Virada de Eike será ainda mais difícil com protestos, destaca mídia externa

Wall Street Journal e Financial Times destacam decorrocada e dificuldade de reconstrução de confiança do mercado no grupo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A derrocada das ações das companhias do grupo EBX, de Eike Batista, foi destaque mais uma vez na imprensa internacional, tanto no Financial Times quanto no Wall Street Journal, que relacionam a queda do império do megaempresário com o momento atual vivido pelo País. 

A publicação norte-americana destacou, em artigo chamado “Brazil Tycoon’s Empire on Edge”, a possibilidade da OGX Petróleo (OGXP3) ver seu caixa diminuir e com risco de secar já em 2014, conforme destaca Jack Deino, que administra US$ 2,7 bilhões em ativos nos mercados emergentes. Ele vendeu os papéis da OGX em meados de 2012. 

“A recente virada da fortuna de Eike Batista pode fazê-lo se tornar uma das vítimas mais emblemáticas de um amplo movimento de saída de capitais dos mercados emergentes, enquanto os Estados Unidos se prepara para apertar a política monetária. Com isso, as ações e moedas de toda a região estão em queda, o que representa um obstáculo aos esforços de Eike Batista para reconstruir a confiança”, afirma o Wall Street Journal. 

Uma aposta dos investidores é de que o governo federal poderia ajudar as empresas de Eike, na teoria do “too big too fail”. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) emprestou mais de US$ 1 bilhão em 2012 e tem incentivos para ajudá-lo. “Contudo, emprestar mais dinheiro às empresas de Eike seria uma medida altamente impopular para a presidente Dilma Rousseff, que já vem sofrendo com uma série de protestos de massa alimentada pelo descontentamento da população com o capitalismo de ‘compadres’ do País”, afirma.

Neste mesmo sentido, o Financial Times afirma ainda que, enquanto centenas de milhares de brasileiros vão às ruas protestos, os investidores das ações do grupo EBX também se mostraram “furiosos” na última quarta-feira, quando o empresário bilionário cancelou a OPA (Oferta Pública de Aquisição) da CCX (CCXC3), o que levou a uma queda de 37% dos papéis na sessão posterior. Os papéis da CCX, assim como da OGX, ressalta, estão valendo centavos. 

A ascensão de Eike a tais alturas na última década tem sido frequentemente associada a do próprio Brasil. Mas também existem paralelos a serem traçados entre os infortúnios recentes e o que está acontecendo agora nas ruas pelo País, afirma o Financial Times. 

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“Enquanto a população ‘protesta’ após o governo ter vendido uma imagem de sociedade próspera, que tem pouca relação com a realidade, os investidores das ações de Eike estão com raiva depois de ter derramado bilhões de dólares em planos de negócios que, em muitos casos, não se materializaram”, afirma o Financial Times, que também acredita que agora é muito mais difícil conseguir qualquer financiamento do governo pelo BNDES após o protesto. 

Conforme destaca Ed Kuzma, gestor ouvido pelo Wall Street Journal e que administra US$ 350 milhões em ações de mercados emergentes e que diz nunca ter comprado ações das empresas de Eike, a culpa não é toda do empresário. “A economia vem sofrendo obstáculos mais claros e as pessoas vêm traçando hipóteses mais realistas, tomando mais cuidado para realizarem seus investimentos”, apontou. 

Confiança será restaurada?
O Wall Street Journal destaca que, desde junho de 2012, quando foi anunciada a produção de Tubarão Martelo bem abaixo da esperada, as ações da OGX enfrentaram uma decorrada. Com isso, outros papéis do grupo foram afetados, uma vez que as suas empresas são interligadas na sua maioria. Isso porque a empresa de estaleiros OSX Brasil (OSXB3) foi criada para tornar as plataformas de petróleo para a OGX, plataformas estas que atracarão num porto que está construído por outra empresa de Eike, chamada LLX Logística (LLXL3). 

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Para levantar o dinheiro e reconstruir a confiança do mercado, o megaempresário contou com a venda de participação em sua empresa de energia MPX Energia (MPXE3) para a alemã E.ON por cerca de US$ 700 milhões no final de março. 

Porém, muitos analistas destacam que o declínio da confiança no império de Eike veio do próprio mega investidor, que vendeu cerca de US$ 60 milhões de ações da OGX a um preço entre R$ 1,57 e R$ 1,85. As vendas sinalizam para muitos investidores que o empresário está desesperado por dinheiro, mesmo que ele tenha afirmado que o ajuste foi mínimo e que não pretende vender mais ações da empresa.

E não é só Eike que está vendendo os papéis, afirmao Wall Street Journal, mesmo após a recente queda nos preços dos ativos. Muitos investidores não consideram mais investir em OGX ou em quaisquer outros empreendimentos de Eike, afirma a publicação. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.