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A noite da última quarta-feira (11) foi marcada por uma série de divulgação de resultados das principais empresas de varejo de e-commerce (mas que também conta com lojas físicas) na Bolsa, com os números de Via (VIIA3), Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (MGLU3) referentes ao segundo trimestre de 2022 (2T22) sendo publicados.
Os dados das empresas eram bastante esperados pelos investidores em um cenário visto como desafiador para as companhias com a alta da inflação, maior concorrência e diminuição da demanda por bens duráveis. No segundo semestre, os papéis registram recuperação com sinais de que o pico da inflação já passou, assim como a indicação de que o Banco Central pode parar de subir os juros, mas ainda estão longe dos “tempos áureos” registrados em 2020, no pior ponto da pandemia de Covid-19, quando o e-commerce ganhou muita força.
Enquanto isso, as empresas buscam melhorar a sua rentabilidade e gerenciar melhor os seus estoques, mas ainda são vistas com ceticismo por grande parte do mercado.
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No início da sessão desta sexta, a Via se destacava entre os ganhos, com salto de 7,17% (R$ 2,99) às 10h45 (horário de Brasília). Já Americanas, após oscilar entre leves perdas e ganhos, passou a ter perdas mais expressivas, de mais de 3%. Magazine Luiza, por sua vez, após abrir com ganhos, passou a oscilar próximo à estabilidade.
Contudo, no começo da tarde, a tendência se intensificou para Via e se estendeu ao longo do pregão, com a ação fechando em disparada de 13,98%, a R$ 3,18. Já MGLU3 superou o salto de VIIA3 e fechou em disparada de 17,76%, a R$ 3,58. Americanas, por sua vez, desacelerou as perdas, mas fechou em queda, de 2,41%, a R$ 12,96. O movimento se intensificou para as duas primeiras ações também de olho no cenário macro, com sinais de arrefecimento na inflação dos EUA (impulsionando ações de consumo por lá) associados à indicação do Banco Central também nesta semana de que deve interromper o ciclo de alta de juros.
Voltando aos balanços, a Via se destacou por ser a única das companhias a registrar lucro, apresentando assim melhora de rentabilidade, enquanto o destaque do Magalu foi a geração de caixa. Já a Americanas teve a maior alta percentual das vendas no geral, mas uma forte queima de caixa chamando mais uma vez a atenção dos analistas.
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Em nota, o Morgan Stanley destacou que o segundo trimestre de 2022 marcou um trimestre difícil para vendas discricionárias de valores mais altos no Brasil, pesando no faturamento para varejistas. No entanto, os resultados foram amplamente em linha com as suas estimativas, que foram recentemente reduzidas.
O crescimento das vendas no varejo (por IBGE) de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis no Brasil teve uma média de apenas 3% de crescimento anual em abril/maio. Além disso, os dados da Neotrust mostraram um declínio anual de 3% da indústria no volume bruto de mercadoria (GMV) online para o trimestre.
Analisando os resultados em base total (lojas e online), Americanas registrou crescimento de GMV no 2T22 de 10% na base anual, com Magalu em alta de 1% e Via caindo 3,5% (os números incluem o impacto inorgânico da Hortifruti Natural da Terra para Americanas e KaBuM! para o Magalu).
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“Embora os ventos contrários tenham sido amplamente sentidos no 2T22, destacamos que, quando comparados aos níveis do 2T19 (pré-pandemia), as tendências de crescimento são mais divergentes por empresa versus os níveis do 2T19: o GMV da Magalu no 2T22 ficou 142% acima, versus 84% para Americanas e de 40% para Via”, apontam os analistas do Morgan.
Os analistas apontam que, mesmo com marketplace, fintech e logística sendo áreas de investimento em andamento para as companhias, o controle de custos em geral foi um ponto positivo no nível de lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês).
No entanto, a pressão das despesas financeiras pelo aumento das taxas de juros pesou nas margens líquidas. Os negócios de marketplace de terceiros (3P) cresceram 22% para Magalu e 18% para Americanas. Já o 3P da Via em termos de GMV caiu 19%, em parte pelo efeito de maiores take-rate, ou taxas de comissão (cobradas dos comerciantes em seu marketplace na categoria de produtos que vendem) o que, por sua vez, levou a melhora na receita.
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Olhando para as principais iniciativas, o Magazine Luiza destacou os esforços para integrar os vendedores menores no programa Parceiro Magalu. Para Americanas, a plataforma de aplicativos fintech Ame atingiu notavelmente seu primeiro trimestre de Ebitda positivo.
