fim de 2023 e vê três fatores para melhora de fundamentos

Preço, estabilização das taxas de longo prazo e estimativas de lucro por ação para o Ibovespa levam a um cenário mais construtivo, ainda que cauteloso

Equipe InfoMoney

(Getty Images)
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O fim do primeiro trimestre foi movimentado para o Ibovespa. No fim de março, o Ibovespa chegou a perder os 100 mil pontos após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), voltou a subir além desse patamar após a ata, ganhou impulso após o anúncio do arcabouço fiscal, mas voltou a ter baixa nas últimas duas sessões.

Com um cenário tão conturbado para o Ibovespa, o que esperar para os próximos três trimestres? A XP Investimentos atualizou o valor justo do índice para o fim de 2023 de 125 mil pontos para 128 mil pontos, o que corresponde a um avanço de 25,64% frente o fechamento de sexta-feira (31), o último pregão do primeiro trimestre.

Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, estrategistas que assinam o relatório, atribuem a mudança à melhoria nas projeções de lucro por ação no último mês e às taxas de juros reais caindo para 6,11%.

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Assim, para os estrategistas, os fundamentos melhoraram para as ações brasileiras.

“Três razões nos tornaram mais construtivos sobre as ações brasileiras recentemente: 1) preço: já que vimos o Ibovespa perder o nível dos 100 mil pontos novamente em março (por um dia), 2) juros: as taxas de longo prazo se estabilizaram e começaram a cair, e 3) estimativas de lucro por ação para o Ibovespa pelo consenso começaram a subir”, afirmam.

O valuation continua atrativo, elevando o valor justo do Ibovespa, afirmam. As ações brasileiras continuam atrativas com uma relação de Preço sobre o Lucro [P/L] de 6,9 vezes para 2023, um desconto substancial para à média história e em relação aos mercados globais. Os três principais temas em suas carteiras foram mantidos: 1) Commodities; 2) Histórias de crescimento secular; e 3) Qualidade a um preço razoável (“QARP”).

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Olhando para os setores, foi vista alguma reversão no desempenho dos últimos meses. Bens de Capital, Alimentos & Bebidas e Transportes estiveram entre os líderes em março, enquanto Saúde e Educação permanecem na última posição. “A alta alavancagem é um risco importante a ser monitorado pelas empresas brasileiras, em meio a altas taxas e um mercado de crédito mais restrito”, alertam os estrategistas.

O valor justo para o Ibovespa é calculado como uma média de três metodologias: 1) um modelo de fluxo de caixa descontado (DCF), que atualmente assume um WACC de 12,1%, 2) um modelo de P/L alvo, que assume um múltiplo  de 8,0 vezes, ainda abaixo da média histórica de 11 vezes, e 3) um múltiplo de valor da empresa sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EV/Ebitda) alvo de 5,0 vezes, também abaixo da média histórica de 6,5 vezes.

“Para ver mais vantagens no valor justo do Ibovespa, precisaríamos ver: 1) estimativas lucros sendo revisadas para cima e/ou 2) uma correção nos múltiplos, que pode vir de fortes fluxos pra Bolsa, bem como juros reais mais baixos”, apontam os estrategistas.

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Ferreira, Jennie e Rebecca ressaltam que os lucros estão melhorando e os juros já não estão mais subindo.

“Embora no passado mencionamos que estávamos preocupados com as revisões de lucros para baixo, as coisas têm melhorado um pouco. As projeções dos Lucros Por Ação (LPA) do Ibovespa aumentaram em mais de 30% desde suas mínimas recentes, e as taxas de juros reais de longo prazo se estabilizaram”, avaliam.

Assim, para eles, o Brasil continua com um desempenho superior relativo aos mercados globais em grande parte por conta dos níveis de valuation ainda bastante atrativos.

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Em relação a Renda Fixa, as ações brasileiras também continuam mais atrativas, afirmam. O Prêmio de Risco, que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais, mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros locais. O nível atual de Prêmio de Risco está em 8,9%, superior à média histórica.

Como resultado, a perspectiva para as ações brasileiras melhorou ligeiramente também. “No entanto, devido às incertezas com o setor bancário global, uma potencial recessão econômica e também a política fiscal doméstica, continuamos posicionados defensivamente e preferimos ativos mais resilientes e de alta qualidade neste momento”, apontam os estrategistas.

Cenários além do base

Com ainda muitos riscos no horizonte, a XP fez diferentes estimativas para o valor justo do Ibovespa para incorporar cenários alternativos. A conclusão dessa análise de cenários é que o Ibovespa já precifica um cenário muito mais próximo do pessimista em vez do cenário otimista. “Isso corrobora a nossa visão de que a margem de segurança nas ações brasileiras hoje é alta”, aponta.

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1. Cenário otimista, com Ibovespa a 149 mil pontos (upside de 46%)

Este cenário pressupõe juros reais caindo para 4,5% e múltiplos revertendo para mais perto de suas médias históricas, com P/L em 10 vezes (média histórica de 11 vezes) e EV/Ebitda em 6,0 vezes (média histórica de 6,5x). Nesse caso, o crescimento dos lucros também seria de 10%.

“Não vemos isso como o cenário mais provável em meio a um cenário global e doméstico muito desafiador. Todos os planetas teriam que estar alinhados: a recessão global não se materializaria com os bancos centrais alcançando um pouso suave e os riscos fiscais domésticos se dissipariam”, apontam.

2. Cenário pessimista, com Ibovespa a 97.114 pontos (queda de 4,7%)

Este cenário pressupõe que as taxas de juros subam ainda mais, com rendimentos reais em 7,0% e múltiplos menores em 7,0 vezes para P/L e 5,0 vezes para EV/Ebitda, e lucros 10% menores.

3.Cenário muito pessimista, com Ibovespa a 88.365 pontos (queda de 13,3%)

Esse é o pior cenário, com taxas de juros um pouco maiores que o anterior, e múltiplos também um pouco mais pressionados, com o lucro 20% menor. “Este é um cenário de recessão global mais profunda no próximo ano, enquanto os riscos domésticos relacionados à política fiscal permanecem em patamares elevados”, avaliam.

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