XP eleva projeção do Ibovespa para 112 mil pontos em 2020 e aponta 5 fatores para maior otimismo

Em relatório, a XP ainda destacou quatro riscos para a recuperação do mercado brasileiro nos próximos meses

Rodrigo Tolotti

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – Após o Ibovespa saltar 13% em menos de duas semanas e o dólar sair de R$ 5,90 para abaixo de R$ 5,00 em um mês, a XP Investimentos decidiu revisar seu cenário para a bolsa brasileira, elevando a projeção para o índice.

Em relatório assinado por Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, o preço-alvo do Ibovespa foi elevado de 94 mil para 112 mil pontos para o fim deste ano, o que na pontuação atual do índice representa um potencial de alta de 16%.

Além de apontar cinco fatores para justificar mais altas das ações e quatro riscos (veja detalhes abaixo), a equipe de research cita ainda mais dois motivos para sua revisão otimista. O primeiro é a redução do risco-país de 450 pontos-base para 280 pontos, o que aumenta o múltiplo justo de Preço/Lucro.

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Além disso, a XP explica que passou agora a usar somente a projeção de lucro de 2021, ao invés de para os próximos 12 meses. “Isso porque a projeção de lucros de 2020 está muito afetada pelas quarentenas, que são passageiras”, explica Ferreira.

Segundo ele, o consenso já projeta uma queda de 45% nos lucros por ação do Ibovespa em relação à 2019, com uma recuperação de mais de 100% em 2021. Por conta disso, o estrategista diz que usar como base os lucros de 2020 podem levar a um erro de avaliação, pois não serão lucros “normalizados”.

O que justifica o otimismo

No relatório, a equipe da XP destaca que em maio já havia apontado para o forte sentimento negativo em relação ao Brasil, mas que isso começou a mudar nas duas últimas semanas, mesmo que o País não tenha resolvido nenhuma das três crises que vive, econômica, política e de saúde.

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Além disso, os analistas destacam cinco fatores que justificam porque eles estão mais otimistas com a bolsa brasileira:

1) Sentimento muito consensual negativo com Brasil entre os investidores estrangeiros

Até 25 de maio, o Brasil tinha a pior bolsa do mundo, com queda de 55% em dólares, a pior moeda (-33%) e juros futuro muito acima da taxa Selic, embutindo grande prêmio de risco futuro pelo mercado.

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Segundo a XP, em conversas com investidores, além de preocupações com a política, a crise do coronavírus se agravando no País e a moeda desvalorizada sem “suporte” do governo e Banco Central, explicavam o grande pessimismo com o Brasil.

Neste cenário, os investidores estrangeiros já tinham saído em massa do país, vendendo R$ 77 bilhões do mercado à vista da B3, sem considerar as posições nos contratos futuros.

“Assim sendo, quaisquer melhoras marginais nos fundamentos traria um forte rebote nos preços. A redução do risco percebido de um possível afastamento do Presidente da República acabou sendo um desses catalizadores”, explica a XP.

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2) Redução da aversão ao risco no mundo

O segundo motivo para o otimismo é o mais apontado em todo o mundo para as altas sucessivas das bolsas nos últimos dias, a expectativa pela retomada das economias.

Se no Brasil a pandemia ainda se agrava, nas maiores economias do planeta o cenário já é outro. Na Europa, diversos países já voltaram a abrir os negócios e autorizar a volta das pessoas às ruas, enquanto nos Estados Unidos, além de algumas cidades retomando, os indicadores já começam a mostrar sinais de recuperação.

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Na sexta-feira (5), o relatório de emprego surpreendeu a todos os analistas ao registrar a criação de 2,5 milhões de postos de trabalho, quando a expectativa era de destruição de 7,5 milhões de vagas. Isso mostra que a recuperação das economias podem ser tão rápidas quanto foi a queda, num ritmo maior que o esperado.

