Via (VVAR3) acelera com salto de 123% nas vendas online, mas concorrência segue sendo ponto de atenção

Números foram bastante positivos nos primeiros três meses do ano, mas parte do mercado segue cautela com iniciativas dos rivais

Lara Rizério Priscila Yazbek

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A Via (VVAR3, dona das Casas Bahia e do Ponto Frio, registrou lucro líquido de R$ 180 milhões no primeiro trimestre deste ano, uma expressiva alta de 1.284,6% em relação ao lucro de R$ 13 milhões apresentado um ano antes.

A companhia informou, porém, que o lucro líquido comparável “para os efeitos do incentivo de subvenção relacionado a anos anteriores foi de R$ 63 milhões”. “No trimestre, o incentivo de subvenção totalizou R$ 150 milhões, dos quais R$ 117 milhões referem-se a efeito de anos anteriores e R$ 33 milhões ao primeiro trimestre de 2021”, explica a companhia.

Mas, mais além do que o lucro, outros números chamaram ainda mais a atenção, fazendo as ações subirem forte na sessão (também impactadas positivamente pelo dia de maior apetite ao risco do mercado). As ações fecharam com ganhos de 4,44%, a R$ 12,22.

De janeiro a março de 2021, as vendas brutas totais (GMV) do grupo somaram R$ 10,33 bilhões, alta anual de 27%, refletindo ainda o forte crescimento das vendas por canais digitais diante das medidas de isolamento social devido à pandemia.

Em destaque, houve uma aceleração no crescimento de GMV online, com alta de 123% na base anual versus variação positiva de 106% no quarto trimestre de 2020, sendo principalmente puxado pelo marketplace (alta de 124% na comparação anual versus alta de 84% no quarto trimestre de 2020, conforme aponta a equipe de análise da XP.

O Credit Suisse destacou que as vendas brutas de mercadoria totais, de R$ 10,3 bilhões, ficaram 4% acima das suas projeções; já as vendas no varejo físico responderam por R$ 5,3 bilhões, queda de 9,6% sobre 2020, com o segmento ainda impactado pela pandemia.

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O Bradesco BBI avaliou ainda que modo geral, os resultados vieram dentro do esperado, mas com o GMV 7% acima da sua estimativa, enquanto a receita líquida foi apenas 1% superior às suas projeções.  A receita líquida ficou em R$ 7,547 bilhões entre janeiro e março, um crescimento de 19,1% na comparação com os R$ 6,339 bilhões apresentados um ano antes.

Em relação à rentabilidade, a companhia expandiu margem bruta (alta de 0,7 ponto percentual) apesar do aumento do digital por conta de um impacto positivo de um benefício fiscal. Contudo, houve uma queda de margem Ebitda decorrente a maiores investimentos no digital, menor alavancagem operacional por conta da queda de receita nas lojas físicas (baixa de 9,6% na base anual) e investimento em time de tecnologia. O Ebitda ajustado recuou 6% na comparação anual, para R$ 584 milhões, com a margem Ebitda recuando 2,1 pontos percentuais.

O Credit apontou que, ainda assim, a margem Ebitda ajustada manteve-se saudável em 7,7%, abrindo espaço para a empresa para acelerar o crescimento.

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O banco suíço também destaca que as ações VVAR3 são negociadas com um desconto de pelo menos 35% – considerando o múltiplo de valor de mercado mais dívida líquida sobre as vendas brutas (EV/GMV) – em relação aos concorrentes de e-commerce, uma vez que o mercado ainda espera indicações mais claras sobre a transformação digital da empresa e sobre sua capacidade de amadurecer e dimensionar seu marketplace.

“Reconhecemos que as bases de comparação anual têm sido mais fáceis para a Via ante os concorrentes [dado o crescimento menor nos outros anos], e outras empresas já enfrentaram desafios que a Via não enfrentou, principalmente relacionados à maturação do segmento 3P (marketplace – produtos de terceiros). No entanto, o primeiro trimestre de 2021 marca o sexto trimestre consecutivo de resultados sólidos, combinando um ritmo de crescimento razoável (acima dos pares, considerando o segmento online) com níveis de lucratividade saudáveis (mais saudáveis do que os pares também)”, diz o Credit.

O banco conclui que a combinação entre execução contínua e múltiplos atraentes – com o múltiplo de valor de mercado mais dívidas sobre vendas brutas (EV/GMV) de 0,5 vez para 2021 – os leva a permanecerem otimistas com o investimento em Via. O banco tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos, com preço-alvo de R$ 24 por papel.

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Concorrência no radar

O BBI destaca que a aceleração do crescimento do marketplace é um marco importante e a evolução do canal nos próximos meses será crucial para que os investidores tenham mais confiança na Via como um player importante em várias categorias de comércio eletrônico no futuro.

Mas os analistas seguem preocupados com a concorrência, destacando que a estratégia de frete grátis mais agressiva que a B2W (BTOW3) implementou nos últimos dias, depois de já ter feito um movimento mais agressivo no início do ano, é um sinal disso.

“À medida que a Via aumenta o mercado e começa a oferecer serviços de atendimento de forma mais ampla, isso é algo que pode exigir investimento. Também esperamos que os próximos meses sejam desafiadores, uma vez que o crescimento do comércio eletrônico comece a desacelerar em relação à base do ano passado”, diz o BBI.

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Embora reconheçam que as ações estão descontadas, citando o EV/GMV de 0,5 vez, os analistas do BBI afirmam que mantêm recomendação neutra para os papéis devido à preocupação com a concorrência. O banco tem preço-alvo de R$ 17 para as ações.

Na mesma linha, a XP avalia os números como positivos e lembra ainda que a Via destacou diversas iniciativas no seu release de resultados a serem entregues em 2021. Os analistas veem a empresa na direção correta e que deve levar à geração de valor ao longo do tempo.

Porém, continuam esperando um cenário competitivo bastante desafiador nesse ano, inclusive com iniciativas de players internacionais como Amazon e Alibaba, o que deve trazer volatilidade para as ações do setor no curto prazo. Assim, mantêm recomendação neutra para as ações VVAR3 e preço alvo de R$ 20 por ação para o fim de 2021.

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De acordo com compilação feita pela Refinitiv com dezesseis casas que cobrem o papel, dez possuem recomendação de compra, cinco de manutenção e uma de venda. O preço-alvo médio é de R$ 19,39, o que corresponde a um potencial de valorização de 66% em relação ao fechamento da última quarta-feira (12).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.