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(MIAMI) – Augusto de la Torre é um dos maiores especialistas em economias latino-americanas. Ele já foi economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, presidente do Banco Central do Equador e representante do FMI (Fundo Monetário Internacional) na Venezuela. Para ele, a Venezuela é um grande exemplo de como o preço dos ativos pode se distanciar dos fundamentos econômicos. “O PIB da Venezuela contraiu 19% no ano passado, mas seus bonds [títulos de dívida externa] se valorizaram 56%. Não tem um economista que acha que a Venezuela vale o retorno que está pagando”, disse ele em palestra na Expert Latin Conference 2017, promovida pela XP Securities em Miami. Leia a seguir os principais trechos da palestra:
O risco protecionista
2016 foi uma surpresa atrás da outra. A América Latina finalmente começou a se recuperar do fim do boom das commodities. Entre os países desenvolvidos, as surpresas foram ainda maiores, com o Brexit e a eleição de Donald Trump. Esses dois eventos foram um sinal de que o capitalismo não está mais funcionando para a classe média. Nos países emergentes, ainda vejo o desejo de globalização. Mas nos países desenvolvidos há muito questionamento porque as economias estão estagnadas. Só que barreiras comerciais não vão resolver nada. Em países inseridos em cadeias globais de comércio é impossível colocar tarifas alfandegárias e não se prejudicar. Um Trump protecionista prejudicaria tanto os EUA tanto quanto os outros. Os EUA poderiam ter uma fase de crescimento baseado em investimentos na infraestrutura, em estímulos econômicos e em barreiras alfandegárias – mas às custas do mundo. Seria uma expansão artificial e não duradoura porque o comércio global entraria em estagnação. As exportações e importações da China caíram em 2016. E isso está prejudicando o comércio global como um todo. A América Latina depende muito do crescimento mundial para crescer, não é um motor de crescimento independente do mundo.
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Venezuela em colapso
É incrível como o preço dos ativos financeiros pode desviar tanto dos fundamentos. O PIB da Venezuela contraiu 19% no ano passado, mas seus bonds [títulos de dívida externa] se valorizaram 56%. Não tem um economista que acha que a Venezuela vale o retorno que está pagando. Acho que em 2017 pode ocorrer um colapso total e a Venezuela caminhar até para uma guerra civil. Fico perplexo com os ganhos no mercado. Mas o mercado tenta surfar os movimentos. Todo mundo tenta dançar enquanto está tocando a música, mas todo mundo sabe que um dia vai parar de tocar.
O Brasil pode se beneficiar no curto prazo
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O Brasil é um bom lugar para se proteger do Trump devido ao comércio global com peso menor na economia. Então no curto prazo pode até ser bom. Agora acho que o Brasil não é tão fundamentalmente são quando Chile e Peru. O Brasil ainda tem muitas reformas por fazer. Tem que controlar o orçamento. Tem muito dinheiro investido no CDI. O Brasil tem muitos desafios, ainda que 2017 possa ser financeiramente muito bom. A economia da América Latina entrou em colapso na década de 80 quando os EUA começaram a aumentar os juros porque as taxas de juros tornaram as dívidas impagáveis. Acho que desta vez não será tão dramático se os juros subirem muito porque a dívida externa está mais sob controle e porque o câmbio é flutuante. Mesmo que tenha uma saída de capital inicial, o câmbio vai se ajustar até que pare de sair capital e comece a voltar. Acho que o efeito do Trump não será macroeconômico, mas pelo comércio.
México pode virar oportunidade
O México está sob a nuvem do Trump. Ninguém sabe quão ruim pode ficar. Podem vir barreiras comerciais. Mas se só mudarem as regras de origem do Nafta [bloco formado por EUA, México e Canadá], o México pode virar um lugar incrível para comprar ativos. Os retornos atuais dos ativos estão muito elevados se o Nafta não for destruído. Um dos grandes mistérios da América Latina é por que a Selic está tão alta no Brasil. Outro mistério é por que o México não cresce. O México foi mal nos últimos 40 anos. Aí você começa a analisar e eles têm câmbio desvalorizado, tem população, tem baixo custo de trabalho, tem acordos comerciais. É a segunda maior economia da América Latina. Não entendo porque não cresce.
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Boom dos EUA seria passageiro
O potencial de crescimento de longo prazo dos EUA é de 2%. Pode crescer 4% num ano se o Trump aumentar muito a infraestrutura, vai demandar, cimento, cobre, ,etc. Mas isso não vai criar um novo mercado de trabalho. Isso é um sonho. O mundo desenvolvido como um todo vai crescer pouco. A classe média vai continuar em dificuldades. Não sei se as pessoas vão ser melhor remuneradas.
Veja a cobertura completa da Expert Latin America Conference 2017
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