Via (VIIA3) faz bom trabalho, mas financeiro segue como peso e debêntures “roubam” cena; ação fecha em alta

Tendências fracas do setor persistiram, apesar do suposto alívio competitivo do início do 1T23, enquanto nova emissão gera preocupação

Lara Rizério

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Os resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) da Via (VIIA3), dona das Casas Bahia e do Ponto, evidenciaram alguns desafios para a companhia, como já era em parte esperado por analistas, ainda que com o enfraquecimento da concorrência com Americanas (AMER3) pudesse beneficiar a varejista.

A sessão desta sexta-feira (5) começou com volatilidade para os ativos, que chegaram a operar entre várias interrupções por conta da variação expressiva: às 10h21 (horário de Brasília), os papéis caíam 5,85%, a R$ 1,77. Porém, os ativos foram amenizando as perdas, chegaram a zerar e, com o movimento mais positivo do Ibovespa, fecharam em alta de 3,72%, a R$ 1,95.

A companhia teve um prejuízo líquido de R$ 297 milhões no primeiro trimestre de 2023, revertendo o lucro de R$ 18 milhões do igual intervalo do ano passado.

Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 675 milhões, praticamente em linha com os R$ 673 milhões de 2022. Na receita líquida, foram R$ 7,3 bilhões, ante R$ 7,6 bilhões do consenso Refinitiv e R$ 7,39 bilhões um ano antes.

“A empresa reportou resultados mistos do 1T23, com crescimento de receita em linha com o esperado, melhora de margem bruta, mas ofuscados pela emissão de R$ 1,1 bilhão em debêntures”, destaca a XP, que manteve recomendação neutra e preço-alvo de R$ 3 por ativo.

Na véspera, a empresa anunciou a aprovação da nona emissão pública de debêntures simples, não conversíveis em ações. “Serão emitidas 1,119 milhão de debêntures, perfazendo o valor total da emissão de R$ 1,119 bilhão na data de emissão (15 de junho de 2023). O valor nominal unitário das debêntures será de R$ 1 mil”. Esses ativos terão prazo de vigência de dois anos.

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“O saldo do valor nominal unitário das debêntures será amortizado trimestralmente, sendo a primeira amortização em 15 de janeiro de 2024 e a última na data de vencimento. Já a remuneração será paga nos dias 15 de setembro de 2023 e 15 de dezembro de 2023, e a partir de 15 de janeiro de 2024 (inclusive) trimestralmente, sempre no dia 15 (quinze) dos meses de janeiro, abril, julho e outubro de cada ano até o dia 15 de abril de 2025 (inclusive), e o último pagamento será devido na data de vencimento”, apontou a empresa.

O Bradesco BBI apontou que a Via divulgou resultados fracos no 1T23, mas em linha com as suas estimativas. O crescimento total do volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) foi morno e não ficou muito longe da sua expectativa: +3% na comparação anual impulsionado pelas lojas físicas (+10,3% na comparação com o 1T22) e marketplace (+25,6% na mesma base de comparação), mas prejudicado por um declínio on-line do canal 1P (vendas diretas) de 14%.

Segundo os analistas da casa, embora a empresa tenha feito um bom trabalho nas margens operacionais (margem bruta ajustada teve crescimento de 1,1 ponto percentual [p.p.] na comparação anual e margem Ebitda ajustada avançou +0,3%), não foi suficiente para compensar as despesas financeiras e o prejuízo líquido chegou a um valor considerável de R$ 297 milhões (em linha com o prejuízo de R$ 290 milhões esperado pelo BBI).

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Os analistas da casa ressaltam que as tendências fracas do setor persistiram ao longo do 1T23, apesar do suposto alívio competitivo do início do 1T23, quando a Americanas entrou com o pedido de recuperação judicial. A Via informou que, apesar de ter visto uma queda de 14% em seus canais 1P (estoque próprio) online, conseguiu ganhar participação diante apesar do ambiente ainda desafiador.

Por outro lado, o aumento da racionalidade dos concorrentes foi um bom sinal para a Via expandir sua margem bruta em conjunto com os esforços da empresa em eficiências e melhoria adicional na qualidade/assertividade do estoque.

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Já em relação ao seu braço financeiro, as principais métricas (inadimplências, provisões, etc.) permaneceram saudáveis, melhorando sequencialmente.

Sobre o fluxo de caixa, o 1T23 costuma ser mais fraco do ponto de vista de geração de caixa e o 1T23 adicionou uma dose maior de ceticismo sobre as práticas de financiamento de fornecedores, o que fez a Via reduzir esses contratos, impactando negativamente o fluxo de caixa em R$ 1,1 bilhão. Na verdade, esse foi o principal entrave no consumo de caixa de R$ 2,6 bilhões do trimestre, avalia.

“Além disso, juntamente com a divulgação da Via no 1T23, a empresa também anunciou uma rolagem de debêntures de R$ 1,1 bilhão que deve trazer algum alívio para os vencimentos de curto prazo”, apontam os analistas do banco.

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Já a XP também aponta que a emissão de debêntures com o prazo de 2 anos, a um custo de CDI + 4%, pode aumentar a preocupação dos investidores quanto a estrutura de capital da companhia, especialmente após o contínuo aumento na antecipação de recebíveis e a redução acelerada de fornecedores convênio; e ii) as taxas de inadimplência permaneceram razoavelmente sob controle, com a perda sob a carteira caindo 0,1 p.p. no trimestre (para 4,5%), enquanto as provisões representaram 11,3% da carteira ativa (-0,1 p.p no trimestre), enquanto as taxas de over 90 caíram 0,5 p.p na base trimestral, mas estáveis no ano.

O BBI também avalia que as despesas consideráveis com juros podem continuar prejudicando significativamente os fluxos de caixa e os resultados nos próximos trimestres. Assim, os analistas do banco projetaram uma reação de neutra a ligeiramente negativa aos números.

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“Os números do 1T23 mostram que o ambiente macro no Brasil continua desafiador para as principais categorias da Via e, apesar de fazer um bom trabalho na melhoria de suas margens operacionais, a combinação de: (i) crescimento morno da receita, (ii) desalavancagem operacional, e (iii) as elevadas despesas com juros podem impactar o fluxo de caixa e os lucros por mais trimestres.”, avaliam os analistas.

No 1T23, o resultado financeiro atingiu 11,2% da receita em um negócio que entrega margem Ebitda de um dígito alto a dois dígitos baixos, se bem operado. “Portanto, mantemos nossa postura mais cautelosa em VIIA3 e mantemos nossa recomendação neutra para os ativos”, avaliam.

Para a Genial, operacionalmente, a Via tem feito um ótimo trabalho para amarrar as pontas e aumentar rentabilidade dentro de casa. Contudo, não tem como não fugir do impacto de uma taxa de juros a 13,75%, o que levou ao prejuízo líquido no trimestre.

Já para o Morgan Stanley, os resultados do 1T23 da Via exibiram menos benefícios com o enfraquecimento da Americanas do que os analistas do banco tinham previsto, com leve alta do GMV total e Ebitda estável. “Com a pressão crescente das despesas financeiras líquidas (-11% da receita), as margens líquidas de -4,0% da Via ficaram abaixo das projeções”, avalia o banco, que seguem com recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.