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Após um novo mês de alta para o Ibovespa, com avanço de 3,27% em julho, a XP elevou sua projeção para o Ibovespa de 130 mil pontos para 133 mil pontos ao fim de 2023, ou um avanço de 9,07% em relação ao fechamento da véspera.
Fernando Ferreira e Jennie Li, estrategistas da XP que assinam o relatório de revisão de projeções, destacam seguir vendo as ações brasileiras como muito descontadas.
O Ibovespa é negociado a um Preço/Lucro (P/L) projetado de 8,5 vezes, e mesmo depois do recente rali, ele continua com um desconto de mais de 20% em relação à média histórica de 11 vezes, apontam.
O prêmio de risco também continua acima da média histórica. “Removendo commodities e Vale VALE3 e Petrobras PETR4, continuamos a ver o P/L descontado, em 10,8 vezes e 10,1 vezes, respectivamente, ambos abaixo das médias históricas. Além disso, vemos a maioria dos setores negociando com múltiplos abaixo ou ainda ao redor das médias históricas”, apontam os analistas.
Os estrategistas também começaram a olhar para as estimativas para 2024 à medida que o próximo ano se aproxima, com o modelo apontando para um valor justo entre 145 e 150 mil pontos para o final do ano que vem, ou potencial de valorização de 19% e 23% em relação ao fechamento da véspera.
Para ver um maior valor justo do Ibovespa, eles apontam que precisariam ver: 1) estimativas de lucros sendo revisadas para cima e/ou 2) uma correção nos múltiplos, que pode vir de fortes fluxos pra Bolsa, bem como juros reais mais baixos.
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Em suas carteiras recomendadas, os estrategistas passaram a se posicionar com nomes de mais risco dada a visão otimista no curto e médio prazos.
“Para agosto, decidimos reduzir a exposição em estatais e setores que poderiam ser mais afetados pelas discussões ao redor do JCP [juros sobre o capital próprio], enquanto adicionamos nomes que podem se beneficiar da queda de juros”, destacam Ferreira e Jennie.
Em sua carteira Top 10, adicionaram mais exposição ao setor de consumo com Assaí (ASAI3) e Grupo Soma (SOMA3). Além disso, também reduziram o peso de Petrobras (PETR4) após a recente alta e removeram Banco do Brasil (BBAS3) que é mais exposto à discussão dos JCPs, e substituíram Vale (VALE3) por Gerdau (GGBR4) devido à volatilidade nos preços de minério de ferro e preocupação com o setor imobiliário na China.
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Assim, o seu portfólio conta com os nomes de Assaí, Copel (CPLE6), Gerdau, Iguatemi (IGTI11), Itaú (ITUB4), Localiza (RENT3), Petrobras, PRIO (PRIO3), Rumo (RAIL3) e Soma.
Embora os estrategistas vejam um caso estrutural positivo para investir no Brasil, também pontuaram os riscos, sendo o principal deles a política fiscal.
Ferreira e Jennie apontam que o governo recentemente aprovou um novo arcabouço fiscal, altamente aguardada pelo mercado em busca de sinais de controle de gastos. O projeto ainda permite que a política fiscal permaneça expansionista, com os gastos previstos para crescer acima da inflação, mas reduziu bastante o risco de cauda.
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“Nossa equipe de macro ainda projeta que a dívida pública aumentará no médio prazo, com o novo marco fiscal ainda não estabilizando a relação dívida/PIB tão cedo. É por essa razão que a reforma tributária é uma agenda tão importante”, aponta a equipe.
A ênfase agora é a segunda fase da reforma tributária, focada na renda. “Espera-se que ela inclua uma série de mudanças que podem ter efeitos relevantes de curto prazo, incluindo: mudanças no IRPJ, fim da isenção tributária de dividendos e a eliminação dos juros sobre capital próprio (JCP). Conversas recentes com especialistas e notícias até agora têm sido mistas, mas a discussão que está ganhando relevância é a do JCP, pois o governo precisa mostrar uma fonte de receita para o próximo ano fiscal”, avaliam.
Ao atualizar o impacto do fim do JCP, analisando dados de cerca de 150 empresas que cobrem, os estrategistas veem um impacto negativo de 4-6% no lucro líquido das companhias.
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Sete razões de longo prazo para investir no Brasil
Apesar dos riscos, os estrategistas destacam o que argumento tático para as ações brasileiras é bem compreendido à essa altura: uma posição sólida em relação a outros emergentes, o primeiro grande banco central a iniciar um ciclo de quedas de juros (com projeção de início de corte da Selic este mês), níveis de valuation atrativos, retorno do fluxo de entrada doméstico e o benefício de mais estímulos na China.
Porém, Ferreira e Jennie também destacaram o caso estrutural para o Brasil. Eles avaliam que o país é um mercado emergente cíclico, mas veem sete razões de longo prazo para investir no Brasil, listados a seguir:
1) O Brasil é uma superpotência de commodities e seguirá sendo. “O Brasil ainda têm muita terra agricultável e a maior reserva de água doce do planeta, o que permite que o Brasil continue ganhando mercado”, destacam os estrategistas;
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2) O Brasil tem abundância de recursos energéticos, uma matriz energética renovável, forte potencial de monetização de carbono, além de capacidade de dobrar sua produção de petróleo em até 2030 (de acordo com a consultoria WoodMac), aponta a XP;
3) O Brasil vem se destacando como um hub de inovação dentre os mercados emergentes, sendo um dos 10 principais países do mundo em número de unicórnios, destaca a XP. São Paulo está como uma das principais cidades do mundo para startups (14ª), à frente de Tel Aviv, Mumbai e Seul;
4) Há muito espaço para aprofundamento financeiro, com apenas 3% da população investindo em ações, ante +40% nos mercados desenvolvidos;
5) O Brasil tem uma classe média emergente que continuará crescendo e consumindo mais itens discricionários daqui para frente;
6) O Brasil tem baixo risco do ponto de vista geopolítico, o que é relevante para mercados emergentes e investidores globais hoje em dia e
7) O mercado de ações está de lado em dólares desde 2008, e o desconto no valuation do Brasil em relação ao resto do mundo atingiu níveis extremos. A questão é se chegou a hora de um novo ciclo de alta.