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SÃO PAULO – Com os riscos locais sem dar trégua somados ainda a um cenário global de grandes incertezas, a XP optou por cortar a projeção para o Ibovespa em dezembro deste ano em 6,9%, de 145 mil para 135 mil pontos – o que implica potencial de alta de 13,7% ante o fechamento do último pregão.
Em relatório publicado nesta quarta-feira (1), a XP argumenta que o mercado levará mais tempo para “voltar às médias históricas”, dados os riscos, além de uma discussão sobre a sustentabilidade dos altos preços das commodities, que têm impulsionado parte significativa das revisões de resultados nos últimos tempos.
No ambiente doméstico, os investidores repercutem a falta de consenso sobre o projeto da reforma tributária, o aumento nos pagamentos dos precatórios em 2022 – que ameaça o teto de gastos –, além do aumento das tensões políticas que crescem com a aproximação das eleições presidenciais de 2022.
Já na cena global, as preocupações recaem sobre dados econômicos abaixo das expectativas e incertezas em torno da propagação da variante delta da Covid-19.
Em meio aos riscos locais, o Ibovespa caiu nas últimas semanas e teve desempenho inferior ao de seus pares internacionais. Desde seu pico no início de junho, o principal índice de ações brasileiro caiu 9,2% em moeda local e 11,3% em dólares. Durante o mesmo período, o S&P 500 subiu 7% e as ações globais, medidas pelo índice MSCI ACWI, tiveram alta de 3,4%, ambos em dólares.
“Enquanto os índices dos EUA e Europa subiram entre 15% e 20% no acumulado do ano, o Brasil está quase de lado, com desempenho somente acima da Ásia, a pior região globalmente”, ressaltam os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li. Em agosto, o Ibovespa caiu 2,5%.
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Com isso, apesar das revisões para cima dos lucros das companhias no ano, o mês de agosto foi marcado por um aumento no custo de capital em meio à disparada das taxas de juros de longo prazo, o que pressiona para baixo as ações.
“Como regra geral, cada aumento de 1% no custo do patrimônio líquido (ke) em um modelo de fluxo de caixa, reduz o valor justo das ações em cerca de 13%”, destaca o time de análise.
Diante disso, a XP atualizou os cálculos para o Ibovespa, levando em consideração o aumento do custo de capital (taxas de juros de longo prazo) e o rápido aumento dos resultados.
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Por conta dos riscos fiscais e políticos, a casa também reduziu as metas de múltiplos preço sobre lucro (P/L) e valor da empresa sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EV/EBITDA) de 12 vezes para 9,5 vezes, e de 7 vezes para 6 vezes, respectivamente.
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“Acreditamos que os riscos mencionados acima devem manter pressão sobre o valuation da Bolsa no curto prazo, ‘atrasando’ o retorno às médias”, escreve a XP.
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A dupla chama atenção ainda para uma possível correção nos mercados externos no segundo semestre. “O S&P 500 não passa por uma correção superior a 5% desde outubro de 2020, e isso é improvável que perdure por muito tempo. Apesar de o Brasil já estar bastante descontado em relação aos mercados globais, no curto prazo os mercados tendem a ter uma correlação alta”, escreve a XP, afirmando que não é possível cravar quando acontecerá a próxima correção.
Otimismo com Bolsa permanece
Apesar do cenário desafiador, a XP escreve que segue vendo uma relação entre risco e retorno “bastante favorável” nos preços atuais para as ações brasileiras.
Segundo os estrategistas, isso se deve pela surpresa positiva na temporada de resultados do segundo trimestre, que superou expectativas, bem como pela contínua revisão para cima dos ganhos das empresas por analistas do mercado.
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“Desde o início deste ano, os lucros por ação foram revisados para cima em mais de 50% e os analistas esperam que os lucros de 2021 cresçam mais de três vezes na base anual”, escreve a XP.
Além disso, as empresas que integram o índice Ibovespa estão significativamente desalavancadas em relação a anos atrás, destacam.
Dessa forma, a XP avalia que a correção nos últimos meses trouxe oportunidades em empresas que continuam atrativas. É o caso, por exemplo, de varejistas como Americanas ([ativo=AMER]), C&A Modas (CEAB3), Via Varejo (VIIA3), Pão de Açúcar (PCAR3), como as construtoras Even ([ativo=EVEN3)], Cyrela ([ativo=CYRE3)], MRV (MRVE3) e Mitre (MTRE3).
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A XP também diz continuar focando em empresas de “alta qualidade”, em detrimento de ações altamente cíclicas que se valorizaram durante o início do ciclo de retomada econômica. “Achamos que é prudente se posicionar em empresas que oferecem perspectivas de crescimento robustas com balanços sólidos”, justificam os estrategistas.
Dentre as ações com boas perspectivas de crescimento nos próximos anos, a XP cita 3R Petroleum (RRRP3), Enjoei (ENJU3), Localiza (RENT3) e CVC Brasil (CVCB3).
“A recente volatilidade nos mercados brasileiros também reforça a nossa visão de que a diversificação nas carteiras em bons ativos e diferentes geografias continua sendo a principal alavanca de bons resultados com um risco adequado na sua carteira de investimentos”, reforçam Ferreira e Jennie.
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