Via (VIIA3): rentabilidade é destaque positivo, mas analistas seguem cautelosos; ação fecha em queda

Analistas de mercado veem pouco apetite entre os investidores nas condições atuais do mercado para comprar ações de crescimento

Lara Rizério Felipe Alves

(Shutterstock)
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Entre as maiores quedas do Ibovespa em 2022 num cenário macroeconômico bastante desafiador com alta da inflação e pressão das vendas das categorias de produtos eletrônicos, a Via (VIIA3) fez a lição de casa no primeiro trimestre de 2022 (1T22), apontam analistas de mercado.  Com isso, as ações VIIA3 abriram em alta, chegando a subir 6,69% na máxima do dia. Porém, em meio à visão de um cenário ainda desafiador para o segmento, os papéis amenizaram ainda durante a primeira hora do pregão e fecharam em queda de 2,23%, a R$ 2,63.

A XP destacou que a companhia apresentou um resultado sólido, com destaque para rentabilidade. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado da Via ficou 13% acima do esperado pelos analistas da casa. A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) apresentou uma melhora de 1,4 ponto na base anual, indo para 9,1%, beneficiada com maior controle de despesas de vendas, gerais e administrativas. Já a margem Ebitda ajustada foi de 10,2%.

O lucro líquido de R$ 18 milhões também veio acima das expectativas da XP, explicado por resultados operacionais mais fortes que o esperado e subsídios fiscais, mais que compensando maiores despesas financeiras.

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A rentabilidade também foi o destaque no trimestre para o Itaú BBA, com margem Ebitda acima do esperado com redução de despesas.

O GMV (volume bruto de vendas) online cresceu 4% na base anual, impulsionado pela expansão do marketplace (3P), enquanto as lojas físicas mostraram alguma recuperação no trimestre, mas não suficiente para evitar uma queda de 2% na base anual nas vendas líquidas, para R$ 7,4 bilhões.

A empresa destacou que a recuperação das lojas físicas se intensificou em março, e manteve a tendência de abril, indicando notícias positivas para o 2T22.

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Para o Bradesco BBI, os resultados foram mistos porque, embora a margem Ebitda tenha surpreendido positivamente, o lucro líquido ficou apenas um pouco acima do ponto de equilíbrio e o crescimento do GMV (de 3% em base anual) foi baixo, abaixo do Mercado Libre (alta de 23%) e Americanas (projeção do BBI de avanço de 18% em base anual), em parte devido à maior exposição à categoria de eletrônicos e eletrodomésticos.

Para alcançar a margem Ebitda acima do esperado, o BBI destaca que a Via (assim como outras do segmento) reduziu as despesas operacionais (menor número de lojas) e aumentou as taxas de participação do marketplace. “Dessa forma, achamos que a principal questão que se coloca é até que ponto a Via será capaz de reacelerar o crescimento no final do ano, ou em 2023, mantendo os níveis atuais de rentabilidade do Ebitda”, avaliam os analistas do BBI.

Outra questão que provavelmente afetará a mente dos investidores ao longo do ano, apontam, são os empréstimos inadimplentes. Durante o trimestre, a inadimplência de 90 dias subiu para 9,0% da carteira de 7,9% no 1T21 e 8,7% no 4T21. “Este não é um aumento que vemos como uma luz de alerta, mas será claramente uma métrica importante a ser monitorada até o final do ano”, avaliam. A Via, destacam ainda, avançou em sua promessa de reduzir o capital de giro, com dias de estoque substancialmente reduzidos em relação ao ano anterior.

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Embora os resultados sejam vistos como mistos pelos analistas, eles os veem como marginalmente positivos para a ação, dada o valuation combinado com rentabilidade robusta e sinais iniciais de melhora no capital de giro.

“Dito isso, achamos que há pouco apetite entre os investidores nas condições atuais do mercado para comprar ações de crescimento, de comércio eletrônico, principalmente quando o crescimento é baixo e as taxas de juros são altas, mesmo que as avaliações pareçam deprimidas”, avaliam. Assim, seguem com  recomendação neutra e preço-alvo de R$ 5,00, ainda um potencial significativo de alta de 86% em relação ao fechamento da véspera.

A XP e o Itaú BBA também possuem recomendação equivalente à neutra para os ativos, com o BBA possuindo preço-alvo de R$ 4,70, ou upside de 75%.

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O Morgan Stanley, por sua vez, segue com recomendação underweight (exposição abaixo da média, ou equivalente à venda), “aguardando um cenário de receita mais favorável, juntamente com uma melhoria adicional da margem líquida”. O preço-alvo é de R$ 4, 48,7% acima do fechamento da véspera.

Segundo o Morgan, apesar dos números positivos de despesas gerais e administrativas, os analistas veem um cenário difícil persistindo para as categorias principais da Via, especialmente para a vertical de eletrônicos.

O Goldman Sachs também destaca o Ebitda “surpreendentemente forte”, assim como a alta da margem Ebitda (2,7 pontos percentuais acima do consenso), enquanto a receita ficou 4% abaixo do esperado.

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Ainda assim, o Goldman Sachs manteve recomendação de venda para Via, pois vê um cenário macro desafiador contínuo, bem como um ambiente operacional competitivo para a empresa. “Enquanto reconhecemos o progresso feito na gestão com as despesas, acreditamos que escalar os negócios online, e o GVM do 3P em particular, exigiriam um retorno de um ciclo de investimento mais profundo”, destacam os analistas. O preço-alvo é de R$ 3,70 (upside de 38%).

Assim, conforme aponta o Credit Suisse, o curto prazo deve permanecer desafiador para as empresas de comércio eletrônico no Brasil, dados os desafios impostos pelo ambiente macroeconômico (ou seja, inflação alta, taxas de juros crescentes e taxas de desemprego ainda altas) e as duras comparações do 2T nas principais categorias.

“Apesar de mostrar os primeiros sinais de inflexão em termos de crescimento, os resultados não alteram significativamente nossa visão. Investidores continuam céticos em relação às empresas de consumo, diante das incertezas no caminho quando se trata de taxas de juros não só no Brasil, mas também nos EUA, que afetam os mercados de ações em todo o mundo”, avalia o banco suíço, que também tem recomendação neutra para o papel.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.