Vitoriosa em processo de R$ 500 mi, construtora não consegue pagar e ação é deslistada da B3: o que acontece?

Lix da Cunha chegou a ter 11 mil funcionários nos tempos áureos mas alega que, após calotes de diversos governos, chegou ao limite; em dezembro, ela ganhou ação contra a Dersa, mas até agora não recebeu

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Construtora quase centenária e responsável por importantes obras em diversos estados, a Lix da Cunha (LIXC3; LIXC4) está vivendo um drama da bolsa brasileira. A partir da próxima quarta-feira (17), as ações da companhia serão deslistadas da B3 por não pagamento dos R$ 178 mil trimestrais.

No auge, a construtora chegou a ter quase 11 mil funcionários, mas hoje conta com apenas 8, passando por uma grave crise financeira que deve culminar com o cancelamento de suas ações na bolsa. 

Desde o dia 18 de dezembro de 2017 até esta terça-feira, 16 de janeiro, as ações da companhia foram negociadas em leilão durante toda a sessão e sofrerá a deslistagem a partir de amanhã, situação que ocorre quando a empresa deixa de cumprir suas obrigações com a bolsa por um período de nove meses. Nesta terça, os papéis ON da companhia fecharam com queda de 12,5%, a R$ 1,75, e os PN em baixa de 25,26%, a R$ 1,45. 

O irônico é que, em dezembro, a companhia ganhou um processo superior a R$ 500 milhões contra a estatal paulista Dersa (Desenvolvimento Rodoviário) em referência à cobrança de danos e perdas sofridos na execução e rescisão de contrato de obras na Rodovia dos Bandeirantes. O caso foi transitado em julgado – ou seja, não há mais como recorrer. 

“Como ela vale hoje menos de R$ 30 milhões e ainda há outras muitas centenas de milhões [em valor] em discussão, dá pra imaginar a dimensão que isso pode ser. Esse processo não era contabilizado no balanço da empresa e, com isso, esse valor transitará todo no quarto trimestre de 2017, levaria o patrimônio da empresa dos atuais R$ 13 milhões para a casa das centenas de milhões. Por ser um processo de perdas e danos, pelo que entendo, não haverá incidência de tributação”, afirmou um gestor ao InfoMoney.

Contudo, a companhia ainda não recebeu os valores, mesmo com a proposição que fez à Dersa para que o valor total tivesse 20% de desconto, além de propor parcelamento, de forma a utilizar o crédito para conseguir realizar um empréstimo e quitar suas dívidas, como com a B3. 

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A Lix da Cunha pediu uma prorrogação para a Bolsa de forma a conseguir o empréstimo, alegando que o prazo de 30 dias da bolsa alertando sobre a falta de pagamento (que teve início em 18 de dezembro), é insuficiente para realizar operações de crédito que possibilitem que a empresa possa pagar para a B3. Mas a prorrogação não foi concedida, apesar da empresa expor a sua situação ao dizer que, quando os recursos entrassem em caixa, a dívida seria quitada, conforme apontou o diretor de relações com investidores da construtora, Elias Ayek. “Eles [a B3] disseram que foi ao limite do prazo que poderiam conceder”, apontou. 

A empresa, aliás, aponta que os calotes que tomou de diversos governos tanto nas esferal federal, estadual e municipal e que totalizam R$ 1,5 bilhão causou a crise que a Lix da Cunha enfrenta no momento. Com isso, apontou Ayek ela deixou de fazer parcerias com o setor público desde 2000. 

Para Ayek, a maior preocupação atual é com os minoritários, com as ações sendo negociadas apenas em balcão. Segundo as regras da Bolsa, o cancelamento da listagem implica em realizar uma OPA (Oferta Pública de Aquisição), mas o diretor de RI aponta que uma manifestação sobre o assunto só deve ocorrer a partir de novembro. 

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Apesar das dificuldades, o diretor de RI aponta que a companhia não vai deixar de cumprir as obrigações, buscará publicar os balanços de 2016 e 2017, mesmo não-auditados. E ele deixa claro: “não deixamos de pagar a B3 porque colocamos como a última a fila. Nós não tivemos mesmo como pagar”. 

Já com relação aos minoritários, ele aponta que, se o cenário parece ser nebuloso agora para a companhia – e a perspectiva é de demora para voltar a ser listada na bolsa mesmo com o cumprimento das obrigações – para os acionistas de longo prazo, há possibilidade de benefícios mais à frente para os acionistas, principalmente pela perspectiva de ganhos da empresa de recebimento do valor da ação contra a Dersa. Enquanto isso, a B3 não se pronuncia sobre o caso: procurada pelo InfoMoney, a operadora da bolsa afirmou que não vai se manifestar. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.