Na Via, a logística do marketplace está mudando cada vez mais internamente, incluindo um aumento nos volumes de atendimento. “Equilibrando os gastos com novas iniciativas, os resultados do 2T das três empresas demonstraram controle de custos e gestão de margem em outras áreas”, aponta o Morgan.
As margens Ebitda (Ebitda em relação à receita) cresceram 360 pontos-base na comparação anual para Via, 220 pontos-base para Americanas e 60 pontos-base na base anual para Magalu.
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“Olhando para o resultado final, porém, os ventos contrários das despesas financeiras em meio ao aumento das taxas de juros no Brasil levaram a algumas pressões”, apontam os analistas do banco.
Para o JPMorgan, as principais conclusões da temporada são: 1) em um mercado online que contraiu entre e 3% e 4% ao ano no trimestre, todos os players desaceleraram; 2) com exceção da Via, todos os demais players ganharam participação de mercado; enquanto 3) o maior player do setor, o Mercado Livre, primeiro a divulgar resultado, foi o principal outlier, superando o crescimento do mercado em 20%; como 4) os produtos de cauda longa (venda de uma grande variedade de itens em pequenas quantidades) continuam a impulsionar o crescimento e a penetração do e-commerce (todas as operações 3P ex-Via tiveram bom desempenho); e 5) as categorias 1P (vendas no estoque próprio) tradicionais, como eletrônicos e eletrodomésticos, continuam enfrentando fortes ventos contrários macro que devem diminuir ao longo do segundo semestre à medida que nos aproximamos da Copa do Mundo.
“Enquanto isso, notamos também que as empresas estão sendo mais conservadoras com investimentos em crescimento, principalmente custos de aquisição de clientes e subsídios”, avalia o JP.
Confira os principais destaques:
Magazine Luiza (MGLU3)
O Magazine Luiza viu seu GMV total crescer 1% na base anual, com queda nas vendas do estoque próprio (1P, sendo -7% na base anual, mesmo apesar do efeito positivo da consolidação de KabuM!), compensada pelo desempenho dos estoque de terceiros (3P), que apresentaram crescimento de 22% anual por conta da boa performance na categoria de produtos de cauda longa.
Olhando para rentabilidade, a margem bruta expandiu 3 pontos percentuais (p.p.) na comparação anual e 0,9 p.p. em relação ao trimestre anterior, impactada positivamente pelo repasse de inflação de custos para preços e maiores receitas de serviços, embora o Ebitda ajustado tenha ficado estável na base anual, com margem 0,7 p.p. acima, dada a desalavancagem das lojas físicas e maiores despesas do marketplace (principalmente por conta de frete e marketing).
Já o prejuízo líquido ajustado foi de R$ 135 milhões, impactado pelo maior nível de despesas financeiras frente à taxas de juros mais elevadas no período, além de um impacto negativo da Luizacred explicado por um maior nível de inadimplência.
A XP, por sua vez, destaca que a empresa conseguiu entregar geração de caixa positiva de R$ 1 bilhão (enquanto seus pares comparáveis registraram queima de caixa) impulsionada pela redução de estoques e recebíveis. Este foi um dos destaques do Magalu em seu release de resultados, apontando que a geração de caixa operacional foi de R$ 1,3 bilhão no trimestre, reflexo principalmente da evolução do capital de giro, com redução sequencial dos níveis de estoque e aumento do saldo de fornecedores.
“Olhando para frente, a empresa parece otimista com a dinâmica do segundo semestre com a Copa do Mundo, Black Friday e 5G, enquanto o lançamento das operações de fulfillment e entrega de produtos mais pesados por meio do 3P deverá também contribuir para o crescimento do GMV. Mantemos nossa recomendação Neutra, dado que continuamos vendo um cenário macroeconômico desafiador e ambiente competitivo acirrado”, avaliam os analistas.
Para o Bradesco BBI, no geral, o 2T22 apresentou um resultado misto do Magalu, com o lado positivo ficando para a capacidade da empresa de melhorar sua posição de capital de giro e, assim, gerar um fluxo de caixa operacional razoável (que tem sido uma das principais preocupações do mercado).
“Dito isso, o resultado mostra que a empresa continua sofrendo com os ventos contrários, com a fraca demanda impactando o GMV, e as altas taxas de juros impactando negativamente tanto o GMV (demanda) quanto o lucro (custos de financiamento)”, aponta.
