Minério em queda livre, duplo rebaixamento: o que fez a ação da Vale cair 2% apesar do super dividendo de R$ 8,10

Mais analistas têm aumentado cautela com a ação em meio à forte baixa do minério, ainda que boa parte deles siga otimista com ativo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio à forte queda recente das ações (de 26,5% desde quando atingiu a máxima de fechamento de R$ 117,30 em 28 de julho) com a derrocada do minério de ferro, analistas destacavam que o pagamento de dividendos extraordinários seria o grande catalisador para as ações da Vale (VALE3).

O grande dia chegou: na noite da última quinta-feira (16), a companhia aprovou a distribuição de R$ 40,2 bilhões em dividendos aos seus acionistas. O valor corresponde a expressivos R$ 8,108316476 por ação.

Considerando o valor de fechamento dos papéis ordinários VALE3 na quinta, o provento tem um dividend yield, métrica obtida pela divisão do valor do dividendo pelo preço da ação, de 9,22%.

Ainda que os analistas esperassem um valor expressivo de dividendos devido à forte geração de caixa da companhia e baixa alavancagem, os valores surpreenderam.

A tranche de dividendos extraordinários veio acima do esperado. Thiago Lofiego, analista do Bradesco BBI, destacou ainda ver espaço para uma remuneração adicional de US$ 3 bilhões a ser anunciada nos próximos três trimestres.

“Estava dentro de nossas expectativas que a Vale distribuiria outro dividendo extraordinário no segundo semestre, dadas as condições de mercado e baixa alavancagem. Observamos, no entanto, que esperávamos que a Vale pagasse US$ 6,8 bilhões agora em setembro (mínimo de US$ 5,3 bilhões mais US$ 1,5 bilhão extraordinários), seguido por outro dividendo extraordinário de US$ 1,5 bilhão no quarto trimestre de 2021. Dessa forma, a empresa superou nossas expectativas no valor de dividendos extraordinários para a tranche de setembro, enquanto outro dividendo extraordinário até o final do ano não está descartado, em nossa opinião, condicionado à relativa estabilização dos preços do minério de ferro”, avalia a equipe de análise.

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A questão para o ânimo não ter sido tão grande foi justamente essa, a queda do minério de ferro. Mesmo com a notícia positiva para a ação com os dividendos, os papéis chegaram a cair 3,2% na mínima do dia, fechando em baixa de 2,02% (R$ 86,15) em um cenário de derrocada para a commodity. A baixa vem surpreendendo pela velocidade e impactando as ações, assim como a alta do minério até maio levou os papéis da Vale para as máximas históricas.

As medidas da China para despoluir o setor industrial provocam uma queda vertiginosa do minério de ferro, perto de atingir menos de US$ 100 a tonelada. Os futuros da commodity se desvalorizaram mais de 50% desde o pico em maio diante das restrições ao aço na China, maior produtora mundial, para cumprir a meta de volumes mais baixos este ano. O desaquecimento do setor imobiliário chinês também afeta a demanda.

Assim, o minério de ferro se destaca como uma das commodities com pior desempenho e uma exceção em meio ao “boom” das matérias-primas.

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A onda vendedora no mercado de minério de ferro impulsionou a volatilidade para o maior nível em cinco anos.

Os estoques nos portos estão 10% acima do nível no ano anterior, e expectativas de redução da demanda chinesa coincidem com previsões de aumento da oferta global.

Desta forma, analistas do banco suíço UBS cortaram “duplamente” a recomendação para os ADRs (American Depositary Receipts ou, na prática, as ações das companhias negociadas na Bolsa de Nova York) da Vale de compra para venda, estimando que um excedente de minério de ferro de cerca de 150 milhões de toneladas está crescendo rapidamente em 2022. O preço-alvo passou de US$ 22 para US$ 15, ou uma projeção de queda de 10% em relação ao fechamento da véspera.

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Eles citam que esse excedente está aumentando, entre outros fatores, conforme as restrições à produção de aço da China pesam sobre a demanda de minério de ferro e a oferta global da commodity continua aumentando.

Nesse cenário, eles reduziram suas projeções para os preços do minério de ferro em 10% para 2021, para US$ 163 por tonelada, em 12% para 2022, para US$ 89 por tonelada, e em 6% para 2023, para US$ 80 por tonelada, considerando que a produção de aço chinesa se estabilize em torno de 1,07 bilhão e o fornecimento de minério de ferro continua aumentando.

Para Andreas Bokkenheuser e equipe, a história dos dividendos da Vale se torna muito menos atraente com o minério de ferro abaixo de US$ 100 por tonelada.

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O UBS também cortou suas previsões para os lucros e o lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da mineradora no período.

Além disso, a inflação no preço do frete dificulta os esforços da companhia de reduzir custos, somando-se à queda na demanda por minério de ferro premium, de alta qualidade, no mercado chinês.

João Lorenzi, analista de commodities na Encore Asset, destacou também em entrevista para o Radar InfoMoney (veja a entrevista completa no vídeo acima) que a queda recente do minério foi surpreendente, e muito decorrente da desaceleração do mercado imobiliário na China. O setor consome aço que, por sua vez, é produzido a partir do minério de ferro.

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“Não estou positivo para o minério de ferro, com a commodity podendo ficar em algum momento até abaixo do preço considerado de equilíbrio por conta do momentum ruim”, avalia. Para o analista, para quem estiver de olho em investir no papel em meio a essa recente queda, pode valer esperar para entrar na ação, uma vez que o minério deve cair um pouco mais e ainda impactar o papel para baixo. Assim, pode haver um ponto de entrada melhor mais à frente.

Outras casas, por sua vez, reiteraram a tese de investimentos na companhias. Os analistas do BBI reiteram recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a Vale, com preço-alvo de US$ 26 para o ADR.

A XP também reforçou a recomendação de compra (com preço-alvo de R$ 122 por ação) com base na combinação de forte geração de caixa e valuation atrativo, mesmo num cenário de realização nas cotações do minério de ferro.

Já o Itaú BBA lembrou que a ação vem sofrendo bastante nos últimos dias com a queda do preço do minério de ferro, sendo que o pagamento de dividendos era um catalisador bastante esperado pelos investidores. Porém, também condicionaram uma eventual recuperação da ação a uma normalização da cotação da commodity: “Acreditamos que uma estabilidade nos preços do minério de ferro, mesmo em patamares mais perto de US$ 100 a tonelada, ajudariam na recuperação do preço da ação”, apontaram.

Ou seja, ainda que a companhia traga boas notícias, o cenário incerto para o minério de ferro deve seguir guiando o rumo das ações – fazendo com que aumente o número de céticos com a ação apesar dos bons anúncios feitos pela companhia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.