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Enquanto há debates sobre se a nova política de preços da Petrobras (PETR3;PETR4) é positiva ou negativa para a estatal (ou apenas se a mudança é menos negativa do que o esperado), analistas destacam que o que se sabe até agora sobre os novos parâmetros para decidir os valores de gasolina e de diesel serão positivos para um setor: o de distribuição de combustíveis.
Neste segmento, destaque para os grandes, como os listados em Bolsa, no caso Raízen (RAIZ4), Ultrapar (UGPA3) e Vibra (VBBR3), esta última valendo destacar que está a voltas com os rumores de que a Petrobras quer recomprá-la, o que também pode impactar as ações.
A nova estratégia comercial utilizará referências de mercado como: o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação; e o valor marginal para a Petrobras. O custo alternativo do cliente considera como principal alternativas de fornecimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou substitutos.
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Já o valor marginal para a Petrobras é baseado no custo de oportunidade, dadas as diversas alternativas para a empresa, como produção, importação e exportação do produto e/ou dos óleos utilizados no processo de refino.
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Os reajustes continuarão a serem feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da variação cíclica da volatilidade dos preços internacionais e da taxa de câmbio, aponta o BBA.
A nova política tem como um dos objetivos reduzir a volatilidade dos preços de combustíveis aos consumidores. Ela tentará atingir isso por meio de um equilíbrio entre alternativas para clientes no mercado, limitadas àquelas que sejam financeiramente viáveis para o negócio da Petrobras. Mas isso não significa que os preços não serão mais reajustados de acordo com o sobe e desce do petróleo nos mercados internacionais. E sim, que esses passarão a ser feitos sem uma periodicidade predefinida, destaca a Rico Investimentos.
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Pontos positivos para o setor
Assim como destacado acima, os novos preços de gasolina e diesel serão formados levando em consideração o custo do cliente, valorizando a perspectiva dos compradores de longa data ou que adquirem um volume maior, o que pode ser positivo para distribuidores, como Ultrapar, Raízen e Vibra, que podem ter acesso a valores mais competitivos.
Além disso, durante teleconferência com analistas, ao falar sobre a estratégia da estatal para ganhar mercado, o CFO da estatal, Sergio Leite, esclareceu que a Petrobras não vai poder diferenciar preços na mesma região devido à regulamentação da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). No entanto, outros aspectos da oferta comercial total podem ser melhor explorados do que são atualmente, como condições de pagamento, prazo de entrega e quantidade disponibilizada.
“Isso, combinado com nossa visão de que o país terá menos importações de players independentes, pode ser marginalmente positivo para os principais distribuidores do país”, avalia a XP.
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O Bradesco BBI também destaca que as distribuidoras podem ser vencedoras neste cenário.
Em primeiro lugar, uma volatilidade de preço muito menor implica em menores flutuações de estoque, menores perdas de hedge e maior volatilidade de margem. Além disso, os players maiores provavelmente podem ter condições de pagamento diferenciadas, o que deve contribuir para o capital de giro e a desalavancagem. O nome preferencial no setor de distribuição de combustíveis do BBI é a Vibra, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 24.
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Por outro lado, o Credit Suisse faz uma ponderação, apontando que pode haver um ponto negativo para elas se a Petrobras priorizar a mitigação da volatilidade dos preços, já que “abriria espaço para importações oportunistas em tempo de queda dos preços internacionais, o que seria negativo para as distribuidoras de combustíveis de marcas maiores”.
Levando isso em conta, os analistas do banco suíço apontam que períodos curtos, mas frequentes, de preço doméstico mais alto são prejudiciais para os distribuidores listados, especialmente em comparação com as importações russas, uma vez que Vibra (detentora da marca BR), Raízen (Shell) se abstiveram dessa fonte de combustíveis.
O Credit também aponta que o anúncio da nova política pode inicialmente aumentar o risco de importação de combustíveis para o Brasil, já que a nova estratégia comercial ainda passará por testes.
“Essa percepção de risco, juntamente com as reduções significativas de preços anunciadas na véspera, devem limitar muito a atratividade das importações russas, e melhorar a competitividade das três distribuidores de combustíveis listadas na Bolsa, (Vibra, Ultrapar e Raízen), que obtêm a maior parte de seu abastecimento de refinarias locais”, apontam.
Os distribuidores sem marca têm menos incentivos a incorrer nos riscos relacionados à importação de combustíveis, deixando as três empresas do setor em uma boa posição para capturar parte desse mercado, já que a maior parte da
indústria voltará a comprar o máximo que puder de Petrobras.
“A estrutura de custos dos postos de gasolina consiste principalmente em custos fixos (energia, imóveis, mão de obra), portanto vendas menores significam forte desalavancagem operacional. Com potencialmente menos importações no mercado, isso significa que garantir o abastecimento de combustível internamente para diluir uma parcela maior dos custos fixos será essencial. Portanto, o fato de os três principais players provavelmente conseguirem obter combustível em
melhores condições também aumentará o valor de suas marcas”, destacou o BTG Pactual sobre o setor.
Cabe ressaltar que, em relatório do início do ano, o BTG havia apontado que “o setor de distribuição” está preparado para anos melhores e que poderia se beneficiar relativamente de uma política mais intervencionista do governo no mercado de petróleo, como aconteceu entre 2013 e 2017, anos classificados pelos analistas como a “era de ouro” para o setor de distribuição.
O início da última década ofereceu aos incumbentes da distribuição de combustível vantagens competitivas muito relevantes que lhes permitiram surfar altos retornos, apontou o banco. Foram elas: (i) abastecimento seguro e estável de combustível da Petrobras, com ofertas limitadas de fontes alternativas, como importações; (ii) concentração de mercado com mais de 70% de market share e infraestrutura que colocam grandes players em posição favorável em termos de escala; (iii) maior valor da marca; e (iv) uma demanda crescente de combustíveis que limitava a disputa por participação de mercado.
“Mesmo a Vibra, então estatal [então BR Distribuidora], apresentou ROIC [Retorno sobre o Capital Investido] médio antes dos impostos de 17% no período”, apontou. Assim, apesar de ainda muitas incertezas no cenário, os analistas destacaram que a história poderia trazer de volta alguns dos diferenciais setoriais de 2013-2017 que suportaram os retornos dos grandes operadores do setor.