Os analistas ressaltam terem algumas preocupações de que categorias de alto valor/dependentes de crédito possam estar enfrentando ventos contrários na demanda incremental (os resultados da Allied ALLD3, por exemplo, mostraram uma demanda fraca por categorias que são essenciais para Magalu, e as verificações de canal sugerem que os fabricantes estão tendo dificuldades também).
“Portanto, mantemos nossa visão cautelosa sobre Magalu e outros nomes com alta exposição a itens de grande valor agregado, pois achamos que é muito cedo para um rali sustentável impulsionado por uma recuperação do crescimento e taxas mais baixas. Assim, mantemos a recomendação neutra, com um preço-alvo para 2022 inalterado de R$ 5,00”, avalia o BBI.
A Genial, por sua vez, apontou que o Magalu reportou um resultado bem alinhado as expectativas da casa para o trimestre, com grande destaque para a geração de R$ 1,3 bilhão de caixa operacional no período, reflexo de uma melhora em seu capital de giro e de retorno a margens um pouco mais saudáveis. “Mantemos MGLU3 com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 8”, avalia.
Via (VIIA3)
O GMV total da Via caiu 3,5% na base anual, com crescimento de vendas mesmas lojas (SSS) de 12% na base anual (versus queda de 8% de Magalu), sustentado pela recuperação do fluxo de clientes em loja e vendas recorde no Dia das Mães, que mais que compensaram a pressão no canal online (1P e 3P com queda de 22% e 19%, respectivamente). Este, por sua vez, foi impactado pelo ambiente macroeconômico mais difícil e participação maior de produtos de cauda longa, conforme aponta a XP.
Em relação à rentabilidade, a margem bruta melhorou 0,5 ponto por conta do aumento das taxas de comissão (alta de 7,9 p.p. na base anual) e receita de serviços, enquanto a margem Ebitda foi o principal destaque, com crescimento de 3,6 p.p. na base anual, sustentado por ganhos de produtividade e otimização de despesas com marketing.
Como resultado, a companhia teve lucro (versus estimativas da XP de prejuízo de R$ 131 milhões), beneficiado por menores despesas financeiras e um impacto tributário positivo, enquanto o fluxo de caixa nos surpreendeu positivamente em R$ 12 bilhões, impulsionado principalmente por ganhos de capital de giro, especialmente do lado da oferta, que pode ser explicado por negociações mais duras.
Também é interessante notar que i) as taxas de inadimplência ficaram praticamente estáveis na comparação anual (em 4,7%), mas cresceram 1,1 p.p. em relação ao trimestre anterior, enquanto o índice de cobertura caiu em termos anuais e trimestrais; ii) a operação de marketplace alcançou breakeven (ponto de equilíbrio entre custos e receitas) durante o trimestre; e iii) a operação de fulfillment que foi lançada recentemente foi equivalente a 16% das entregas no 3P.
Para a XP, a Via apresentou resultados fracos, decepcionando no trimestre em termos de receita, mas com crescimento gradual.
Já o BBI ressalta que o resultado da Via foi “misto”, com o GMV online fortemente pressionado pela priorização da empresa de cauda longa em 3P (e também por maiores taxas de comissão, sendo compensado em certa medida pelo crescimento saudável das vendas nas lojas, impulsionado pela recuperação do tráfego na parte física.
Os maiores esforços para aumentar rentabilidade, como aumento das taxas de comissão, surtiram efeito, com a margem bruta surpreendendo positivamente, o que também repercutiu na margem Ebitda. “Dito isto, mesmo com todos os esforços para aumentar a rentabilidade, o lucro líquido ainda foi apenas ligeiramente positivo (e negativo quando contabilizados os não recorrentes)”, avalia o banco.
Assim, levando em conta todos esses pontos, os analistas do BBI apontam que a questão-chave que surge é até que ponto a Via será capaz de voltar a acelerar o crescimento no final do ano, ou em 2023, mantendo os atuais níveis de rentabilidade do Ebitda. Já pelo lado positivo, o índice de inadimplência de 90 dias diminuiu para 8,5%, contra 9% no 1T22, o que deve aliviar algumas preocupações dos investidores sobre a qualidade dos ativos.
Mesmo avaliando os resultados como marginalmente positivos para a ação, com rentabilidade robusta, melhoria no capital de giro e sinais de redução de inadimplência, os analistas acham que há pouco apetite entre os investidores nas condições atuais do mercado para o setor, especialmente quando o crescimento é baixo e as taxas de juros são altas, mesmo que as avaliações pareçam deprimidas. Os analistas mantiveram recomendação neutra e aumentaram levemente o preço-alvo para o papel, de R$ 4 para R$ 5.