A XP destaca que neste cenário, os ativos de maior risco, como dívidas de alto risco “high yield”, ações de empresas aéreas e de cruzeiros, mercados emergentes, dentre outros, estão entre os ativos que mais se recuperaram nas últimas semanas.

3) Rotação de ações de crescimento para ações de valor

De acordo com a equipe da XP, nos últimos 12 anos, as ações de empresas de crescimento, como tecnologia, vem ganhando de longe das ações consideradas “baratas”, também conhecidas como ações de valor, como bancos e commodities.

“O índice Ibovespa no Brasil tem 55% da sua composição justamente em bancos e commodities, e menos de 2% em tecnologia, e havia sofrido também por conta dessa composição setorial”, explica o estrategista-chefe.

“No último mês, com a redução da aversão à risco, o mercado começou a comprar ‘os ativos que ficaram para trás’, que são justamente os setores de valor e mercados emergentes. Caso essa rotação continue, o Brasil se beneficia fortemente dessa tendência”, afirma.

4) Começo de uma tendência de fraqueza do dólar

A XP diz que ainda não acredita totalmente na visão de que o dólar atingiu seu pico recentemente, mas esta tese tem ganhado força. Um dos fatores para isso é o fato de que os EUA, apesar de começar a sua recuperação, não estão crescendo mais que o restando do mundo.

Além disso, os juros americanos próximos dos níveis europeus já não oferecem uma grande vantagem para os grandes alocadores de recurso no mundo, tirando atratividade deste mercado. Os analistas ainda ressaltam o fato do dólar estar em alta há mais de 10 anos no mundo, com ganhos de 35% contra as principais divisas e 55% sobre as emergentes.

“Esses, e outros fatores, levam a muitos gestores acreditarem que o ciclo de alta do dólar no mundo poderia estar chegando próximo ao fim. Veremos, mas a verdade é que um dólar mais fraco ajuda preços de commodities e ativos de países emergentes a subirem”, explica a XP.

5) Preços de commodities se recuperando do menor patamar em 20 anos

Por fim, o relatório destaca que o índice de commodities (CRY Index) da Reuters/Refinitiv está no menor patamar dos últimos 20 anos, mas que desde o meio de abril, quando os preços de petróleo atingiram o seu menor nível, o índice já subiu 27%.

A XP aponta que esta recuperação das commodities podem continuar por conta de três fatores: governos estimulando o crescimento econômico via investimentos em infraestrutura; a gigante injeção de capital feita pelos governos (US$ 17 trilhões) aumentando a atratividade de ativos reais, que não podem ser impressos por Bancos Centrais como as moedas; e um dólar mais fraco, que tende a coincidir com preços de commodities mais altos.

Os riscos

Apesar do maior otimismo, a XP aponta que ainda existe riscos para a bolsa brasileira. Entre eles está uma possível segunda onda da Covid-19, que se ocorrer irá forçar um novo fechamento e dar um novo choque nas economias. Apesar disso, os analistas ressaltam que “até agora, não há sinais de segunda onda nos países que estão reabrindo suas atividades”.

Outro risco é uma guerra comercial entre China e EUA, que reduziu nos últimos dias, mas segue no radar dos investidores, o que pode elevar a aversão ao risco se voltar a ganhar força.

No cenário doméstico, há ainda um risco político. “É importante monitorar as tensões entre os três poderes, as investigações em curso, e as medidas setoriais sendo discutidas no Congresso, que podem afetar diretamente vários setores, como Bancos, Saúde, Saneamento, dentre outros”, explica a XP.

Por fim, o relatório destaca os impactos econômicos da Covid-19. O Brasil deverá sair desta crise com um déficit fiscal acima de 12% do PIB em 2020, a relação de dívida/PIB aumentará para próximo de 100% (nível entre os mais altos em mercados emergentes), enquanto o nível de desemprego irá se elevar, afetando a confiança dos consumidores e empresários. “Essas escaras levarão tempo para serem curadas, e podem atrasar o ritmo da recuperação”, concluem os analistas.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.