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Não era pouca a animação que grande parte do mercado tinha com as varejistas no começo deste ano. A perspectiva de início de queda dos juros, aliada à crise de Americanas (AMER3), alçou Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) aos postos de possíveis estrelas da Bolsa em 2023.
Em meio ao inferno astral da histórica concorrente, que entrou em recuperação judicial, em janeiro, Via chegou a bater na máxima do ano, cotada a R$ 2,74, enquanto Magazine Luiza foi aos R$ 4,67 – veja nos gráficos mais abaixo.
Mas todo esse ânimo caiu por terra. Desde esse pico, do começo do ano, VIIA3 derreteu mais de 57% e MGLU3 perdeu 45%.
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No pregão desta terça-feira (12), as ações de Via caíram 0,85%, terminando cotadas a R$ 1,17, ao passo que os papéis de Magazine Luiza subiram 2,75%, a R$ 2,62.
Mas o que, afinal, aconteceu com as companhias?
Por que VIIA3 e MGLU3 não sobem na Bolsa?
Do lado do juros, a crença do mercado no fim de 2022 e no início deste ano era que o recuo das taxas iria estimular o consumo de produtos como móveis, eletrônicos e eletrodomésticos – e, consequentemente, melhorar o balanço das empresas do setor.
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No entanto, apesar de a Selic ter sido derrubada pelo Banco Central, pela primeira vez, em agosto, o mercado, que costuma se antecipar às movimentações, pouco reagiu ao movimento do Copom.
Com Americanas praticamente fora do jogo, estava tudo certo para que Via e Magazine Luiza brilhassem, com o vácuo de mercado deixado. Só que, por enquanto, nada disso aconteceu.
“No contexto geral, existia uma expectativa de que com a saída praticamente do mercado da Americanas, ambos os papéis [VIIA3 e MGLU3] fossem capturar boa parte da participação de mercado. Quando a gente olha o desempenho das duas empresas no início do ano, ele foi positivo, mesmo com a Bolsa sofrendo mais como um todo”, diz Fernando Ferrer, analista da Empiricus.
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“Com o passar do tempo, porém, o que a gente viu foi que quem mais capturou mesmo esse share foi o Mercado Livre”, afirma ele, ressaltando que, apesar de os juros terem caído, as duas companhias não têm trazido resultados positivos.
MGLU3 em 2023
VIIA3 em 2023
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Mercado Livre na frente
A Via, para Ferrer, é uma empresa que nesse momento passa por uma reestruturação e que tem, por agora, uma situação negativa de caixa, isso após uma série de prejuízos em sequência. Magazine Luiza, apesar de uma posição de liquidez mais favorável, não fica muito atrás.
“No caso da primeira, o turnaround que eles estão tentando fazer na companhia não tem dado resultado ainda. Houve também o anúncio de uma nova oferta de ações, de R$ 1 bilhão, podendo chegar a até R$ 1,8 bilhão com os bônus de subscrição, o que acaba gerando uma diluição muito grande para os acionistas”, comenta o analista da Empiricus.
A varejista, junto do seu resultado do segundo trimestre, anunciou o fechamento de até 100 lojas em novo plano de transformação, bem como outras iniciativas como descontinuação de categorias e lançamento de um FIDC do seu serviço de crediário.
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”A Magazine Luiza, por sua vez, está mais sólida quando o assunto é estrutura de capital. Por outro lado, tem apresentado resultados ruins, com dificuldade de rentabilizar suas lojas físicas. Tem uma estrutura muito grande, mas o faturamento não está condizente ao que ela estava projetando, ao que ela gostaria”, diz.
Segundo ele, tendo os problemas operacionais em vista, Mercado Livre acaba sendo o preferido dos investidores que buscam se posicionar no varejo brasileiro. Os BDRs da companhia argentina, para fins de comparação, sobem mais de 50% em 2023.
De quanto será a queda dos juros?
Fora a questão da competição acirrada, a queda dos juros contratada até então pelo Banco Central por enquanto também não anima tanto.
“Do ponto de vista de política monetária, viramos a chave no sentido de deixarmos de discutir quando virá a queda de juros para qual será o tamanho dessa queda”, fala Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
De qualquer forma, acrescenta ele, os efeitos de uma mudança monetária na economia real normalmente se dão cerca de nove meses depois – ou seja, o impacto será sentido apenas em 2024.
Para Arbetman, apesar de o mercado usualmente se antecipar aos resultados futuros, de olho nos ganhos, o fato de haver incertezas quanto até onde o corte irá, bem como com a capacidade operacional das companhias, míngua o fluxo de capital às ações de Via e Magazine Luiza.
Além disso, Lucas Lima, analista da VG Research, expõe que, mesmo com a queda dos juros, as famílias continuam com suas rendas comprometidas e a inadimplência elevada.
“Acreditamos que a demanda, principalmente para bens duráveis, deve voltar apenas no segundo semestre de 2024, quando a taxa de juros tiver em um patamar bem mais baixo que o atual”, diz Lima.
Questão tributária é peso para Via e Magazine Luiza
Os dois analistas, além do mais, citam a questão tributária, que também ameaça as varejistas.
“Todo mundo sabe que o governo precisa arrecadar recursos para fazer frente ao seu desafio fiscal, que não é pequeno. E o varejo está na reta, sendo que o peso pode ser grande. É um setor que historicamente se beneficia muito dos subsídios”, fala Ilan.
“O governo está buscando formas de aumentar a sua arrecadação e as empresas do varejo estão na mira. Atualmente, existe uma medida provisória [a 1185] que trata sobre possíveis novas regras de tributação dos incentivos fiscais de ICMS. Se aprovada da forma que está hoje, pode ocorrer um aumento da tributação nessas empresas e impactar negativamente o resultado líquido. Então fica difícil projetar o lucro de 2024 das varejistas nessas condições de incertezas, algumas empresas podem ser impactadas em até 30% do lucro líquido”, diz Lucas Lima.
Incertezas travam valor de VIIA3, MGLU3 e do setor
Por conta de todas essas questões é que as ações não deslancham. Fora isso, grande parte do mercado também continua reticente com os papéis de ambas.
As ações ordinárias da Via não têm, hoje, nenhuma recomendação de compra, segundo a Eikon, plataforma da Reuters, contando com oito recomendações neutras e quatro de venda.
Os papéis de Magazine Luiza ainda têm três recomendações de compra, mas a maioria dos analistas estão cautelosos, com dez recomendações neutras.
As questões dos juros e de tributação, que assolam as duas varejistas, ligadas mais ao consumo de bens duráveis, também impactam negativamente seus pares.
Companhias como a Lojas Renner (LREN3) e Arezzo (ARZZ3), apesar de constantemente serem elogiadas por analistas por seu operacional, também acumulam quedas em 2023.
No entanto, a percepção para elas, para fins de comparação, é mais positiva.
LREN3 tem nove recomendações de compra, quatro neutras e apenas uma de venda. ARZZ3, por sua vez, tem 10 recomendações de compra e apenas uma neutra.
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