A Genial Investimentos acredita que o 1P ainda deve continuar freando os resultados da Companhia no e-commerce. Já nas lojas físicas, a visão é que os indícios da pressão inflacionária reduzindo nos próximos trimestres pode ajudar a Via a continuar apresentando resultados um pouco mais saudáveis no médio prazo. Porém, não acredita que haverá uma destinação grande de recursos para bens de consumo oriundo do aumento do Auxílio Brasil e da redução de ICMS. “O setor de serviços ainda será o maior beneficiário dessas medidas”, aponta.
“O caminho para as varejistas ainda é repleto de muitas pedras para desviar. Ainda assim, consideramos o resultado da Via positivo no controle de despesas e morno da geração de receita total, com uma margem líquida de 0,1%. Vale ressaltar ainda que dentre as três principais no segmento de bens de consumo (Via, Americanas e Magalu), a Via foi a única a reportar lucro líquido no 2T22, andando na contramão do setor”, aponta a Genial, que reitera recomendação de manutenção para os ativos, a um preço alvo de R$ 4.
Americanas (AMER3)
O GMV total da Americanas cresceu 10,4% na base anual, com uma recuperação sólida do canal físico (receita cresceu 27% e vendas nas mesmas lojas, ou SSS, 10%) com recuperação do fluxo de clientes em loja, consolidação dos resultados do Hortifruti Natural da Terra e um sortimento mais resiliente, ressalta a XP.
Para o canal online, 1P foi o destaque negativo do resultado, com queda de 7,6% na base anual, sendo compensado pelo crescimento das vendas com estoques de terceiros, que apresentou um crescimento de 18% no período.
Em relação à rentabilidade, a margem bruta expandiu 0,4 ponto na base anual, à medida que a penetração do canal online caiu 3 pontos percentuais, para 75% do GMV, enquanto a margem Ebitda apresentou expansão de 2,2 pontos ano a ano, com a captura de sinergias da combinação de negócios entre LAME e B2W, evolução do Ebitda da AME Digital (que atingiu patamares positivo) e integração das companhias adquiridas.
A empresa apresentou um prejuízo líquido de R$ 98 milhões, em linha com as estimativas da XP, por conta de maiores despesas financeiras como consequência da alta das taxas de juros, enquanto o fluxo de caixa foi negativo em R$ 540 milhões por conta da sazonalidade do trimestre e maior investimentos em bens de capital.
Para a XP, a Americanas apresentou resultados mistos no segundo trimestre, com melhor no desempenho do comércio físico e rentabilidade, apesar de queda de 1P e queima de caixa. “O desempenho de lojas físicas e rentabilidade está melhorando, enquanto o 1P desacelera e a companhia queima caixa no trimestre”, apontam os analistas.
A Genial aponta que, apesar de a varejista apresentar a melhor margem Ebitda do setor até aqui, a elevação da taxa básica de juros, que passou de 3,5% para 13,25% em um ano, fez com que as despesas financeiras mais do que dobrassem, “comendo” os ganhos da varejista neste trimestre.
Na avaliação do BBI, no geral, os resultados mostram um crescimento mais fraco do que os investidores gostariam de ver. Contudo, dadas as condições do mercado, uma taxa de crescimento de cerca de 10% do GMV é razoável em uma base relativa. O crescimento do GMV digital de 6% é baixo, mas foi melhor que o mercado, que teve contração de 3% (segundo dados da Neotrust).
Em contraste, Magalu apresentou um crescimento de cerca de 2% no GMV de e-commerce (com os canais 1P e 3P crescem a taxas semelhantes às Americanas, mas com um peso maior de 1P puxando o valor geral para baixo), enquanto a Via registrou uma grande queda de mais de 20%.
“A expansão da margem foi muito maior do que esperávamos, com a concretização das sinergias da fusão LAME e B2W”, apontam os analistas. Por último, os prazos de entrega continuam a melhorar nas entregas em 24h (alta de 2,6 pontos versus o 1T22) e nas entregas rápidas em 3h (alta de 5,1 pontos versus o 1T22).
“Dito isto, esperamos um prejuízo líquido para 2022 e um lucro líquido modesto para 2023”, destaca o BBI, que mantém recomendação neutra, mas elevando ligeiramente o preço-alvo de R$ 23 para R$ 25, devido a ajustes em suas estimativas para refletir melhores margens, mas com um cenário difícil de receita à frente.
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